Hervé Falciani, o homem que delatou mais de 100 mil contas sob suspeita do banco HSBC na Suíça, acredita que novos nomes ligados ao esquema de corrupção da Petrobras ainda vão vir a público.

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– O certo é que o Brasil apenas começa a conhecer a dimensão desse assunto e, com a Petrobras, é uma bela oportunidade de colocar o dedo onde faz mal – disse.

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Falciani, que passou a colaborar com a Justiça francesa e conheceu como poucos as relações entre o HSBC e dezenas de casos de corrupção, vê as investigações da Operação Lava-Jato como um divisor de águas. Nas investigações conduzidas pelo Ministério Público da Suíça, uma série de contas no banco foram identificadas em nome de ex-diretores da Petrobras e milhões de dólares foram bloqueados.

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Sem poder entrar na Suíça, sob risco de ser detido por acusações de roubo qualificado e quebra de sigilo bancário, Falciani concedeu uma coletiva de imprensa nesta quarta-feira na pequena cidade francesa de Divonne, na fronteira com a Suíça e a poucos quilômetros do primeiro posto de polícia.

Questionado por jornalistas brasileiros se novos nomes relacionados à Lava-Jato vão aparecer, o delator confirmou e foi além.

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– Mais que novos nomes, vamos entender os mecanismos usados e teremos a oportunidade para entender e prevenir os futuros escândalos – disse.

Para Falciani, o cidadão comum está “longe de conhecer o que se passa no caso da Petrobras e HSBC”.

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– Temos como agir. Graças ao contexto que existe no Brasil, temos muito a fazer.

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Colaboração

No Brasil, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi instaurada para investigar o escândalo envolvendo o HSBC e correntistas brasileiros. Em agosto, o francês foi a última testemunha ouvida pelos senadores por meio de um teleconferência.

Falciani disse aos parlamentares que o número de brasileiros com contas na filial do banco ultrapassa muito os 8,7 mil que se conhece até o momento. Na ocasião, ele se disse disposto a compartilhar seu banco de dados com os parlamentares e a colaborar nas investigações. Ainda assim, os senadores não ficaram convencidos.

O vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), chegou a acusar parte dos membros da CPI de tentarem “enterrar” as investigações.

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– Existe uma pressão do poder econômico sobre os membros da CPI e existe um esvaziamento proposital da CPI – disse o senador.

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Falciani ainda não repassou seus dados à Justiça brasileira e, na França, a colaboração com o Ministério Público do Brasil não vingou.

– Todos os meios administrativos e judiciais estão sendo explorados e vamos ver como podemos ajudar. Se não pudermos colaborar por meio da França, faremos pela Espanha ou outro país – disse.

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O francês evita criticar investigadores ou mesmo as autoridades suíças, que o consideram um ladrão de dados sigilosos. Falciani afirmou que tenta tirar proveito da imagem negativa que bancos e governos tentam passar dele.

*Estadão Conteúdo