Dez dias depois de efetuar a prisão temporária (prazo de 30 dias) de dois suspeitos de participação na chacina de Canasvieiras, em que cinco pessoas – quatro delas da mesma família – foram mortas por asfixia dentro do apart-hotel Venice Beach, a Delegacia de Homicídios de Florianópolis descarta tipificar o crime como latrocínio. A possibilidade de enquadrar o caso em roubo seguido de morte, já que três carros da família Gaspar Lemos foram roubados, surgiu nos bastidores da investigação pelo fato de um dos veículos ainda não ter sido localizado. O delegado Ênio de Oliveira Mattos, titular da especializada na Capital, porém, garante que tipificará os crimes como homicídio doloso, ainda sem detalhes sobre eventuais qualificadoras.

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— Latrocínio está completamente descartado. É (motivação) vingança por dívida e ameaças contra o rapaz que estava cobrando uma dívida de R$ 47 mil do Leandro (Gaspar Lemos, caçula da família) — explica o delegado.

Mattos evita estipular um prazo para encaminhar o inquérito ao Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), onde o promotor Andrey Cunha Amorim, da 37ª Promotoria, será responsável por oferecer ou não denúncia criminal, além de definir o tipo penal em que o crime será enquadrado. Segundo o delegado, além das buscas ao terceiro suspeito de participação na chacina, a investigação concentra-se em obter detalhes do crime que também possam servir de provas para robustecer o inquérito a ser encaminhado ao MP.

Suspeito que confessou ter planejado o crime é de Belém do Pará

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O suspeito preso em Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai, preferiu manter-se em silêncio ao ser interrogado pelo delegado Mattos. Ele tem 21 anos, é natural de Florianópolis, e trabalhava como vendedor ambulante na praia de Canasvieiras. Em outubro do ano passado, abriu uma empresa com capital social de R$ 10 mil e atividades de “comércio de bebidas e serviços ambulantes de alimentação”. Na ocasião, o rapaz se inscreveu para trabalhar como ambulante cadastrado pela prefeitura da Capital na areia de Canas no verão, mas não obteve licença.

De passagens policiais antes da chacina, o suspeito de 21 anos tem apenas dois termos circunstanciados (TCs) por porte de pequena quantidade de maconha para uso pessoal. As duas ocorrências foram registradas no norte da Ilha, uma delas poucos dias antes da chacina. Em ambos os TCs, o Ministério Público decidiu por considerar a “inexistência de crime”, já que as porções da droga com o rapaz eram “insignificantes”. A reportagem procura, desde a semana passada, eventuais advogados ou defensor público do suspeito.

Já o outro suspeito preso no bairro Potecas, em São José, que segundo o delegado Mattos foi quem planejou o crime, é natural de Belém (Pará) e tem 22 anos. Ele trabalhava para Leandro Gaspar Lemos, o Magal, como serviços gerais, ou seja, fazia de tudo um pouco. Desses trabalhos, teria nascido a dívida de R$ 47 mil. Nas vezes em que foi cobrá-la, o suspeito teria sido ameaçado por Magal, o que fez com que planejasse o crime inspirado em um filme. A reportagem ainda não localizou eventuais advogados ou defensor público do suspeito.

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— Ainda estão faltando umas diligências para encerrarmos esse caso. Precisamos encontrar o terceiro suspeito também. Depois, podemos pedir a prorrogação da temporária ou a conversão em preventiva (sem prazo) — conclui o delegado Mattos.

Entenda o caso

Cinco pessoas foram assassinadas dentro do apart-hotel Venice Beach, na rua Doutor José Bahia Bittencourt, há 100 metros do mar de Canasvieiras, quase a meia-noite de 5 de julho. O caso veio à tona nas primeiras horas do dia seguinte. Foram mortos por asfixia Paulo Gaspar Lemos, 77 anos, Paulo Gaspar Lemos Junior, 51, Kátia Gaspar Lemos, 50, Leandro Gaspar Lemos, 44, e Ricardo Lora, 39 anos. Segundo a polícia, os assassinos, três homens que entraram no hotel por volta de 16h permaneceram no local até perto da meia-noite, depois de submeterem as vítimas a intensa tortura psicológica.