A degradação da terra irá desencadear uma migração em massa de pelo menos 50 milhões de pessoas e até 700 milhões até 2050, a menos que os humanos parem de esgotar os recursos essenciais à vida, alertaram mais de 100 cientistas nesta segunda-feira (26).

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A degradação da terra causada pela agricultura não sustentável, mineração, poluição e expansão das cidades já está minando o bem-estar de cerca de 3,2 bilhões de pessoas – 40% da população global, disseram na primeira avaliação abrangente da saúde da terra.

O esgotamento da terra ameaça a segurança alimentar de todos os cidadãos da Terra, e o acesso à água limpa e ao ar respirável, regulados pelo solo e pelas plantas que crescem nele.

A condição da terra é “crítica”, alertou a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas (IPBES).

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“Nós convertemos grandes quantidades de nossas florestas, convertemos grandes quantidades de nossas pastagens, perdemos 87% dos nossos pântanos (…), nós realmente mudamos nossa superfície terrestre nas últimas centenas de anos”, disse o presidente do IPBES, Robert Watson.

“A degradação da terra, a perda de produtividade desses solos e daquelas vegetações forçarão as pessoas a se moverem. Não será mais viável viver nessas terras”, disse à AFP.

O melhor cenário possível, que prevê 50 milhões de migrantes, pressupõe que “realmente nos esforçamos para ter práticas agrícolas sustentáveis, silvicultura sustentável, tentamos minimizar as mudanças climáticas”, explicou Watson.

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A projeção se baseia em uma abordagem “business as usual” (sem alterações), na qual o aquecimento global desenfreado torna a terra caótica, alimentando a desertificação e a seca.

– Última fronteira –

Até 2050, disse a análise, a degradação da terra e as mudanças climáticas reduzirão o rendimento das colheitas em 10% globalmente, e em até a metade em algumas regiões.

O relatório, que abrange a totalidade das terras do planeta, bem como seus lagos e rios, estima que a degradação da terra custa o equivalente a 10% da produção econômica global de 2010.

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“Cada perda de 5% do produto interno bruto (…) está associada a um aumento de 12% na probabilidade de conflitos violentos”, alertou o relatório.

Nas áreas de terras secas, os anos de chuvas extremamente baixas já registram um aumento estimado de 45% nos conflitos violentos.

Os principais responsáveis pela degradação da terra, segundo a avaliação, foram os “estilos de vida de alto consumo” nos países ricos, e a demanda crescente por produtos nos países em desenvolvimento, alimentada pela renda e pelo crescimento populacional.

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Menos de um quarto da terra conseguiu escapar de “impactos substanciais” da atividade humana – principalmente porque se encontram em partes inóspitas do mundo – muito fria, muito alta, muito seca ou muito úmida para os humanos viverem.

Até mesmo esta pequena parcela deverá encolher para menos de 10% em apenas 30 anos.

“As pessoas estão forçando a entrada nessas fronteiras”, disse à AFP o coautor do artigo Bob Scholes, da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul.

O aquecimento global permite que as pessoas se movam para a região boreal, subártica e gelada, por exemplo, enquanto a tecnologia agora nos permite bombear água de aquíferos profundos no deserto extremo.

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As terras de cultivo e pastagem cobrem agora mais de um terço da superfície terrestre da Terra.

Isso significa não apenas uma perda de solo, mas também de populações de plantas e animais silvestres e de florestas que sugam dióxido de carbono e produzem oxigênio.

“A perda de biodiversidade deverá atingir 38-46% até 2050”, disse o relatório, alertando que a Terra está no início de uma sexta extinção em massa – a primeira desde o desaparecimento dos dinossauros, há 65 milhões de anos.

A avaliação da IPBES é o resultado de um trabalho de três anos de especialistas mundiais, que analisaram todos os dados científicos disponíveis.

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– Mudanças climáticas –

O relatório identificou a degradação do solo como um dos principais contribuintes para as mudanças climáticas e vice-versa.

O desmatamento sozinho contribui com cerca de 10% das emissões de gases de efeito estufa induzidas pelo homem.

E ao liberar o carbono que estava preso no solo, a degradação da terra foi responsável pelas emissões globais de até 4,4 bilhões de toneladas de dióxido de carbono por ano entre 2000 e 2009.

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“Sem uma ação urgente, mais perdas de 36 gigatoneladas de carbono dos solos – especialmente da África Subsaariana – são projetadas para 2050”, alertaram os cientistas.

Isso equivale a cerca de 20 anos de emissões globais de transporte.

Daqui a 30 anos, estima-se que quatro bilhões de pessoas – cerca de 40% da população projetada – viverão em áreas áridas e semi-áridas com baixa produtividade agrícola, disse o relatório. Hoje, esse número é de pouco mais de três bilhões.

A avaliação “é um alerta para todos nós”, disse Monique Barbut, secretária executiva da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação, que solicitou o relatório.

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“Ela mostra a alarmante escala de transformação que a humanidade impôs à terra.”

O relatório, que custa cerca de US$ 1 milhão para ser preparado, busca fornecer informações para a formulação de políticas do governo, e foi aprovado por representantes de governos em uma reunião de uma semana dos 129 membros da IPBES em Medellín.

* AFP