Quem conhece o estilo do governador Raimundo Colombo (PSD) já alertava antes mesmo da posse: as decisões do lageano são lentas e consolidadas após muitas reuniões. Os secretários estaduais envolvidos na reforma do colegiado sentiram na pele a maneira como Colombo conduz esse tipo de mudança. A sensação de lenta fritura desagradou aliados, especialmente no PSDB.
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Foram os tucanos os principais ingredientes da fritura promovida pelo governador. O secretário da Educação, Marco Tebaldi (PSDB), ainda no cargo, chegou a brincar com a situação. Ao comemorar o aniversário reunindo políticos em Itapema, em 28 de janeiro, respondeu ao amigo que lhe perguntou se estava mais magro:
– Fui tão fritado que até emagreci.
O processo de fritura de Tebaldi vem desde a greve dos professores – que durou 62 dias entre maio e julho, a maior da história de Santa Catarina. Sem vivência direta na área de educação, o ex-prefeito de Joinville e deputado federal licenciado enfrentou dificuldades no início das negociações e, em muitos momentos, acabou ofuscado pelo secretário adjunto Eduardo Deschamps, ex-reitor da Furb. Desde então, a convicção de que a construção de uma nova relação com os professores passa pela substituição de Tebaldi foi consolidada no governo. E o tucano foi para a frigideira, que tem como óleo as informações de bastidor vazadas de dentro do Centro Administrativo.
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Acompanhando o nome de supostos sucessores pela imprensa, Tebaldi garante que o governador ainda não falou com ele sobre a eventual demissão. Admite apenas que a conversa sobre o assunto está marcada.
– Depois do Carnaval voltamos a conversar – afirmou.
Menos paciência teve o outro habitante da frigideira de Colombo. Serafim Venzon (PSDB) entregou na quinta-feira a carta de demissão ao governador, encerrando um processo de fritura iniciado antes do atual governo completar cem dias. Colombo havia realizado reuniões com todos os órgãos do governo, para saber a situação de cada área e os planos para o futuro. A apresentação do tucano sobre a pasta da Assistência Social teria deixado a desejar. Desde então, Venzon vinha sendo tratado como futuro ex-secretário.
A saída, oficialmente por iniciativa do secretário, foi acertada na noite de terça-feira em uma conversa do tucano com o governador. Colombo disse que Venzon poderia ser importante na eleição de Brusque, onde a candidatura do deputado estadual Ciro Roza (PSD) ainda não está garantida.
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Mas não foram apenas os tucanos que passaram pela frigideira de Colombo. Durante os oito meses em que ocupou o cargo de diretor-presidente da SC Gás, Altamir Paes (PMDB) esteve na berlinda por causa de uma condenação sem direito a recurso quando foi prefeito de Otacílio Costa.
Para o Ministério Público Estadual, a condenação era suficiente para enquadrá-lo na lei da Ficha Limpa estadual. Colombo encaminhou o caso para a Procuradoria-Geral do Estado (PGE), enquanto aliados tentavam uma saída negociada.
A bancada peemedebista na AL chegou a assinar uma moção em favor da manutenção de Paes, que negou-se a pedir demissão. Amparado em parecer da PGE, Colombo acabou determinando a demissão, após semanas de desgaste.
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O caso pode ter servido para o PMDB aprender a evitar a frigideira. Assim que começaram a aparecer as informações de que Colombo pretendia aproveitar o ex-deputado federal João Matos (PMDB) na Secretaria de Articulação Nacional, o partido se movimentou para impedir que o atual secretário Acélio Casagrande (PMDB) fosse para o óleo quente.
Rapidamente, articulou-se para que o peemedebista fosse aproveitado como secretário-adjunto de Saúde, pasta sob comando do colega Dalmo Claro de Oliveira (PMDB).
Nos quase dez anos que comandou Lages, Colombo foi um prefeito que gostava de mexer na equipe. Os relatos de quem viveu – aliado, na oposição ou de forma independente – os três mandatos dele na cidade atestam isso. Com uma diferença: teria sido mais objetivo do que na atual reforma de secretariado.
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– Quando ele sentia que poderia mexer para dar uma azeitada na máquina, tomava as decisões – conta Paulo Marques, que trabalhou nas três gestões de Colombo, nas áreas de esportes e comunicação.
Ainda antes da posse de Colombo, o ex-deputado federal Ivan Ranzolin (PR) ajudou a adiantar o estilo de governador em reportagem publicada pelo DC em 31 de dezembro de 2010. Vice-prefeito na primeira gestão de Colombo como prefeito de Lages, entre 1989 e 1990, Ranzolin definiu:
– A decisão corriqueira, ele toma rapidamente. Quando é uma decisão mais importante, ele amadurece, estuda. Mas não é de pegar ninguém de surpresa .
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Quem sempre fez oposição a Colombo na cidade vê semelhança na forma como ele conduz as mudanças, como governador ou prefeito.
– Ele se coloca na estratosfera e sai como o cara bonzinho que não cometeu a ação, como se não fosse com ele. Sempre usou muito habilmente essa máscara – diz Domingos Rodrigues, presidente do PT de Lages.