Pouco depois de encerrar o tratamento contra um câncer na laringe, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca em Brasília nesta quarta-feira, dia marcado para o início dos trabalhos da CPI do Cachoeira, disposto a atuar na orientação dos seus correligionários quanto aos rumos da investigação.

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Incentivador da CPI, Lula deve estimular o PT e a base aliada a bombardearem o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e o senador Demóstenes Torres (ex-DEM) para atingir a oposição às vésperas das eleições. O ex-presidente vai almoçar com a presidente Dilma Rousseff e ministros, no Palácio da Alvorada, algumas horas depois da instalação da comissão.

Nos últimos dias, o ex-presidente e sua sucessora divergiram sobre a conveniência da instalação da CPI. Lula está convencido de que as investigações vão desvendar como operava o que ele chama de “quadrilha política e empresarial” comandada pelo contraventor Carlos Cachoeira.

– Vocês vão se surpreender com o que vai surgir nessa CPI – disse o ex-presidente a parlamentares do PT, na semana passada.

Na avaliação de Lula, o esquema de Cachoeira se aliou à oposição e agiu para fabricar provas contra o seu governo. Em conversas reservadas, o ex-presidente tem dito que a CPI vai desvendar as ligações de Cachoeira com a “farsa do mensalão”. Perillo garantiu, em 2005, que alertou Lula sobre o pagamento de propina a parlamentares, em troca de apoio no Congresso. O ex-presidente nega e nunca perdoou o tucano por isso.

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Embora não tenha feito nada para evitar a CPI, Dilma teme que a comissão contamine as votações no Congresso. O governo também se deu conta de que a CPI pode trazer problemas ao Planalto porque a construtora Delta, que está no epicentro das investigações, é a que tem mais contratos para obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Por isso, a equipe governista tenta restringir o âmbito das investigações, para evitar a paralisação de programas.

– Essa CPI tem um foco determinado: o esquema de uma quadrilha, que operava com jogos clandestinos e fazia espionagem política. Pode ser que tenha outros crimes correlatos aí e é isso que vamos investigar – resumiu o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), ex-líder do governo na Câmara.

Vaccarezza era o preferido por Lula para a relatoria da CPI, mas é desafeto da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti (PT), e teve o nome vetado pelo Planalto, que acabou dando sinal verde para o deputado Odair Cunha (PT-MG).

– Está tudo bem. O importante é que Lula está com boa saúde, o cabelo crescendo e a voz firme – comentou Vaccarezza, numa referência ao fim do tratamento do ex-presidente

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À noite, o ex-presidente e a sucessora devem prestigiar a estreia do filme “Pela Primeira Vez”, no Museu Nacional. Trata-se de um documentário de 32 minutos em 3D, produzido pelo fotógrafo Ricardo Stuckert, que mostra a despedida de Lula do Palácio do Planalto e a posse de Dilma, em janeiro de 2011.