Quem observa Cristiane Hardt, de 27 anos, na pista ao som de uma valsa ou um tango, não consegue perceber, mas ela tem algo pouco comum para dançarinos. Cristiane perdeu a visão há pouco mais de oito meses e reencontrou na arte um modo de dar a volta por cima e quebrar uma grande barreira, de uma forma divertida de se distrair. Com passos ensaiados e muito bem afinados, o partner conduz Cristiane pelo salão em harmonia, em um ritmo que realmente vem da alma e do coração.

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Cristiane sempre gostou de dançar e, após perder por completo a visão, decidiu procurar o estúdio de dança. Depois de algumas negativas, encontrou o professor Carlos Maguerroski, que aceitou o desafio na mesma hora. Ele nunca havia vivido tal experiência e não fazia ideia de como seriam as aulas. Mas com o tempo e a determinação da aprendiz, o ensinamento se tornou uma busca pelo conhecimento.

O caso da aluna com deficiência visual virou monografia de pós-graduação em dança que Carlos está fazendo.

– É difícil porque não tem material teórico sobre isso. É preciso criar uma didática própria -, contou.

Sertanejo, gafieira, forró e bolero são alguns dos ritmos que a aluna aprendeu a dominar. Com o ritmo na ponta dos pés, ela faz bonito quando sai para se divertir.

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– As pessoas que não me aceitaram não tinham noção e colocaram limite em mim. Mas só quem sabe o meu limite sou eu -, diz.

A força de vontade de Cristiane acaba servindo de inspiração para os demais alunos.

– Quando os alunos acham que não conseguem desenvolver os passos, chamo a Cris e ela me ajuda com a aula. É um incentivo -, comenta o professor.

Muito dedicada, após alguns meses de aula, Cristiane se prepara para participar do espetáculo de fim do ano. Ela também fará uma apresentação especial para a banca que julgará o trabalho de Carlos.

– A dança para mim é tudo. Não abro mão -, enfatiza a jovem.

Além de dançarina, a moça ainda trabalha com artesanato. Os chinelos bordados por ela estão sempre expostos na escola que abriu as portas para que uma deficiente visual pudesse aproximar-se da arte da dança e encantar os frequentadores do estúdio.

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A doença

A cegueira de Cristiane surgiu em função do diabetes. Ela foi perdendo a visão gradativamente até que, no ano passado, parou de enxergar. O problema afetou a visão, mas não a autoestima da jovem sonhadora que distribui sorrisos e transborda felicidade. Ela conta que se adaptou à cegueira conforme foi perdendo a visão.

– Sou uma pessoa normal, apenas não enxergo -, salienta.

Conforme a endocrinologista do Hospital Infantil de Joinville Suely Keiko Kohara, o diabetes é a maior causa de cegueira adquirida. Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 5,8% dos brasileiros a partir dos 18 anos têm diabetes tipo 2, responsável por mais de 90% dos casos da doença e o único tipo de diabetes que pode ser evitado.

A falta de controle da doença – que corresponde ao nível elevado de açúcar no sangue – pode provocar vários problemas de saúde, inclusive a cegueira. Por isso, é preciso diagnosticar a doença e tratá-la para o resto da vida.

– A pessoa que tem a doença, muitas vezes, não se dá conta do perigo que corre -, alerta Suely.

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Fazer uma dieta correta, se exercitar, tomar o medicamento e monitorar o nível de glicose no sangue são os quatro pilares para evitar complicações. De acordo com a especialista, em alguns casos, as primeiras complicações na retina, quando o paciente começa a perder a visão, são reversíveis. Porém, quando o paciente chega ao estágio da cegueira completa, não é mais possível recuperar a visão.