Senhores cavalheiros, eis aqui uma dica sobre como fazer a barba corretamente: não faça. Estudos científicos comprovam que as mulheres acham homens barbados mais atraentes, além de uma parcela delas considerarem que estes serão pais melhores e mais protetores.

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Caso este dado não seja suficiente, saiba que, entre os homens, aqueles que possuem barba também são, cientificamente, levados mais a sério, já que os pelos no rosto passam um aspecto mais agressivo e masculino. Por fim, ela faz bem para a saúde: protege contra alergias, tosses e funciona como protetor solar.

Tudo bem: estas informações, vindas de pesquisas de universidades como a New South Wales e a Southern Queensland, ambas na Austrália, defendem ideias que outros estudos renegam – afinal, as mulheres acharão interessantes quem elas quiserem, assim como as culturas enxergarão os barbudos de diferentes formas, tanto como caras fortes e confiáveis quanto como terroristas. Aliás, não faz muito tempo, nossos pais a usavam para simbolizar rebeldia, ainda que hoje não concordem com os filhos peludos.

– Meu pai sempre criticou minha barba, dizia que gente barbuda não era séria. Aí encontrei fotos antigas dele nos anos 1960, 70. Ele usava barba e ainda era cabeludo – conta Humberto Reis, 21 anos, cultivando a barba há oito.

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Enquanto isso, o fotógrafo Jonas Pôrto, 40 anos, deixou que a barba crescesse há cerca de um ano e meio. Mas, se é verdade que a maioria das mulheres prefere os barbudos, a namorada dele e as filhas adolescentes dele não fazem parte deste grupo.

– A pressão para tirar é constante. Elas vão dar beijo e reclamam que pinica. Mesmo assim, outro dia postei uma foto antiga, em que estava sem barba, e minha filha se assustou, escreveu “ai, que dó”, achando que eu tinha tirado – conta ele, rindo da contradição.

Todos concordam, no entanto, apesar de muitos elogiarem pelo lado estético, que ainda há um preconceito meio velado causado pelos antigos estereótipos dos barbudos. Paulo Agostini, conhecido pelos grafites em Joinville, montou um estúdio de design com amigos e, por isso, preserva a barba mais aparada deste trio.

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– As pessoas já esperam alguém diferente quando vão fazer negócio com um designer, mas eu percebo que há um impacto negativo se dão de cara com um barbudão. A maior parte do nosso público é de empresários, que tem um estilo bem diferente, e isso influencia também.

A barba como identidade

Não faz muito tempo, Paulo Agostini se via numa situação já desnecessária para seus 20 e poucos anos. Ao tentar entrar numa balada ou comprar cerveja no supermercado, sempre pediam a identidade. O rosto com feições de adolescente mudou quando ele decidiu deixar a barba crescer, há dois anos. Não era seu estilo nem havia uma vontade muito grande de virar barbudo, mas ele ganhou essa vantagem.

– Até já aconteceram histórias engraçadas, como outro dia, quando fui numa festa com um amigo sem barba e ele precisou mostrar o RG para entrar. Mas o segurança olhou para mim e disse: “tu não precisa, que já tem barba na cara” – conta.

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O designer, que hoje tem 25 anos, nunca tinha se visto sem ser de cara limpa, já que, na hora de se barbear, tirava tudo. Mas gostou do que viu quando parou de passar a lâmina, apesar das brincadeiras da família – que não tem outros barbados – como a famosa “e aí, vai fazer um bico de Papai Noel no fim do ano?”.

– Mas acho que não ajuda a conquistar as meninas. As maioria delas gosta, mas tem muito mais coisas que elas olham para escolher com quem vão ficar – avalia ele.

Apesar de ter curtido a experiência de deixar a barba crescer, Paulo a mantém mais curta. O motivo, além da preocupação com os clientes do estúdio de design, é que ela atrapalha em alguma atividades físicas, já que pode engatar nos equipamentos. Habilidoso, é ele quem cuida dela, assim como do próprio cabelo.

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– Faz anos que não vou ao barbeiro. Para cuidar da barba, eu corto as laterais, mas não faço muito mais do que isso. E, como meu corte de cabelo é bagunçado, eu mesmo corto. Afinal, quanto mais errado, melhor.

Pelos pela vida inteira

Numa idade em que a maioria dos meninos estão contando os fios que aparecem no queixo, o estudante de publicidade Humberto Reis tinha outra preocupação: precocemente, a barba já nascia cheia e forte aos 13 anos. Envergonhado por “pular alguns degraus da adolescência”, ele até tentava se barbear.

– Acho que é a mesma vergonha que uma menina muito nova sente por já ter seios muito grandes. Eu tentava tirar, mas ao mesmo tempo tinha muita acne e me machucava inteiro ao passar a gilete. Fiquei com o rosto cheio de marcas por isso – recorda ele.

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Assim, desde o último ano do ensino fundamental a barba faz parte da vida de Humberto. E, já que não tinha jeito, ele passou a se divertir com isso: bigode, cavanhaque, costeletas – todo tipo de desenho já passou pelo rosto dele. A última vez em que se barbeou completamente, ouviu do chefe:

– Cara, não faz isso. Tu fica bem melhor de barba!

A empresa, uma subsidiária da Petrobras, não tinha problemas com o estilo do jovem. Mas, prestes a se formar em publicidade, ele percebe que ainda existe desconforto dos empregadores ao se depararem com um candidato barbudo. No caso dele, o estilo despojado – com tatuagens e um alargador na orelha para completar o conjunto – nem sempre agrada, mesmo em uma área com atividades menos burocráticas.

– Percebo que há um choque, mas acho que é porque vivemos numa época em que o corpo é muito cultuado. As pessoas pensam que precisam seguir certo padrão, e que usar barba te faz parecer sujo – avalia.

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Em contrapartida, o rosto peludo ajudou a conquistar a namorada. Andressa Lima contou que, na hora em que o conheceu, o que chamou a atenção foi a barba – aliada às cócegas que ela sentia no rosto durante os beijos.

– Meu estilo é diferenciado e acho que isso é em decorrência da barba. Foi ela que me passou confiança – diz.

A hora e a vez da barba crescer

Todos os homens da família de Jonas Pôrto usam barba, mas o fotógrafo de 40 anos só entrou para esta “linhagem dos barbudos”, como ele gosta de definir os antepassados, há pouco mais de um ano. O motivo é compreensível:

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– Eu tentava deixar crescer a barba, mas ela era muito final, muito rala. E eu não queria andar por aí com barba de guri pequeno, né? – conta Jonas.

De “guri pequeno” a cara maduro, o passo foi mesmo deixar a barba crescer. Ao mesmo tempo em que sentiu que os fios engrossaram e puderam compor uma barba de respeito, ele se incomodava de chegar aos 40 sem que ninguém acreditasse na sua idade real.

Assim, Jonas virou barbudo para começar a levar crédito pela maturidade. De quebra, ganhou mais tempo no dia e mais identificação com a própria personalidade.

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– Ter barba é muito mais cômodo. Acho um saco ficar tirando todos os dias.

A única tradição criada desde então é a ida semanal ao barbeiro, seu Antônio Lunelli. Com experiência de 42 anos, o barbeiro já viu as diferentes fases da barba na sociedade e pode afirmar: ficou muito mais comum que os jovens tenham e cuidem de cavanhaques, bigodes, “meia solas”, costeletas e barbichas.

– Eu prefiro ir ao barbeiro para cuidar, para não me incomodar. É uma relação de amizade, até porque é preciso ter muita confiança para deixar alguém passar uma navalha no seu pescoço – observa Jonas.