Sentado atrás de uma mesa sobre a qual foram apresentados celulares, chips e baterias recolhidos no mesmo dia durante uma revista no Presídio Regional de Joinville, o diretor do Departamento Estadual de Administração Prisional (Deap), Leandro Soares Lima, anunciou ontem o lançamento de licitação para a instalação de um bloqueador de sinal de celular na unidade.
Continua depois da publicidade
A previsão é de que o sistema esteja em funcionamento em até 90 dias, ao custo de aproximadamente R$ 45 mil.
“Estamos analisando as empresas. Vamos nos cercar de todos os cuidados para que a implantação do sistema não esbarre em problemas legais nem tenha consequências como a interferência no sinal dos moradores da região”, afirmou o diretor.
Tanto o anúncio quanto a operação pente-fino ocorreram cinco dias após “A Notícia” revelar que detentos de todo o Estado conversam livremente em um serviço privado de chat telefônico. As gravações foram encaminhadas à Secretaria do Estado de Justiça e Cidadania (SJC), onde estão sendo analisadas.
Continua depois da publicidade
O modelo do bloqueador deve ser semelhante ao que já existe na Penitenciária Industrial de Joinville, a única unidade prisional do Estado a contar com a tecnologia. As instituições estão localizadas uma ao lado da outra, no bairro Paranaguamirim, na zona Sul. Mas, segundo Leandro, a instalação no presídio será mais complexa porque o espaço da unidade é ocupado por construções irregulares.
“Tem partes do prédio que foram sendo erguidas uma depois da outra. Pode ser que uma construção acabe bloqueando o sinal do outro lado do terreno. Será necessário um detalhamento técnico dessas situações”, observou.
Concluída no ano passado, a instalação do bloqueador na penitenciária custou R$ 55 mil ao fundo custeado pelo trabalho dos apenados da unidade. O bloqueio do sinal de celular está previsto para prisões de outras quatro cidades catarinenses, mas ainda não há prazo estipulado. O projeto ainda depende da liberação de verbas, disse Leandro.
Continua depois da publicidade
Ainda que a tecnologia seja capaz de evitar que detentos deem continuidade a atos criminosos de dentro da cadeia, outros problemas, como a entrada de drogas e de armas, exigirão outras medidas. Entre o material apreendido ontem, por exemplo, havia uma serra e 150 gramas de maconha.
No caso dos celulares, explicou Leandro, a entrada nas cadeias ocorre principalmente por meio de visitantes que escondem o aparelho no corpo. Mas o diretor também reconheceu que há casos de agentes prisionais subornados para facilitar a entrada de objetos proibidos.
Só neste ano, dois agentes foram presos em Joinville. Conforme Leandro, outros seis foram afastados. O Deap ainda acompanha o andamento de 13 procedimentos de investigação envolvendo agentes contratados e terceirizados na cidade.
Continua depois da publicidade
“Não corroboramos com qualquer desvio de conduta. A corrupção não merece outra coisa a não ser nossa repugnância”, criticou. A delegada corregedora da SJC, Caroline de Campos Vicente, também acompanhou ontem a operação e outros procedimentos investigatórios.
Até barbantes facilitam disfarce
Diante do resultado do pente-fino nas celas do Presídio de Joinville, o diretor do Deap, Leandro Lima, chegou a comentar ontem que a criatividade dos detentos não tem limites. “Escondem celular em pão, pote de café, colchão”, enumerou.
Entre os celulares apreendidos ontem, alguns estavam presos a barbantes. Segundo os agentes prisionais, é uma maneira de facilitar a retirada do aparelho depois de escondê-lo em locais de difícil acesso – inclusive no corpo.
Continua depois da publicidade
O diretor do presídio, Cristiano Teixeira da Silva, mostrou ainda um gancho pelo qual um “radinho” (no linguajar dos detentos) era atado a um vaso sanitário dentro da cela.
Com a mesma engenhosidade que conseguem acesso ao aparelho, os presos dão jeito de garantir que os celulares continuem carregados. Não existem tomadas nas celas, mas eles improvisam rabichos que distribuem a energia das lâmpadas para outros fins. É assim que conseguem ligar televisão e rádio, por exemplo.
“Eles até esquentam água usando a lâmpada. E a bateria dos celulares, carregam usando alguns dispositivos de metal que eles mesmos inventam”, explicou Leandro.
Continua depois da publicidade
Dos 24 celulares apreendidos, somente um estava em posse de um detento. Ele responderá a um incidente disciplinar e poderá perder direitos como a progressão de regime para o semiaberto.