Agora aposentado dos gramados, Marquinhos, camisa 10, capitão e ídolo do Avaí, escolhe gols, jogos, adversários, companheiros e mais dos 20 anos de carreira. Confira a seguir um bate-bola sobre a trajetória do craque.

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Um jogo marcante

Contra a Chapecoense, em 2009 (decisão do Estadual, com vitória por 3 a 1 no tempo normal e 3 a 0 na prorrogação). Foi meu segundo jogo depois de lesão grave e fiz aquilo tudo. Joguei literalmente com uma perna só. Eu não podia acelerar muito, só trotar em campo, e marquei dois gols que deram o título ao Avaí após mais de 10 anos. O jogo me marcou por passar a semana tratando, pelo treino dos cinco mil na Ressacada, pelo que passei.

Uma tristeza no futebol

A perda das pessoas que a gente gosta. Lesão a gente cura. Teve o (André) Podiacki, o Djalma (Araújo) (ambos profissionais da NSC), o (ex-presidente João Nilson) Zunino, o Gastão (Dubois, assessor do clube), o seu (Fernando) Bastos, meu sogro… Pessoas que nos acompanham, que ajudam a gente. Depois que acaba a partida, eu imaginava eles comemorando, cada um na sua função. Estou certo que, onde estiverem, estão felizes com o nosso sucesso.

Confira a entrevista em vídeo.

Gol mais bonito

Contra o Bahia (4 a 1 do Avaí, pela Série B de 2008). Tem a antecipação, ganhar na velocidade de alguém, algo raro para mim. Cabeceei na frente porque eu sabia que tinha poça e iria parar lá, por conhecer a Ressacada. Sempre teve aquela poça, desde que me conheço por gente. E a finalização que foi primordial. Eu atraso a passada, acham que tropeço, para pegar bem embaixo.

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Gol mais importante

Sobre o Vasco, de pênalti (1 a 0 na Ressacada que deu o acesso à Série A, em 2014). É que o Zunino dizia que eu não sabia bater pênalti. Toda vida que a gente batia a pelada de fim de ano tinha aquele pênalti de qualquer jeito, nem que fosse cometido na área de defesa. Ele batia e fazia sempre, até porque era combinado com o goleiro. Era motivo para ele tirar sarro de mim. “Tu não sabe bater pênalti, Galego. Vou te ensinar”. Naquele dia, teve o pênalti, fiz e os resultados deram certo. Aí, depois do jogo, fui nele. “Tu aprendeu comigo”, ele respondeu.

Um companheiro de time

Tive vários. Mas meu companheiro, e acho que eu atrapalhei a vida dele, foi o meu irmão. Se ele não fosse meu irmão, ele jogaria mais, mais tempo, ficaria no Avaí. Carregou um fardo muito grande, e eu sabia disso. Mesmo assim, ele batalhou e não quis ser o irmão do Marquinhos. Quis ser o Gustavo, filho do Seu Luiz (com lágrimas nos olhos). Ele aguentou cobranças e nunca abaixou a guarda. Muitos jogadores com menos qualidade que ele jogaram no Avaí. Ele tinha que fazer tudo nota 10. E se fosse tudo 10 e na última prova fosse 6, não valia. Disseram que jogava por causa de mim, e eu nunca interferi em nada. Já empreguei jogadores, mas nunca ele. E todas as vezes que eu precisei, ele estava do meu lado. Os caras que passaram no Avaí gostam mais dele do que de mim, porque ele tem um coração muito bom.

 BIGUAÇU, SC, BRASIL - 30/11/2018Marcos Vicente dos Santos, o Marquinhos, atacante ídolo do Avaí
Foto: Marco Favero / Diário Catarinense

Um adversário

Sempre tirei o chapéu para o Fernandes, não tem jeito. Por mais que a característica e a personalidade sejam diferentes, ele é acima da média. Várias vezes tomei as dores dele, o que fizeram com ele no Figueirense eu não aceito até hoje, por mais que façam uma estátua para ele. Não aceito a forma que saiu do Figueirense (em 2012). Quem trabalha com honestidade não pode ser sacaneado. Ele carrega a bandeira do Figueirense, como eu a do Avaí. Sou amigo particular dele.

Um sonho realizado

Ter jogado no Avaí. Por mais que eu tenha jogado em grandes clubes do Brasil, meu sonho era jogar no Avaí. O Avaí, para mim, era muito distante. Eu era um menino de Biguaçu que vivia só na várzea com o pai, jogava em campinho de terra. Quando veio o teste, eu não acreditava. A minha vontade era jogar futebol de salão, porque achava que o campo estava muito distante de mim, do que eu vivia.

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Um sonho não realizado

Ter colocado a camisa da Seleção. Faltou um pouquinho. Uma vez achei que seria convocado, estava no São Paulo (2004), e machuquei. E teve quando eu estava no Paraná em 2003, em que fiz um bom Campeonato Brasileiro, em que disputei a Bola de Prata e tudo. Não fui porque eu estava no Paraná. Se tivesse em um time de Rio e São Paulo eu seria convocado. Teve outras fases boas, como a do Santos (2010), mas a concorrência era praticamente desleal. Era Ronaldinho, Kaká… Joguei na época do Alex (Palmeiras e Cruzeiro), que não foi para a Copa do Mundo. Se o Alex vestiu a camisa da Seleção e não foi para a Copa do Mundo, do que eu vou reclamar? Era um sonho que queria realizar e não consegui. Isso não me faz falta, mas vestir a camisa do País é coisa mais linda do mundo.

 FLORIANÓPOLIS, SC, BRASIL - 29/11/2018Marcos Vicente dos Santos, o Marquinhos, atacante ídolo do Avaí
Foto: Marco Favero / Diário Catarinense

Um dirigente

Zunino, não tem jeito.

O que mais vai sentir saudade

Das brincadeiras de vestiário. Vocês podem imaginar o que rola, com 30 jogadores, mas jamais vão saber exatamente o que acontece. É muito legal. Quer ver quando tem o fim de semana livre, cada um vai para o seu canto e na segunda tem treino. É resenha de tudo que é lado. Tem mentirinhas, algumas, porque jogador não tem derrota, só vitória (risos). Os churrascos são legais pra caramba, sempre saem pérolas, umas coisinhas que dão assunto para o ano todo.

Avaí em uma palavra

Magnífico.  

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Foto: Marco Favero / Diário Catarinense