A condenação imposta nesta terça-feira pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que reconheceu o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu como chefe da organização criminosa que operou o mensalão, é mais um looping na biografia do petista, considerado o homem forte do começo do governo Lula. Aos 66 anos, Dirceu, que um dia sonhou e se preparou para ser presidente da República, se apronta para virar mártir do partido que ajudou a fundar. Para a militância, será o ícone de uma punição de contornos mais políticos do que jurídicos.
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– A confiança na figura do Zé seguirá inabalável – assegura um assessor petista.
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Muito do culto reside na trajetória de Dirceu. Mineiro de Passa Quatro, migrou para São Paulo aos 15 anos, no começo da década de 60. Acadêmico de Direito, dono de vistosos e longos cabelos negros, virou uma espécie de pop star da esquerda. Era vigiado pela polícia, andava sempre armado, evitava dormir na mesma casa, porém acabou preso durante o 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE).
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Dirceu passou um ano detido, foi solto na troca de presos políticos pelo fim do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick. Exilado em Cuba, aprendeu técnicas de guerrilha, fez uma cirurgia plástica para mudar as feições do rosto, voltou ao Brasil, regressou a Cuba e voltou ao Brasil na clandestinidade.
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De óculos e bigode, Dirceu se ocultou em Cruzeiro do Oeste, interior do Paraná. Adotou o nome de Carlos Henrique, casou-se, mas só revelou a verdadeira identidade à mulher em 1979, com a anistia. Deixou a família, desfez a cirurgia plástica, fundou o PT. Virou uma figura histórica da legenda. Deputado estadual e federal, presidiu a sigla, coordenou a vitoriosa campanha presidencial de Lula.
– Ele (Dirceu) foi o grande responsável pelas articulações que levaram Lula ao poder. Mas vendeu a alma do partido, se afastou dos ideais que criaram o PT, patrolou quem pensava o contrário – analisa um interlocutor.
Ministro-chefe da Casa Civil, Dirceu viu o sonho de vestir a faixa presidencial se aproximar. Porém, houve o mensalão. A convulsão de 2005 fez o petista renunciar, ter o mandato de deputado cassado e ainda o deixou inelegível. Lançado à planície, ganhou dinheiro como consultor empresarial. Sete anos depois do escândalo, o ex-ministro via no julgamento a chance da redenção, do regresso à vida pública. Nesta terça-feira, teve o sonho sepultado pelo STF.
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