Frederico* não esconde incômodo com os seios marcando as roupas. Ele aguarda por uma mastectomia masculinizadora, um procedimento considerado menos complexo do que as modificações genitais. A expectativa é grande para poder finalmente tirar a camiseta e não ser alvo de olhares preconceituosos.

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A jornada do jovem, hoje com 26 anos, começou em 2016 e desde então ele já precisou preencher os documentos do encaminhamento duas vezes, pois da primeira houve falha. A última foi em agosto do ano passado. 

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Mas não bastasse a espera da cirurgia, Frederico se viu diante de outra barreira. Ele refez os documentos com o novo nome e, quando chegou ao posto de saúde para fazer o exame preventivo Papanicolau, a atendente disse que não seria possível, pois não teriam como cadastrá-lo na hora de enviar o material para o laboratório.

Para piorar, ao refazer a carteira do SUS, o nome de registro da infância voltou a figurar no documento como apelido. 

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— Os retornos das consultas também são terríveis, pois eles pedem exames, você faz, mas a consulta é meses e meses depois. Isso está assim depois que veio a pandemia e continuou — cita ainda.

A importância dos ambulatórios trans

O relato de Frederico vai ao encontro da análise do médico Marcello Lucena. Ele cita que os ambulatórios trans devem ser um serviço complementar aos postos de saúde. Mas enquanto o serviço na ponta ainda não está completamente preparado para receber pessoas trans, os ambulatórios se tornam fundamentais. Avançar nesse ponto, na leitura do coordenador, passa por formação e por incluir a saúde dessa população nos temas abordados dentro das graduações.

— Enquanto não se consegue garantir que todos os profissionais façam esse atendimento, serviços específicos são necessários. E aí entra o ambulatório trans — pontua Lucena.

Quais são os procedimentos transexualizadores previstos pelo SUS no Brasil

A advogada especialista na área de direito LGBTQIAPN+ Alethéa Diniz revela as principais demandas pelas quais é procurada. As informações apontadas por ela ela escancaram os obstáculos encontrados pela população trans: 

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— A demanda maior no meu cotidiano são casos de transfobia, principalmente na utilização do nome morto ou a negativa da utilização do nome social ou do nome retificado por pessoas físicas e jurídicas, causando ainda mais constrangimentos e danos psicológicos à comunidade trans. Há também uma grande busca sobre a questão de como ter acesso às cirurgias do processo transexualizador, tanto pelo SUS quanto por serviços de saúde suplementar, sejam eles seguros, convênios ou planos de saúde.

E ela frisa: 

— Os direitos negados são constitucionais, como Direito à Dignidade da Pessoa Humana (art. 1º, III), Direito à Vida ( art. 5º) e Direito à Saúde (art. 196°), todos da Constituição Federal de 1988.

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