Depois de conquistar uma inédita ida do PT ao 2º turno em eleições de Santa Catarina, o candidato Décio Lima tem pela frente a tarefa de tentar uma nova façanha: derrotar o bolsonarismo em um dos estados mais bolsonaristas do país. Na votação do 1º turno, no último domingo, dia 2, o eleitorado catarinense manifestou novamente uma forte preferência pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).
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O candidato à reeleição recebeu 62,21% dos votos válidos, contra 29,54% de Lula na disputa pela presidência da República. Foi apenas três pontos percentuais a menos do que o registrado quatro anos atrás e a quarta maior vitória de Bolsonaro entre todos os estados. O PL ainda fez 11 deputados estaduais, seis federais e teve o candidato ao governo, Jorginho Mello (PL), como o mais votado, com 38,61% dos votos. O PT, por sua vez, elegeu dois deputados federais e quatro estaduais – os mesmos que já ocupam o cargo na atual legislatura.
A despeito disso, em um cenário de divisão de candidaturas à direita, Décio Lima (PT) conseguiu concentrar parte importante dos eleitores de Lula e ficar com a segunda vaga no 2º turno, com 17,42% dos votos válidos. A conquista ocorreu em uma disputa apertada com o governador Carlos Moisés (Republicanos), que ficou fora por 17,4 mil votos.
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Passada a euforia da comemoração, é tempo de iniciar as estratégias para a disputa mano a mano com Jorginho Mello. E a campanha petista pode ter mudanças. No 1º turno, Décio tentou a todo tempo se apresentar como o “candidato de Lula”, para captar o máximo possível dos votos do ex-presidente e tentar conquistar a vaga no 2º turno. As outras quatro candidaturas de maior expressão eram sempre taxadas também como “bolsonaristas”.
Agora, o primeiro desafio é a busca por apoio. Para isso, o candidato aposta no fato de não ter feito ataques diretos aos adversários e dá sinais de que essa “distância ideológica” pode não ser obstáculo.
– Todos têm o meu respeito, têm uma enorme biografia de relevantes serviços prestados. Se eu quero governar respeitando as adversidades da política, fazer um governo plural, todos, sem excepção, são bem-vindos – afirma Décio.
De olho no espólio dos ex-candidatos
A intenção inicial é virar votos lulistas que no 1º turno foram para candidaturas como as de Gean e Moisés. O ex-deputado Gelson Merísio (Solidariedade) e o senador Dário Berger (PSB), os mais recentes convertidos da esquerda catarinense, estão à frente dos diálogos com os partidos ligados à centro-direita em busca de apoio.
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O presidente do Solidariedade, Osvaldo Mafra, explica que a intenção é tentar atrair eleitores de Moisés e Gean, mas que não são bolsonaristas, e de Amin, que possam ter ficado ressentidos com a candidatura de Jorginho por conta dos ataques entre eles.
Apesar dos esforços, os primeiros partidos a se manifestarem esta semana já declararam apoio a Jorginho. Foi o caso do Republicanos de Moisés, e do PP e do PSDB, que formavam a chapa de Esperidião Amin. O sinal positivo até agora veio do PDT, que reuniria a executiva nesta sexta-feira para seguir a posição nacional do partido e firmar apoio ao PT de Décio.
Comparações entre governos
Se a dobradinha Décio e Lula foi importante para a arrancada que levou o catarinense ao 2º turno, agora só os votos petistas não bastarão a Décio para superar Jorginho Mello. Por isso, além da busca por apoios, a campanha petista também ajusta o discurso.
Uma estratégia da campanha de Décio Lima no 2º turno deve ser focar menos nas polêmicas ideológicas de Lula e Bolsonaro e mais em comparações entre investimentos dos governos petistas e da atual gestão federal em Santa Catarina.
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Décio diz que “jamais vai negar o lado que pertence” e que caso Lula venha novamente ao Estado, terá uma recepção maior do que a feita no 1º turno, em Florianópolis. No partido, a eleição de Lula é uma prioridade, e o ex-presidente já sinalizou preferência de viajar a estados com 2º turno. Mesmo assim, a ideia na disputa estadual é dar mais ênfase à comparação entre os governos e à tese de que “Santa Catarina perdeu muito” nos últimos anos, nas palavras do candidato.
O deputado federal Pedro Uczai (PT), reeleito no último domingo com a segunda maior votação entre os nomes de SC, falou sobre a estratégia, em entrevista à CBN Floripa:
– Se fizer um bom debate do legado do presidente Lula em SC, como na Grande Florianópolis, e o legado do atual presidente, nesse comparativo, sem discussão ideológica, de baixo nível, mas da alta política, da grande política, evidentemente que o 2º turno pode prosperar a perspectiva de reverter o que aconteceu no 1º turno, ampliar a votação do presidente Lula (…) e SC também eleger Décio Lima.
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Alguns trunfos das gestões petistas já citados por Décio em entrevistas na última semana foram a ampliação de rodovias e a criação de campi de institutos federais no Estado.
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– Não quero que olhe isso como lulismo, nem como petismo, nem de forma a produzir preconceito neste debate. Este debate não pode ser tratado com preconceito. Estamos falando da vida das pessoas – diz Décio.
O professor de Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Tiago Daher Padovezi Borges afirma que as pesquisas e resultados eleitorais mostram um favoritismo grande de Jorginho Mello (PL), pela proximidade com Bolsonaro, e uma tarefa difícil para Décio reverter.
– Acho inevitável que as eleições para o governo do Estado acabem reproduzindo o que acontece na eleição para a presidência. Claro que os candidatos vão tentar imprimir suas marcas locais, mas é um dado de realidade que estamos vivendo uma eleição presidencial muito acirrada, e que vai estar presente – avalia o especialista.
Tarefa “hercúlea” contra o bolsonarismo
A deputada estadual Luciane Carminatti (PT), reeleita no último domingo, dia 2, como a segunda mais votada de SC, reconhece que a tarefa é desafiadora e que a ida ao 2º turno já é motivo para comemorar. Ainda assim, crê que nem sempre os acordos feitos entre os “caciques” dos partidos se refletem em migração dos eleitores na base.
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– Tem margem de crescimento, só tenho dúvidas se é suficiente para dar a vitória. Mas o Décio é o novo, e o novo pode ser atraente para o Estado, que sempre foi governador pelas mesmas forças políticas – avalia a parlamentar.
Mesmo com os planos definidos, Décio admite que a tarefa do segundo turno é “hercúlea” e que como derrotar o bolsonarismo em SC é uma questão ainda de difícil resposta.
– Não tenho solução para essa pergunta, mas essa pergunta não me rouba o sonho. De que haja ainda nesse curto período uma reflexão do que seria melhor para Santa Catarina – pontua.
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