A qualidade do brasileiro no futebol, reconhecida no mundo inteiro, também tem ganhado notoriedade fora dos gramados. Com uma comissão técnica brasileira, o Al Sharjah foi o campeão da Liga dos Emirados Árabes Unidos, e entre os profissionais estava o preparador físico Cléber Medeiros. Catarinense, ele começou a carreira no Criciúma, e em território árabe, ajudou o novo clube a conquistar um título após 23 anos de jejum.

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Terceiro maior entre os sete emirados que formam o país, Sharjah tem pouco mais de 1,5 milhão de habitantes. Fica há cerca de 20 minutos do centro de Dubai e, por ali, um grupo de brasileiros tem contribuído para colocar o futebol em destaque. O técnico é local, Abdulaziz Al Ambari, e foi o primeiro treinador árabe a vencer a Liga em 43 anos de torneio.

Há dois anos no futebol do Oriente, o preparador conta que os maiores desafios não são ligados diretamente ao esporte. O forte calor obriga adaptação, principalmente em trabalhos físicos. Durante o verão, eles costumam ocorrer à noite e, mesmo assim, as temperaturas ultrapassam os 35°C.

– Agora na pré-temporada em muitos dias a temperatura vai bater acima dos 50°C. Por isso, vamos para a Europa, com calor menos intenso e onde conseguimos trabalhar dois turnos. Nos Emirados, a gente treina à noite, mas, mesmo assim, chega a 38°C, a umidade também acima dos 80%. É quase desumano jogar nesse ambiente – conta Cléber.

Os costumes e a religião também são marcantes na cultura local, e precisam ser respeitados. Adeptos do islamismo, os árabes costumam parar cinco vezes ao dia para rezar. Nesses horários, qualquer atividade é interrompida e, por isso, a importância de pensar um cronograma que não interfira nem no trabalho de Cléber, nem nos costumes locais.

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– As viagens também precisam ser monitoradas para não cair no horário de rezas. Tudo gira em função dessa crença, o país literalmente para nesses momentos – comenta.

Durante o Ramadã, em que os adeptos do islamismo jejuam por 30 dias entre o nascer e o pôr do sol, mais um desafio para atletas e comissão. Alimentação e hidratação estão liberadas após as 18h, e depois de um descanso, os jogadores podem iniciar os treinos. Nesses dias, o trabalho costuma se estender até a madrugada.

Cleber celebra a conquista de maior torneio dos Emirados Árabes Unidos
Cleber celebra a conquista de maior torneio dos Emirados Árabes Unidos (Foto: Divulgação, Al Sharjah)

– A gente tem dados de redução de performance de alguns atletas nesse período. Para um atleta de futebol ficar durante 12 horas em jejum por 30 dias não é nada saudável, é um desafio. Para nós, da preparação física, a gente encara isso como uma forma de superação mesmo, do próprio atleta – avalia.

Depois de período de férias no Brasil, Cleber embarcou para a pré-temporada com o Al Sharjah na Europa, na Alemanha e na Holanda.

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Prestígio brasileiro

Além de ajudar na conquista de um título não comemorado há mais de duas décadas, o trabalho da comissão técnica tem ajudado a resgatar o prestígio dos brasileiros no futebol árabe. Um dos primeiros a abrir caminho, em 1984, foi Carlos Alberto Parreira, quando treinou a seleção do país. Depois, em 1990, ele comandou o Emirados Árabes Unidos na primeira e única participação até aqui em Copas do Mundo.

Dali em diante, os árabes passaram a contar cada vez mais com brasileiros em seus times. Zagallo, o atual técnico da seleção brasileira Tite, Abel Braga, Paulo Autuori, Paulo Bonamigo, entre outros nomes, tiveram passagens por lá. Hoje, Paulo Comelli, que comandou o Criciúma na campanha do acesso à Série A em 2012, é o único brasileiro em atuação. Ele tem contrato assinado para a temporada 2019/2020 pelo Khor Fakkan Club.

– Para nosso país é importante. Os brasileiros já tiveram um mercado muito maior nos Emirados. Hoje está escasso para treinadores brasileiros, só tem um na Liga. Mesmo nosso treinador sendo árabe, é reconhecido que há um staff brasileiro, o que nos abre mercado. Fico feliz por dar uma pequena contribuição, como preparador físico, de saber que daquele fruto você tem uma parcela – complementa Medeiros.

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