Se os partidos políticos já haviam dado os primeiros movimentos para as eleições de 2018 em Santa Catarina, a revelação do conteúdo das delações dos ex-executivos da Odebrecht coloca novamente a bola no centro do campo. A presença de nomes catarinenses na lista que inquéritos e petições enche de cautela até mesmo lideranças das legendas que não tiveram citações.
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Embora ainda não haja investigação formal autorizada sobre o governador Raimundo Colombo, o PSD é o mais atingido pelo conteúdo das delações. Sob liderança do deputado estadual Gelson Merisio, o partido vinha se movimentando com força visando a construção da candidatura própria ao governo estadual e encerramento da aliança com o PMDB. O projeto tinha o parlamentar como ponta-de-lança e a gestos vinham desde a eleição municipal, quando os pessedistas priorizaram o enfrentamento com o PMDB nos principais municípios do Estado.
Após a disputa, continuaram os acenos a possíveis aliados como PP e PSB, além da realização de eventos para reforçar o nome de Merisio como pré-candidato. Nesse projeto, Colombo concorreria ao Senado — renunciando ao governo em abril do ano que vem. Na estratégia pessedista, o vice-governador Eduardo Pinho Moreira (PMDB) assumiria o governo e o partido deixaria cargos que ocupa, marcando o rompimento da aliança.
As denúncias dos delatores Fernando Reis e Paulo Welzel, ex-diretores da Odebrecht Ambiental, de que Colombo e pessoas próximas a ele teriam pedido R$ 17,1 milhões em caixa 2 entre 2010 e 2014 afetam não só o governador, mas todo o projeto. Inclusive Merisio, citado por Welzel como beneficiário de R$ 600 mil nas eleições de 2014. O governo do Estado trata o caso como “revanchismo, ódio e mentiras” por parte dos ex-executivos da empreiteira por não ter ido adiante o processo de venda de 49% das ações da Casan, enquanto Merisio nega ter recebido recursos da Odebrecht. O parlamentar não foi localizado para comentar a situação política do Estado após as delações.
Com o senador Dalírio Beber e o prefeito blumenauense na lista de inquéritos abertos por determinação do ministro Edson Fachin, do STF, o PSDB é cauteloso sobre 2018. Presidente estadual da sigla, o deputado Marcos Vieira entende que o cenário está muito nebuloso.
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— Os delatores dizem tudo, se contradizem, se ouve muita coisa, quem está mencionado nega. Está muito difícil dizer qualquer coisa neste momento — diz o tucano.
Vieira reafirma, no entanto, que o PSDB terá candidato a governador e que a escolha do nome deve ser feita até dezembro. O dirigente evita antecipar nomes, embora o senador Paulo Bauer (PSDB) tenha disputado o cargo em 2014 e tenha passado ileso pelas delações. Ele acredita que o fim do ciclo dos governos de Luiz Henrique (PMDB) e Colombo (PSD) abrem caminho para a uma tripolarização, incluindo tucanos, peemedebistas e pessedistas.
Presidente estadual do PP, o deputado federal Esperidião Amin também acredita que é preciso aguardar “quem vai sobrar” após os desdobramentos das investigações baseadas nas delações dos executivos.
— Acho que os episódios que chocam são os de corrupção. Tanto os que visavam benefício próprio, quanto os de uso eleitoral ou partidário. Lógico que é uma etapa e que todos terão direito a defesa — afirma Amin.
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Praticamente fora das delações o PMDB catarinense ganhou tempo para definir seu próprio futuro. Presidente estadual da sigla e pré-candidato ao governo, o deputado federal Mauro Mariani admite que o conteúdo das delações mexeu com o tabuleiro político, mas avalia que “hoje no Brasil não para prever nada além de uma semana”. O peemedebista entende que as definições das candidaturas de 2018 vão seguir a tradição catarinense de acontecerem às vésperas das convenções partidárias. Mesmo com os principais nomes do partido fora das delações, ele diz que não há espaço para alívio.
— A gente tinha noção do que poderia aparecer nas delações, mas não há como sentir alívio nessa situação em que está o Brasil. O cenário é muito ruim para todo mundo — avalia.
Veja como as delações afetaram os principais partidos em SC:
PMDB
O maior partido do Estado conseguiu passar praticamente ileso pelas delações da Odebrecht. Houve apenas a presença do ex-deputado Edinho Bez em uma lista de supostas doações, sem inquérito ou pedido para análise em outro foros. Com o episódio, o partido ganha tempo para a definição sobre o candidato do partido ao governo. Hoje, quatro nomes são cotados: o vice-governador Eduardo Pinho Moreira, o senador Dário Berger, o deputado federal Mauro Mariani e o prefeito joinvilense Udo Döhler. O descrédito com os políticos pode favorecer o empresário Döhler, hoje o último na fila dos pré-candidatos.
PSD
Primeiro entre os principais partidos do Estado a colocar o bloco na rua mirando 2018, o PSD pode ter que rever a estratégia de antecipar o lançamento do deputado estadual Gelson Merisio como pré-candidato. O plano de Raimundo Colombo de disputar novamente o Senado também pode ser reavaliado. Sem citações da Odebrecht, ganham espaço os deputados federais João Rodrigues e João Paulo Kleinübing e a possibilidade do PSD apoiar outro partido na disputa pelo governo.
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PP
Chamuscado nacionalmente desde os primórdios da Lava-Jato, o PP manteve-se estável em Santa Catarina. Apesar do nome de Angela Amin constar em uma das planilhas da Odebrecht como beneficiária de caixa 2 na campanha ao governo em 2010, não houve abertura de inquérito ou pedido de análise por outro foro judicial para o caso da ex-prefeita florianopolitana. Se a evolução do caso envolvendo o governador Raimundo Colombo esvaziar o projeto do PSD, o nome do deputado federal Esperidião Amin pode voltar à bolsa de apostas para o governo em 2018.
PSDB
A lista de Edson Fachin alcançou a estrela ascendente do partido, o prefeito blumenauense Napoleão Bernardes – que será investigado no STF por causa da suposta intermediação do senador Dalírio Beber. O prefeito era cotado para vaga de vice-governador em caso de aliança, mas já havia quem apontasse seu nome como uma opção em caso de opção por renovação. Quem sai fortalecido é o senador Paulo Bauer, pré-candidato ao governo e ausente nas delações. A citação aos principais nomes nacionais do partido, no entanto, pode fragilizar a marca PSDB em SC.
PT
O inquérito aberto no STF tende a fragilizar as posições do deputado estadual Décio Lima e da deputada estadual Ana Paula Lima. Depois de flertar com o PDT, Décio movimentava-se para assumir a presidência do PT estadual e encaminhar uma candidatura majoritária em 2018. Citados nas delações, a ex-senadora Ideli Salvatti e o ex-prefeito joinvilense Carlito Merss já eram considerados fora do circuito eleitoral. Como todos integram o mesmo grupo no partido, o episódio pode favorecer a manutenção do grupo do Oeste no comando da sigla – hoje o ex-deputado federal Claudio Vignatti é o presidente estadual.