Especialista em marketing e planejamento, Marcus Vinícius Anflor, 53 anos, abriu mão do cargo executivo em uma empresa pública de energia em troca de mais qualidade de vida – mesmo que isso significasse alguma redução nos rendimentos. Meses depois do desligamento, prestando consultorias em diversas partes do país tendo como base um escritório montado em casa, na zona sul de Porto Alegre, Anflor comemora os efeitos positivos da decisão, percebidos a olhos vistos por familiares e amigos.
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– As pessoas me perguntam o que houve comigo para eu estar tão bem, eu digo: demiti o patrão porque estava adoecendo – conta.
Há 10 anos na empresa, Anflor alternou momentos de realização pessoal e de insatisfação com reestruturações gerenciais. Pôde implementar projetos em sua área de atuação, mas depois acabou desanimado com novos rumos que a empresa tomou. Checkups periódicos revelaram que sua saúde estava se deteriorando nos últimos anos.
– Eu estava obeso, deprimido e pré-diabético – resume.
O quadro descrito pelo executivo é o típico resultado de uma busca por preencher um vazio existencial com elementos de satisfação momentânea, conforme o psicólogo Michel Zanchet, do Kurotel – Centro de Longevidade e Spa. Chocolate, café, bebida alcoólica e cigarro são alguns recursos frequentes, que levam justamente ao sobrepeso, à insatisfação com a aparência e outros problemas físicos e emocionais.
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– Toda situação que não dá prazer cria um vazio existencial e os preenchimentos inadequados desses vazios colocam em desequilíbrio outras áreas da vida, como as relações sociais e familiares, a alimentação e a saúde – explica Zanchet.
Nesse sentido, diz o psicólogo, ter uma atividade profissional prazerosa é um elemento essencial para se viver mais e melhor. Nelson Bitencourt, diretor de qualidade de vida da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-RS), concorda:
– Quando a pessoa faz o que gosta, releva se o líder não é como ela gostaria, se a equipe não é tão integrada quanto poderia, se tem que ficar algumas horas a mais, porque está trocando seus dias de trabalho por desenvolvimento e prazer, não só por dinheiro.
Para Bitencourt, o bem-estar profissional é pessoal, depende muito mais da atitude de cada um do que de qualquer iniciativa da empresa.
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– Isso explica por que nas situações mais confortáveis há gente mal-humorada, enquanto nas mais adversas outros estão dando risada – conclui.