A Associação Nacional de Delegados de Polícia Federal (ADPF) informou que a categoria se sente ameaçada por declarações do novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, que revelariam uma intenção de “enfraquecer” a Operação Lava-Jato.

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Em entrevista coletiva na última quinta-feira, Aragão disse que apuraria “vazamentos seletivos” das investigações.

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— Não vamos admitir de jeito nenhum falta de profissionalismo. Investigações devem ser feitas com maior respeito à presunção de inocência — declarou.

Neste sábado, ao jornal Folha de S.Paulo, o ministro avisou que, quando for detectado vazamento em uma investigação, a equipe responsável será trocada. Além disso, afirmou que delações premiadas da Lava-Jato têm sido obtidas por meio de “extorsão”. Segundo ele, as declarações não têm sido dadas voluntariamente, mas porque os colaboradores estão presos.

Para a vice-presidente da ADPF, Tânia Prado, as falas são motivo de preocupação.

— Não está correto. Não vamos aceitar interferências nas investigações, nem no funcionamento da Polícia Federal. O ministro é chefe administrativo da PF, mas não pode desrespeitar o que está previsto em lei (a autonomia investigativa)”, disse.

A PF é subordinada ao Ministério da Justiça, mas, segundo a legislação brasileira, tem autonomia para operar.

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Já a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) afirmou, em nota, que as declarações do ministro são “compreensíveis”. O presidente da entidade, Luís Boudens, disse esperar “que o foco de Aragão seja o de equilibrar os ânimos internos”.

O presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), José Robalinho Cavalcanti, também criticou o ministro e disse ser “incabível” falar em extorsão. Segundo ele, mais de 90% dos colaboradores estavam soltos, enquanto os que estavam presos preventivamente “contrataram as defesas mais competentes do Brasil”.

— As delações mais importantes foram feitas perante o Supremo, mas, mesmo em primeira instância, tiveram total rigor técnico. Nenhuma foi revertida nem teve apontada qualquer irregularidade. Foi uma declaração meramente política, com todo o respeito que temos ao ministro — disse. — Ele está politizando uma discussão técnica, que não procede em relação à Lava-Jato.

Cavalcanti também defendeu que não houve vazamentos das investigações, mas divulgação dentro da legalidade.

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— Quando o sigilo é liberado pelo juiz competente, trata-se de um processo público. Essa confusão tem sido feita inclusive pela presidente da República — criticou.

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