As condições na carceragem da 2ª DP de São José, na Grande Florianópolis, continuam insustentáveis, de acordo com a Polícia Civil e os 14 presos temporários mantidos em uma das duas celas com capacidade para quatro pessoas.

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Ontem, o titular da 2ª DP, Manoel Teixeira Galeno, encaminhou ao Fórum da cidade um pedido para desativação da carceragem da delegacia. De acordo com o delegado Galeno há superlotação, ausência de agentes prisionais para cuidar dos encarcerados, ambiente insalubre, adolescente mantido na segunda cela e falta de comida.

– Já tirei dinheiro do meu bolso para comprar pão para os presos – contou o delegado.

O delegado Galeno não é o único a fazer isso. Um delegado de Florianópolis disse ter pagado com dinheiro próprio lanche para presos do Norte da Ilha porque o Departamento de Administração Prisional (Deap) não havia levado as refeições.

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Sem comida todos os dias, sem sol, vivendo em uma cela apertada para tanta gente, com um vaso sanitário imundo no chão da cela e sem ventilação adequada, os 14 detentos da 2ª DP estão revoltados e ameaçaram matar o próximo preso que for colocado na cela junto deles. Entre os presos, tem gente detida por assalto, tráfico de drogas e com homicídio na ficha policial. Ontem à tarde, mais oito detentos foram encaminhados para a carceragem da 2ª DP.

– Não posso correr o risco de colocá-los na mesma cela, não tem condições. Vou dar um jeito – disse o delegado.

As condições precárias da carceragem e a falta de alimentação motivaram a abertura de procedimento investigativo por parte do Ministério Público do Estado de Santa Catarina (MPSC). A investigação tem como base as denúncias dos 14 presos, relatadas à reportagem e publicadas na edição de quarta-feira do DC. O promotor Fabiano Garcia, do MPSC em São José, deu um prazo de três dias à Vigilância Sanitária do município para a realização de uma vistoria nas celas.

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– O caso é grave, por isso pedi urgência. Inclusive ligarei para a delegacia no fim de semana que vem para saber se levaram a comida. Pedi também todos os exames de corpo de delito dos presos para verificar a situação do detento que está ferido e disse que está sem assistência médica. O Estado tem obrigação de colocar as pessoas em um lugar decente. Se os presos ficam em um local desumano, o lado violento só agrava – observou o promotor Garcia.

O ofício enviado pelo MPSC na terça-feira foi recebido nesta quinta, quando o prazo para a vistoria começou a contar. A visita deve ser feita por uma equipe com membros da Vigilância Sanitária e da Vigilância Epidemiológica do município.

MPSC também questionou falta de alimentação para presos

O MPSC já havia enviado ofício ao diretor do Departamento de Administração Prisional (Deap), Leandro Lima, ao delegado Galeno e ao diretor da Polícia Civil da Grande Florianópolis, Ilson Silva, para informarem os motivos da falta de alimentação para os presos. O promotor observou que a responsabilidade pela comida dos encarcerados é do Deap, órgão subordinado a Secretaria de Justiça e Cidadania (SJC). O diretor do Deap, Leandro Lima negou.

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– Preso só é responsabilidade do Deap quando entra no sistema prisional. Mesmo assim, fornecemos alimentação quando solicitado pela delegacia – disse Lima.

O delegado Ilson Silva também disse que os presos são responsabilidade do Deap. Ele falou que, a partir do momento em que os autos são lavrados na delegacia, e que o juiz e o MPSC são comunicados, o preso passa a ser responsabilidade do sistema prisional, ou seja, da SJC. Silva falou que celas em delegacias servem para manter o preso durante este processo e no período noturno, quando o sistema não pode recebê-los.

– O Deap deve fornecer a alimentação, mas alega que não tem funcionário para levar as marmitas às delegacias. Nós é que temos que buscar. É um absurdo – contou o diretor regional.

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Outro problema é que, segundo a polícia, a SJC retirou todos os agentes prisionais das delegacias com carceragem e substituíram por monitores, desarmados, que são responsáveis por adolescentes infratores. Eram os agentes que levavam a comida.

– A Polícia Civil é judiciária e não carcerária. O sistema prisional está sem vagas e as celas das delegacias ficam superlotadas. É um problema porque não temos segurança nem estrutura. É inseguro para os policiais e para as pessoas que precisam registrar alguma ocorrência. Imagina uma fuga em massa? – disse o delegado Silva.

Contraponto

O que disse a Secretaria de Justiça e Cidadania

A assessoria de imprensa da Secretaria de Justiça e Cidadania informou que os agentes prisionais saíram das delegacias por determinação legal. A respeito da comida que não chega, a SJC garantiu que, se a delegacia fizer a solicitação e informar o número de presos, o alimento será fornecido pelo Deap. E reiterou que os detentos em delegacias só passam a ser de responsabilidade do Deap quando entram no sistema prisional.

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