A Polícia Civil afastou por 60 dias de suas funções o delegado Jorge Giraldi e o agente Jaques Douglas de Oliveira depois que eles se tornaram réus no processo que investiga a morte de Ivonete Mezari Genuíno em 23 de fevereiro de 2012, em Balneário Arroio do Silva, no Litoral Sul de Santa Catarina. A vítima era ex-companheira do delegado e teve uma filha com ele. A criança estava no carro onde Ivonete foi encontrada morta, mas sem ferimentos.

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Os dois policiais atuavam em Araranguá. A portaria que determinou os afastamentos foi publicada no Diário Oficial do Estado de terça-feira e foi assinada pelo delegado-geral do Estado, Artur Nitz. O texto leva em consideração o Estatuto da Polícia Civil, que estabelece o afastamento do policial até a decisão transitar em julgado diante de crime inafiançável ou em decorrência de “natureza hedionda do delito a provocar clamor público”. A portaria diz ainda que eles terão os vencimentos reduzidos em um terço.

Jorge e Jaques se tornaram réus no dia 14 de dezembro de 2016, quando a Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público contra eles. Ao mesmo tempo, o juiz negou a prisão preventiva da dupla, mas estabeleceu medidas cautelares. Eles precisam manter distância mínima de 100 metros de duas testemunhas do caso, além de ficarem afastados 90 dias da comarca de Araranguá. No entanto, o delegado-geral preferiu afastá-los totalmente das funções temporariamente.

Segundo o MP na denúncia enviada à Justiça, Jorge pressionou para que Ivonete realizasse aborto da filha e esteve muito próximo ao local do crime no momento em que a vítima foi morta. O promotor anexou ao processo mensagens telefônicas e localizações para fundamentar suas alegações.

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O caso estava há quatro anos parado até que, no ano passado, a promotoria reabriu a investigação. Policiais civis foram deslocados de outras cidades do Estado e até mesmo da Capital para ajudar na investigação na época do crime, mas não houve solução.

Segundo o MP, o tempo sem respostas “se deve à interferência do denunciado Jorge na investigação, além de ter, a principal testemunha, mudado residência para Comarca distante no Estado do Rio Grande do Sul, o que indica o temor desta em relação ao mesmo”.

A partir de agora, dentro do processo, os advogados devem apresentar defesa prévia. Na sequência, deve ocorrer a audiência de instrução e julgamento, que precede a decisão do juiz de determinar ou não o júri popular dos acusados.

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Contraponto

O advogado de Jorge, Gian Carlos Goetten Setter, disse na manhã desta quarta-feira que, em relação ao afastamento do delegado das funções, pretende conversar com o cliente dele antes de qualquer definição. Sobre a morte de Ivonete, Setter diz que o processo está iniciando agora e que Jorge nega envolvimento no crime:

— Ainda é muito prematuro. Num processo de júri, muita coisa pode acontecer. Nesse momento, temos a análise de provas técnicas e questões processuais. Se mesmo diante das provas não for possível que não seja feito o júri, ele está tranquilo para isso.

O advogado diz que a possível interferência do delegado na apuração do assassinato é “falácia”, e nega a possibilidade de Jorge ter pedido para que a ex-companheira abortasse porque “ele tem quatro filhos e sempre foi zeloso”.

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André Teobaldo Borba Alves, que defende Jaques, desconhecia o afastamento do agente, mas disse que certamente pretende tomar uma medida administrativa porque, segundo ele, não há razão para a atitude tomada pela delegacia-geral.

Sobre o crime, Alves diz que seu cliente nega veementemente envolvimento na morte da ex-companheira do delegado:

— É um sujeito que tem mais de 25 anos de polícia, extensa folha de serviços prestados e jamais se envolveu em qualquer tipo de problema administrativo. Ele nega e temos certeza que vamos comprovar inocência. A estratégia inicial é realmente de evitar o júri, comprovar que não há participação alguma dele nesse crime.

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