A decisão sobre o espaço a ser destinado a um acidente com arma de fogo que enlutou uma família no sul do Estado ilustra a subjetividade da atividade jornalística e a quantidade de decisões a serem tomadas a todo instante. Muitas vezes, o leitor não entende o porquê de tal decisão e, nessas horas, falha um pilar do jornalismo: a transparência.
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Pois com o intuito de ser transparente abordo o tema, ainda matutando sobre a opção de desidratar o ocorrido no seio de duas famílias catarinenses – uma que perdeu a filha adolescente e a outra que viu seu filho involuntariamente envolvido em tal tragédia. Ao ouvir da autoridade policial que tudo tratou-se de um acidente – e não de um crime – o DC , após debate interno, optou por reduzir a visibilidade do assunto na internet, a ponto de não registrar uma nota sequer no jornal impresso, o que foi um equívoco, pois o episódio publicado também serve de alerta para os riscos das armas de fogo dentro de casa.
Dois dias antes, em Itajaí, uma colega pedia orientação sobre como tratar a prisão de um suspeito de estupro e de pedofilia. O homem, seguindo a investigação policial, vinha assediando adolescentes na internet usando perfis falsos numa rede social. Porém, ao ver que se tratava de um pai de família, a jornalista deparou-se diante de um dilema que costuma acometer pessoas de boa formação, independentemente de sua profissão: como expor um homem assim sem pensar em sua esposa e filha? Dúvidas, dúvidas e mais dúvidas marcam uma profissão tão subjetiva como a jornalística.
A prisão do suspeito, na justa ótica das famílias vitimadas, deveria ocupar eloquente espaço e uma foto estampada na capa do jornal. Tema subjetivo, passível de análise. Neste caso, a decisão foi a de publicar o assunto em cerca de meia página, identificando o suspeito de forma a servir de alerta a outros pais. Não dá para saber se foi uma decisão acertada.
A (subjetiva) regra do bom senso, a jurisprudência dos veículos da RBS e o Guia de Ética e Autorregulamentação Jornalística da RBS costumam iluminar caminhos a seguir nesses momentos. Manter essa linha em todos os episódios é que é o desafio – até porque quem toma uma decisão diferente da do DC não está errando, mas apenas seguindo outra linha de raciocínio.
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O importante, insisto para meus colegas, é que sejamos transparentes, deixando claro ao leitor por que estamos dando pouco, médio ou muito espaço a tal fato, por que estamos nesse momento divulgando ou omitindo algum nome de envolvidos em algum episódio, por que há hora de poupar o leitor ou por que há hora de chocar com o intuito de chamar a atenção e servir de alerta, um dos princípios da imprensa.