O déficit no setor de enfermagem do Hospital Municipal São José é de pelo menos 185 profissionais. A informação é do Conselho Regional de Enfermagem de Santa Catarina (Coren).
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O número é fruto de levantamento realizado em 2011 pelo próprio hospital com base em aspectos como missão, porte, estrutura organizacional e física e tipos e complexidade dos serviços oferecidos, que compõem a resolução 293/2004 do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).
Apesar de não haver relato formal de erros por parte dos profissionais de enfermagem no atendimento à população, há preocupação com essa questão.
– Os profissionais de enfermagem do São José estão esgotados e pedindo socorro ao conselho. O Coren identificou o déficit de profissionais em 2011, orientou os gestores para a necessidade de contratação, notificou a instituição, ajuizou ação civil pública, ganhamos a decisão em grau de recurso, mas não se contrata o número adequado de profissionais para garantir assistência de enfermagem de qualidade e isenta de riscos – afirma a presidente do Coren, Felipa Amadigi.
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A defasagem, aliada à superlotação no São José, faz com que os enfermeiros, técnicos e assistentes tenham receio de errar e comprometer a saúde dos pacientes internados na unidade.
– Com certeza, o maior medo é esse, porque teríamos que responder legalmente e poderíamos perder o registro no conselho. Além do mais, as pessoas não se perdoariam por isso – afirma uma servidora do São José, que preferiu não se identificar.
Segundo Felipa, a última fiscalização feita pelo órgão no pronto-socorro do São José em 31 de janeiro deste ano verificou que havia cerca de cem pacientes no setor, sendo que 56 estavam internados, isto é, precisando de estrutura hospitalar que o setor não comporta.
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De acordo com Felipa, somente com a demanda dos 47 leitos, que é a estrutura que o setor dispõe, já há um déficit de 20 trabalhadores.
A servidora do São José também denuncia que quedas no pronto-socorro são frequentes, já que os pacientes internados no setor são acomodados em macas, que não contam com grades, e não em camas, que seria o ideal.
Além disso, os pacientes ficam dispostos a distâncias muito próximas e não há sala de isolamento para pacientes com câncer, por exemplo, que estão com a imunidade baixa.
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– Tem pessoas idosas internadas deitadas somente sobre um cobertor na maca, sem colchão. Não consigo prestar o atendimento que eu aprendi na escola – desabafa a funcionária.
A servidora também relata que muitas vezes a medicação dos pacientes é priorizada em detrimento da higienização, já que falta profissionais e sobra demanda.
– Sinto-me frustrada e apreensiva, porque a gente lida com pessoas, lido com uma mãe, uma avó, que poderiam ser minhas – disse a funcionária.
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Apesar da direção do hospital citar contratações, como a dos 35 profissionais de enfermagem, realizada em dezembro passado, o número é insuficiente para o Coren.
– Houve algumas contratações de 2011 para cá, mas em número muito pequeno. Se fizéssemos um cálculo hoje, possivelmente esse déficit seria ainda maior – afirma Felipa.
A presidente explica que o cálculo não é atualizado porque a ação civil pública que tramita na Justiça Federal desde 2011 se baseia no número fornecido na época e, que se fosse feito novo levantamento, haveria também a necessidade de nova ação judicial.
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Promotora de Justiça aguarda resposta da Prefeitura até sexta
A Promotora de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania de Joinville, Simone Cristina Schultz, tenta desde novembro passado firmar um termo de ajuste de conduta (TAC) para a contratação de novos profissionais de enfermagem, entre outras melhorias no São José.
– A Prefeitura tem até esta sexta-feira para se manifestar. Caso contrário, vou ajuizar uma ação civil pública na Justiça de Joinville. Não dá mais para aturar essa indiferença. E, infelizmente, indo para a Justiça, a tendência é se arrastar – afirma a promotora.
A presidente do Coren, Felipa Amadigi, apresentou a Simone na última segunda-feira os números da defasagem de profissionais de enfermagem por setor. Para a Promotora, os dados fornecidos pelo Coren são fundamentais para contribuir com as exigências do Ministério Público de SC ao São José.
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CONTRAPONTO
O diretor do Hospital Municipal São José, Marcos Krelling, afirma que a direção da unidade está avançando em relação ao déficit de profissionais de enfermagem e cita a contratação de 35 novos funcionários da área em dezembro, para comprovar isso.
– Não estamos alheios e estamos participando junto com o Coren para fazer as complementações necessárias. Mas essas pessoas não estão na prateleira, é necessário fazer concurso público, esse tipo de contratação é complexa – alega Krelling.