A coreógrafa Deborah Colker passou esta terça-feira se manifestando sobre o episódio que envolveu seu neto de três anos na manhã de segunda.
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A artista pretende processar a companhia aérea Gol em razão do constrangimento sofrido no momento em que embarcava na aeronave, em Salvador, com os pais da criança (sua filha Clara Colker e o marido dela), rumo ao Rio de Janeiro. O menino tem uma doença de pele chamada epidermólise bolhosa.
> Doença que afeta neto de Deborah Colker é grave, mas não contagiosa
> Gol alega cumprimento das normas, mas pede desculpas à família
A decolagem do voo no Aeroporto Internacional de Salvador, prevista para as 11h50min, só ocorreu às 13h16min, após um médico da Infraero ser chamado para atestar que a doença não era contagiosa, razão alegada pela tripulação para impedir que a criança viajasse com a família.
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Mãe e avó afirmam ter explicado que o menino sofre de uma doença congênita, não transmissível por contato ou proximidade. Ainda assim, os tripulantes teriam acionado o posto da Polícia Federal no aeroporto para retirar o menino do avião. Os agentes chegaram a entrar na aeronave. Houve discussão a bordo, e parte dos passageiros passou a defender a coreógrafa.
Por telefone, o assessor de Deborah, Pedro Neves, contou a ZH:
– Eles abordaram a família de uma maneira muito grosseira, e agora ela (Deborah) está falando sobre isso porque foi um episódio tão forte de preconceito que é importante que as pessoas conheçam a doença.
Em entrevista ao canal GloboNews, Deborah classificou o episódio como “absurdo” , e acrescentou que seu neto notou que havia algum problema:
– Ele percebeu que era com ele, a mãe chorava, o pai nervoso, todos olhando para ele, outras crianças vinham, uma situação constrangedora.
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Em nota, a Gol declarou que, ao solicitar um atestado médico, cumpriu as recomendações do Manual Médico da Associação Internacional de Transportes Aéreos e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), acrescentando: “Lamentamos profundamente os transtornos causados à família com relação à forma como foi conduzido o cumprimento de tais recomendações. A estes e aos demais passageiros, pedimos sinceras desculpas.”
Deborah disse ter recebido um telefone do presidente da Gol, Paulo Kakinoff, desculpando-se. E contou a ele a intenção de processar a companhia.
Anac vai apurar possível infração ao código aéreo
Procurada por ZH, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) declarou que irá avaliar se houve infração ao Código Brasileiro de Aeronáutica (CBAer). Por email, a assessoria da agência escreveu: “Segundo o Código Brasileiro de Aeronáutica (CBAer), nos artigos n° 167, 168 e 169, o comandante da aeronave é autoridade em voo (desde o momento em que se apresenta para o vôo até o momento em que entrega a aeronave) e lhe é concedida a prerrogativa de desembarcar qualquer pessoa que ponha em risco a segurança da aeronave ou das pessoas e bens a bordo (…).”
O comandante aposentado e instrutor do curso de Ciências Aeronáuticas da Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS) Claudio Scherer diverge:
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– O comandante é a autoridade máxima no avião, mas depois que a porta é fechada. A meu ver, essa é uma questão a ser resolvida fora do avião, no balcão de embarque.
Clara Colker, filha da coreógrafa, escreveu um relato sobre como se desenrolou o caso, publicado por Deborah em seu perfil na rede social. Confira:
“Estava sentada ao lado da minha mãe e do meu filho dentro do avião. Um funcionário me perguntou: vc tem atestado? Falei: do q? Do medico sobre a criança. Apontando na cara do meu filho. Falei: ele esta bem, tem um problema genético, sou mãe dele e responsável por ele. Insatisfeito, O cara foi até a cabine. Voltou uma mulher funcionaria. O constrangimento começou. Falei em tom ja ríspido. Ele eh o meu filho tem eb e nao tem problema nenhum em viajar sua doença nao eh contagiosa e ele esta bem. Ja viajei inúmeras vezes c ele para dentro e fora do Brasil. Nunca passei por isso. Basta olhar para mim, p pai e para avo q vivem agarrados nele e nao tem nada. Falei p Peu filmar o q ela ia dizer. Na hora ela disse q nao falaria se fosse filmada e q nao podemos filmar. Neste momento uma mulher a 3 filas de distancia grita p mim; chama o ministério publico! Isso eh preconceito e discriminação! Comecei a chorar. O theo vendo isso tudo. Surreal. A funcionaria saiu. Ficou 10minutos fora. Jurava q o avião seguiria viagem e ainda falei , deviam pedir desculpas p theo e para mim. Volta a funcionaria dizendo q o avião só vai partir com aval do medico. As pessoas começaram a se manifestar mt. Minha mãe q estava controlada até então levantou. Afinal de contas, meu filho passaria por uma analise de um medico q iria até nosso assento para avalia-lo! Surreal! Qd o medico chegou falamos: ele tem uma deficiência Genetica! Epidermolise bolhosa! E o medico fala: Ah ! Epidermolise bolhosa! Nao tem problema nenhum. O cenário dentro do avião era: quase tds passageiros em pé, indignados, vindo falar comigo, com meu filho. Super chateados. Mts tinham conexão e estavam perdendo suas conexões. Ja tinham 40 min de atraso. O medico foi falar com o comandante. Mesmo assim o comandante disse q nos só viajaríamos se ele , o medico, fizesse atestado. Aí nao tinha papel, nao tinha carimbo… Pegou um papel branco sem nada timbrado e fez o atestado. Minha vontade era descer do avião e Qd disse quero sair daqui. A mesma mulher, a primeira a gritar sobre o MP, disse q se nos saíssemos do avião tds desceriam conosco. Me sensibilizei demais. Estavam tds as pessoas do avião super solidarias, preocupadas com o constrangimento com o Theo. Resolvi ficar no avião. Nisso ja passava 1hora de atraso e o constrangimento mega. Theo me viu chorando. Tentei disfarçar q o avião inteiro nao estava atrasado por causa dele. Sei q ele percebeu. Sei q ele eh mais forte do q esse bando ignorante. Estou mt triste.
Chegaria no rio 13h50. São 14h50 e ainda estamos no ar. Devemos chegar as 15h30. Chegamos no rio as 16h10.
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Como deve ser abordada uma pessoa com um problema de saúde aparente?”