As declarações de Donald Trump, enaltecendo um rival político de Theresa May e descartando um acordo comercial, colocaram a primeira-ministra britânica em uma situação embaraçosa no segundo dia da visita de presidente americano ao Reino Unido.
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Em uma entrevista ao jornal The Sun, que começou a ser divulgada quando May presidia um jantar de gala em homenagem a Trump, o presidente disse que Boris Johnson seria “um grande primeiro-ministro”, que os planos da primeira-ministra de manter vínculos com a União Europeia após o Brexit impossibilitam um acordo comercial com os Estados Unidos e que a aconselhou a negociar com Bruxelas de um modo e ela fez o contrário.
Além disso, acusou o prefeito de Londres, Sadiq Khan, de ter feito um trabalho “terrível” contra o terrorismo, em uma referência, sem a menção direta, aos atentados de 2017.
May e Trump devem se reunir nesta sexta-feira, almoçar e conceder uma entrevista coletiva, antes da rainha Elizabeth II receber o presidente americano e sua esposa Melania para tomar chá.
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O secretário de Estado das Relações Exteriores, Alan Duncan, minimizou a entrevista de Trump em declarações à BBC e disse que “não é grosseiro elogiar Boris Johnson” e que Trump “é um polemista, é seu estilo”.
“É um grande personagem”, completou Duncan.
Na entrevista, concedida ao The Sun na quarta-feira, um dia antes da viagem ao Reino Unido, Trump falou sobre o plano de May para resolver o principal tema doméstico e internacional de seu governo.
“Se aprovarem um acordo como esse, estaríamos tratando com a União Europeia no lugar de com o Reino Unido, e isso provavelmente pode matar o acordo” que Londres deseja alcançar com Washington, advertiu Trump.
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“Teria feito isto de maneira muito diferente. De fato disse à Theresa May como fazê-lo, mas ela não concordou, não me escutou. Tomou outro caminho”, disse Trump, para quem a proposta de May não respeita o que os britânicos decidiram no referendo sobre a UE de junho de 2016.
E sobre Johnson, que pediu demissão esta semana como ministro das Relações Exteriores por suas divergências com May, afirmou: “Acredito que seria um bom primeiro-ministro, tem tudo o que é necessário”.
A oposição defendeu Theresa May.
“É extraordinariamente grosseiro por parte de Trump comportar-se desta maneira”, disse Emily Thornberry, vice-líder do Partido Trabalhista no Parlamento.
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“O que sua mãe ensinou?”, questionou, antes de pedir que May o enfrente.
Anthony Gardner, que foi o embaixador americano em Londres durante o governo do presidente Barack Obama, afirmou que as declarações “são um ataque sem precedentes a um aliado durante uma visita oficial”.
Trump “está fora de controle e é um constrangimento”, completou.
– Dia de protestos –
Os principais trechos da entrevista, publicada na íntegra nesta sexta-feira, começaram a ser divulgados durante o primeiro ato oficial da visita, um jantar com empresários na mansão de Blenheim, perto de Oxford, onde em 1874 nasceu Winston Churcill.
“Do Maine ao Alasca, mais de um milhão de americanos trabalham para empresas britânicas. Agora que nos preparamos para deixar a União Europeia, temos a oportunidade sem precedentes de fazer mais”, disse May em seu discurso durante o evento.
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“É uma oportunidade de alcançar um acordo de livre-comércio”, concluiu a primeira-ministra.
O segundo dia da viagem de Trump, o último com atos oficiais – depois Trump passará dois dias na Escócia em visita privada – será marcado por vários protestos.
Apesar de estar hospedado em Winfield House, a residência do embaixador dos Estados Unidos perto de Regent Park, no centro de Londres, a agenda de Trump evita a capital britânica, donde se concentrarão os protestos.
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Uma pesquisa do instituto YouGov mostra que 77% dos britânicos têm uma opinião desfavorável de Trump e quase metade considera que a rainha não deveria recebê-lo.
Um balão gigante representando Donald Trump como um bebê flutuará nos céus de Londres nesta sexta-feira.
O balão de seis metros de comprimento do bebê Trump ficará a 30 metros de altura perto do Parlamento, entre as 9h30 e 11h30 de sexta-feira (6h30-8h30 no horário de Brasília).
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Durante a tarde haverá uma grande manifestação em Londres sob o lema “Unidos contra Trump”, além de vários atos em outros pontos.
* AFP