O general da polícia Luis Mendieta passou quase doze anos como refém das Farc. Nesta terça-feira, ele testemunhou em Havana o inédito pacto a favor das vítimas, firmado entre esta guerrilha e o governo colombiano.
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“Já fiz minha catarse e deixei o rancor para trás”, diz, tranquilo, Mendieta, que ficou sequestrado na selva entre 1998 e 2010, antes de ser resgatado pelo exército.
Aos 56 anos, Mendieta respondeu às perguntas da AFP pouco após ser anunciado o acordo com o qual as Farc e o governo deram um passo decisivo para a assinatura da paz, depois de três anos de negociações em Havana.
AFP: Qual a sua opinião sobre o acordo alcançado?
Mendieta: Nós, as vítimas, neste momento, estamos na expectativa de saber quais foram os pontos do acordo porque viemos ao ato protocolar. Mas, certamente temos o máximo interesse em que o processo de paz siga adiante, mas também queremos saber em detalhes quais foram os pontos deste acordo.
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AFP: A Colômbia está preparada para enfrentar um processo que requer perdão e boa vontade para a reconciliação?
Mendieta: É difícil, por isso alguns teóricos manifestam que este processo de reconciliação não se dará na nossa geração, mas nas próximas, mas nós contribuímos neste momento, aportando, eu diria, não só um grão de areia. Cada uma das vítimas semearam a semente da paz. Já é um aporte muito valioso.
Os colombianos, especialmente com o apoio da comunidade internacional, verão se esta semente cresce, dá frutos ou se, ao contrário, aqueles que não querem a paz a deixam morrer.
AFP: Pessoalmente, acredita que é capaz de perdoar e conviver com seus captores?
Mendieta: Desde o tempo de cativeiro eu fiz a minha catarse, fiz meu balanço de dias, deixei para trás os rancores porque sou católico, crente, agradeço a Deus por cada dia que me permite viver. Então, desfruto de cada coisa que acontece comigo no dia a dia, segundo a segundo ou minuto a minuto. É certo que há pessoas que não querem virar esta página, como os familiares dos sequestrados, familiares dos desaparecidos, que querem perdoar, mas quando seus entes queridos voltarem. Aqueles que sofreram extorsão, entre uma série de crimes, também estão esperando ser indenizados para passar ao tema do perdão e também ao tema da reconciliação.
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* AFP