O novo homem forte do Zimbábue, Emmerson Mnangagwa, anunciou nesta quarta-feira (22) o “início de uma nova democracia” em seu país, no dia seguinte à demissão histórica do presidente Robert Mugabe, a quem vai suceder.
Continua depois da publicidade
Poucas horas depois de seu retorno de um curto exílio sul-africano, Mnangagwa fez seu primeiro discurso público como o futuro presidente perante centenas de entusiasmados partidários, reunidos em frente à sede do partido no poder, o Zanu-PF.
“Hoje, assistimos ao início de uma nova democracia”, afirmou, chamando “todos os zimbabuanos a trabalhar juntos”.
Segundo o dispositivo redigido pelo Zanu-PF, o ex-vice-presidente tem que ser empossado presidente na sexta-feira (24), segundo o presidente da Assembleia Nacional, Jacob Mudenda.
Continua depois da publicidade
Destituído em 6 de novembro, Mnangagwa, de 75 anos, pôs fim ao reinado de Mugabe, que comandou o país com mão de ferro por 37 anos.
Sua nomeação é uma revanche para este cacique do regime, apelidado de “crocodilo” por seu caráter inflexível.
Mnangagwa, que ambicionava o poder, foi destituído por Mugabe, de 93 anos, porque este queria favorecer as ambições políticas de sua esposa, Grace.
Continua depois da publicidade
Mas desta vez, o presidente veterano calculou mal as consequências e a expulsão de Mnangagwa acabou levando à sua própria queda.
Sob a pressão do exército – que tomou o controle do país na madrugada de 15 de novembro – e das manifestações nas ruas, Mugabe se resignou ao que nunca pensou que teria que fazer um dia: renunciar.
Sua demissão foi anunciada na terça-feira, durante uma sessão extraordinária do Parlamento e provocou uma explosão de alegria nas ruas de uma população exausta após anos de crise econômica e com um regime autoritário.
Continua depois da publicidade
“Com ele no poder, a vida era um desafio. Você ia para a escola, conseguia um diploma, mas no fim acabava vendendo créditos para telefone nas ruas”, explicou à AFP Danny Time, que estudou para ser eletricista.
O primeiro desafio do sucesso de Mugabe será por a economia de pé, em um país onde 90% da população está sem emprego.
“Queremos relançar nossa economia, queremos empregos”, prometeu Mnangagwa em seu discurso. “Juro ser vosso servidor”.
Continua depois da publicidade
“Quase chorei ao ouvir nosso novo presidente. Voltei a ter esperança”, disse McDonald Mararamire, um desempregado de 24 anos. “Esperemos que as promessas se cumpram”.
– ‘Ditador’ –
O ex-número dois do regime foi nomeado no domingo presidente do partido no poder, o Zanu-PF, e candidato às presidenciais de 2018, em substituição de Mugabe.
Mas a mudança de presidente não garante “mais democracia”, afirma o analista Rinaldo Depagne, do International Crisis Group (ICG).
Continua depois da publicidade
E a população sabe disso. “Com elementos do Zanu-PF ainda no poder, tenho dúvidas de que haja avanços”, disse Munyaradzi Chihota, empresário de 40 anos. “Não queremos que troquem um ditador por outro”, afirmou Oscar Muponda, outro morador de Harare, a capital.
Emmerson Mnangagwa foi um homem-chave na estrutura de segurança do Estado e estava no comando nas sucessivas ondas de repressão das últimas décadas.
A Anistia Internacional já pediu ao novo presidente que evite os “abusos do passado”, lembrando que nos 37 anos de Presidência de Mugabe, “dezenas de milhares de pessoas foram torturadas, desapareceram ou foram assassinadas”.
Continua depois da publicidade
“O próximo governo terá que se comprometer rapidamente em reformar o exército e a Polícia, ambos instrumentos de repressão de Mugabe”, informou a ONG Human Rights Watch (HRW).
O país já parece ter virado a página dos 37 anos de Mugabe.
“Adeus, Bob! Depois de 37 anos, Mugabe finalmente renuncia”, estampou o jornal opositor NewsDay.
“Adeus, camarada presidente!”, intitulou o jornal governamental The Herald, que em um editorial mencionou, inclusive, os “erros do passado”, uma crítica impensável há apenas algumas semanas.
Continua depois da publicidade
A União Africana comemorou a decisão de Mugabe “após uma vida dedicada a serviço da nação zimbabuana”, enquanto a China disse respeitar a decisão e prometeu continuar as relações “amistosas” com o país.
bur-bed/chp/pc.zm/sgf-es/mb/mvv
* AFP
