O desafio nesta sexta-feira foi com diversão para um grupo de deficientes físicos que resolveram se arriscar na prática de stand up paddle (SUP) adaptado na Lagoa da Conceição, em Florianópolis. No começo, alguns tiveram um pouco de medo e aflição, mas logo que dominaram o remo em cima da prancha adaptada com uma cadeira, a sensação de liberdade tomou conta dos participantes que remaram até cansar. O dia com sol e nada de vento colaborou, deixando as águas da Lagoa lisinhas.

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Acostumado a enfrentar mares agitados a até fazer travessias, o jovem Thiago Aguiar, 12 anos, adorou a oportunidade de praticar uma nova atividade. O menino nasceu com mielomeningocele, uma má formação congênita na coluna vertebral que, entre outras coisas, o impede de andar. Mas, isso nunca foi motivo para ficar longe dos esportes: desde os dois anos ele faz natação por indicação médica, está se profissionalizando e já participa de competições, inclusive fez a travessia da Ilha do Campeche acompanhado do pai. O garoto tirou onda, literalmente, no SUP:

– No começo eu fiquei com medo, tive a sensação que ia cair, mas depois eu gostei tanto, que queria até ficar mais – comentou animado.

Amigos da Aflodef

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Acompanhado da amiga Beatriz Cunha, os dois remaram em toda a extensão de segurança permitida, e só saíram para dar oportunidade para outros amigos. Uma van com cerca de 10 pessoas veio da Associação Florianopolitana de Deficientes Físicos (Aflodef) especialmente para o dia de SUP na Lagoa.

Beatriz, que é atleta paralímpica de tiro, também adorou a atividade, que praticou pela segunda vez. Segundo ela, ainda quer voltar mais vezes:

– Adoro esporte, não gosto de ficar parada. O SUP libera muita adrenalina, tem que fazer muita força no braço. O vento, o balanço, é tudo uma sensação maravilhosa – falou.

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Beatriz e Thiago remaram nas pranchas adaptadas

Foto: Betina Humeres/ Agência RBS

Superação e liberdade

Liberdade foi a sensação que o jovem Matheus Henrique, 19 anos, sentiu ao terminar a remada. Ele nasceu sem nenhuma deficiência, mas aos 16 anos levou um tiro nas costas no bairro Monte Cristo, e perdeu o movimento das pernas. Desde então precisou se adaptar a cadeira de rodas:

– No começo foi muito difícil, fiquei deprimido e revoltado, mas depois descobri o basquete para cadeirantes e melhorei. A ajuda dos amigos, que sempre me motivaram para fazer coisas novas, também é importante. Hoje quis arriscar, nadar eu já sei, então garanto que não me afogo – afirmou.

Matheus sentiu a sensação de liberdade coma atividade

Foto: Betina Humeres/ Agência RBS

Diversão em família

Pai e filha também se divertiram na remada inclusiva. Ricardo Camargo, de 57 anos, já levava a filha Selma, 13, que nasceu com deficiência para atividades na Aflodef, e há dois anos teve um AVC que o deixou com o lado direito do corpo paralisado:

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– Foi difícil até eu me adaptar, sempre tive espírito aventureiro, fui descobrindo esportes novos. Hoje veio este convite e resolvi arriscar.

Selma estava receosa no começo, mas com o apoio dos pais resolveu experimentar o caiaque, e se divertiu muito.

SUP Inclusivo

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O diretor de esportes da Aflodef, Antônio R. Silva, reuniu o grupo que foi praticar o SUP nesta sexta. O tempo todo ele incentivava os jovens e adultos a se arriscarem na água:

– Sempre buscamos coisas novas para o pessoal fazer, e este esporte, em contato com a natureza, traz muitos benefícios. A gente faz as adaptações necessárias para a necessidade de casa um, trouxe um caiaque também para quem quiser praticar. Este é o 1º SUP Inclusivo, um piloto para realizarmos um projeto maior – explicou.

O proprietário da SUP Lagoa, Roberto Vicentin, que cedeu as pranchas e convidou os deficientes para o projeto, conta como tudo começou:

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– Uma vez convidei um amigo meu cadeirante para dar uma volta, adaptamos um cadeira na prancha, e durante o passeio ele me emocionou muito quando falou que os deficientes eram esquecidos, e que além de fazer o bem eu poderia ter clientes dessa área – comentou.

Roberto explica que a principal preocupação é a segurança dos praticantes, então, todos utilizam equipamento salva-vidas e recebem toda atenção do instrutor. ?

Benefícios físicos e mentais

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Além dos benefícios mentais, o fisioterapeuta do esporte Kairé Escobar vê inúmeras vantagens na prática:

– O esporte é bom para qualquer pessoa. No caso de cadeirante e pessoas com outras deficiências, o trabalho é muito intenso e importante, já que trabalha o fortalecimento da região do abdômen, treina o equilíbrio, a respiração e toda a consciência corporal, além de ser um estímulo diferente daqueles em que estão acostumados no dia a dia – explica.

Escobar destaca ainda que o sistema nervoso central é muito inteligente e acaba buscando o estímulo em todas as partes do corpo, inclusive naquelas prejudicadas pela deficiência, onde não é possível sentir a força.

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