Eles não têm obrigação de votar nas eleições deste ano, mas fazem questão. De um lado, o avô de 80 anos. De outro, a neta de 17. Gerações tão distantes, mas com o mesmo pensamento sobre a importância da democracia. A diferença está apenas na expectativa para outubro: se para Júlia Sabel haverá a emoção de ficar pela primeira vez diante da urna eletrônica, para Lino Mafra será mais um domingo típico de dia de eleição.
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O gosto por exercer o direito ao voto e pela política está no sangue. Júlia conta que a tia já foi vereadora em Gaspar, cidade onde a família mora, por dois mandatos. Ela era criança, mas se lembra com clareza do jingle da campanha, das idas às palestras, dos “bandeiraços” e das reuniões do partido. E normalmente era no rancho da casa do avô Lino que os encontros ocorriam.
Há anos o idoso gosta de ser o anfitrião para os filiados de um partido político do município. Perdeu as contas de quantas pessoas já recebeu. Apesar de sustentar que essa é a única relação mais próxima que tem com a política, sabe de cor os nomes de todos os presidentes do Brasil e prefeitos de Gaspar. Nunca se envolveu diretamente com nenhuma mobilização, mas apoiava a esposa quando ela participava da associação de moradores e de outras organizações civis.
Desde que fez 18 anos, não deixou de votar uma vez sequer — exceto, claro, na época da ditadura militar. Criado em Vidal Ramos, no Alto Vale do Itajaí, mesmo quando se mudou para Rio do Sul viajava 60 quilômetros para ir à cidade de origem em dias de votação. Depois, mudou-se para Gaspar e transferiu o título de eleitor.
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Durante muitos anos votou usando caneta e papel. A urna eletrônica chegou à região há mais de 30 anos — Brusque, inclusive, foi a primeira cidade a ter uma votação válida pela ferramenta em todo Brasil. Júlia fica curiosa ao se dar conta disso e pede detalhes ao avô sobre como era. Ele explica que assinalava com um “xis” o nome do candidato e depositava a escolha.
— Eu confio na urna eletrônica, com papel ia acontecer muito roubo de voto — conclui a jovem ao ouvir a explicação do avô.
Júlia vez ou outra pede para Lino contar histórias do passado. São relatos testemunhais de coisas que aprende na escola. Por outro lado, o avô também é ensinado pela adolescente, que está no terceiro ano do Ensino Médio. Desde que ganhou um celular dos filhos, é a neta quem dá dicas de como lidar com a tecnologia. O contraste das gerações está também nesse aspecto. Enquanto a garota exibe o título de eleitor no aplicativo do smartphone, Lino segura o documento dele em papel.
Para ela foi muito prático obter o título. Esperou completar os 16 anos e, ansiosa, acessou o site do Tribunal Superior Eleitoral e fez a solicitação. Está pronta para ir ao local de votação no dia 2 de outubro, mas levará consigo também uma inquietação:
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— Tenho receio e esperança. Como vai ficar o futuro? As coisas vão ficar mais caras? Onde vamos parar?
O avô não tem essas respostas, mas assim como a neta acredita que depositar o voto na urna é uma forma de fazer a parte dele enquanto cidadão. Ambos defendem a democracia como ferramenta de diálogo e mudança na sociedade.
— Lutou-se tanto para ter o direito ao voto que não podemos desperdiçar — defende a adolescente.
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