O Centro de Angelina, na Grande Florianópolis, perdeu este mês um dos imóveis mais famosos da região. O Casarão Koerich estava de pé desde 1903, mas dificuldades com a manutenção levaram o proprietário, Gilberto Koerich, a derrubar o imóvel na noite de 8 de abril. O Ministério Público (MP) critica a ação e diz que a demolição foi feita na surdina para fugir da Justiça, mas o dono assegura que agiu de acordo com a lei.
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O imóvel foi construído no começo do século passado por Manoel Lino Koerich, comerciante filho de alemães que dá nome à rua onde se localizam o casarão e a prefeitura de Angelina. O prédio funcionou durante anos como armazém, tornando-se um ponto de referência na cidade. Após a morte do patriarca, a propriedade passou às mãos da nora Otília Koerich, que morou no local até falecer, há seis anos.

Imagem de 1921 mostra casarão praticamente sem vizinhos. Foto: Reprodução
Gilberto Koerich, dono de um comércio na cidade e neto de Otília, conta que a casa ficou abandonada após a morte da avó. Durante pelo menos seis meses, tentou-se sem sucesso vender o imóvel a terceiros, enquanto a casa permanecia fechada e sem uso. Gilberto entrou em contato com os parentes e comprou o imóvel no fim do ano passado.
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– Ninguém cuidou da casa depois da morte da minha vó, a estrutura estava ruindo e eu precisava botá-la abaixo. Ainda não sabemos o que fazer no terreno, mas as economias de minha vida estão investidas ali – defende-se.

No começo da semana, terreno já estava limpo e entulhos haviam sido retirados do local. Proprietário ainda não está certo do que vai construir. Foto: Charles Guerra/Agência RBS
Embora o prédio não fosse tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o MP afirma que um inventário feito entre 2006 e 2007 já seria o suficiente para impedir a demolição.
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A promotora Cristina Thomé diz que o MP estava a par das intenções de derrubar o casarão e buscava ações legais para prevenir o ato. Em 9 de abril, um pedido de apuração dos fatos foi publicado no Diário Oficial Eletrônico do MP, mas não chegou a dar resultados: o casarão havia sido destruído por volta das 20h da noite anterior.
Prefeitura emitiu alvará de demolição
Gilberto Koerich sustenta que agiu dentro da legalidade, tendo inclusive contratado um engenheiro e conseguido um alvará de demolição da prefeitura em 8 de abril, data da demolição. Ele diz que a casa foi demolida à noite para evitar o horário de pico. Além disso, um vizinho teria usado uma escavadeira naquela tarde e ele aproveitou a chance de poupar tempo ou alugar uma máquina por conta própria.

Foto: Luiz Gonzaga de Bastos/Arquivo pessoal
Para o Ministério Público, entretanto, a permissão da prefeitura aumenta ainda mais o imbróglio – tanto que o poder municipal de Angelina foi incluído na ação civil, junto com Koerich e a esposa.
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– A situação estava caminhando na direção do tombamento. Agora vamos buscar algum tipo de retorno à sociedade – ressalta a promotora.
O secretário de Administração e Finanças da prefeitura, José Valmir Schmitt, discorda da promotoria e diz que o inventário não era o suficiente para justificar uma proibição.
– Uma coisa é tombamento, outra é inventário. A prefeitura não tinha como impedir que um proprietário fizesse aquilo que está dentro da lei. O interesse do poder público é a preservação, mas é necessário agir dentro dos meios corretos.
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