Há duas semanas, Edineia Telles se mudou para um apartamento em Presidente Getúlio, no Alto Vale do Itajaí, junto com os dois filhos pequenos. Decidiu deixar para trás um casamento marcado por episódios de violência e ameaças. Os planos, porém, foram interrompidos pelo ex-companheiro e pai dos meninos de dois e quatro anos: o homem confessou ter matado ela e as crianças a tiros dentro da casa onde a família morava. Os corpos foram encontrados carbonizados no interior de um carro na cidade vizinha, Ibirama, nesta quinta-feira (29).
Continua depois da publicidade
Receba notícias de Blumenau e região por WhatsApp
O crime foi descoberto exatamente um mês depois de Edineia pedir uma medida protetiva contra o ex-esposo. A história de violência, no entanto, é mais antiga. Ivone Koepsel conta que há dois anos, quando Edineia e Gilson Haskel compraram o imóvel no bairro Pinheiro, no terreno ao lado do dela, a mulher pediu socorro por conta de um episódio agressivo de Gilson. Sabendo das armas dentro do lar, Edineia recorreu à Ivone ao temer pela própria vida.
O tempo passou, mas as brigas não pararam. Gilson trabalhava com extração de madeira na região e era da rotina dele parar no bar toda vez que voltava do serviço, contaram testemunhas. Com passagens policiais por lesão corporal e ameaça, apresentava um perfil ciumento e violento.
Quando conseguiu pedir o fim da união, a mulher passou a ouvir que seria morta. Decidiu então registrar um boletim de ocorrência contra o pai dos filhos dela no dia 29 de julho. Desde então, dedicou-se a procurar um novo espaço para morar com os pequenos enquanto cuidava da casa, do trabalho em uma malharia e dos dois. Encontrou um apartamento e pediu a opinião de Ivone, que acabou se tornando uma amiga. Apesar da medida protetiva, encontrou o ex em momentos de “trégua”, já que ele chegou a ajudar na mudança e a comprar alguns móveis que faltavam.
Continua depois da publicidade
Na terça-feira (27), teria ido à antiga residência para tratar sobre as questões do divórcio, como pensão dos filhos e outros detalhes, contou o delegado do caso, André Amarante.
— Eu ainda não consegui chorar porque não caiu a ficha. As crianças viviam aqui, chamavam a gente de “opa” e “oma” — lamenta Ivone.
Quatro disparos
A câmera da casa de Marcelina Cani, também vizinha, captou o barulho dos quatro disparos, na tarde de terça-feira (27). Ela saiu para olhar, mas não entendeu do que se tratava. Familiares de Edineia estranharam o sumiço e começaram a pedir ajuda nas redes sociais para encontrá-la. Ainda de acordo com a comunidade, naquela terça à noite o autor chegou a sair para beber em um boteco.
Conforme a Polícia Civil, ele chamou o irmão e com o auxílio dele colocou os corpos dentro do carro da mulher e levou o veículo até Ibirama, em uma região no interior da cidade. Lá, atearam fogo no automóvel e o jogaram em uma ribanceira, com duas vítimas no porta-malas. Uma das crianças foi encontrada fora do carro, com o corpo parcialmente queimado.
Continua depois da publicidade
Quem encontrou os corpos foi o aposentado Pedro Bittelbrunn. Ele faz o trajeto pelo bairro Dalbérgia, em Ibirama, toda semana. Nesta quinta (29), porém, foi surpreendido com um carro queimado às margens do caminho, por volta das 11h. Logo percebeu que o cenário era ainda pior do que imaginava ao ver os ocupantes carbonizados. Ele então chamou a PM.
— Tenho filhos e netos. Essa noite eu não dormi. Não dá nem para explicar. Isso é muito triste — disse segurando as lágrimas.
Para a família, é impossível evitar o choro. A irmã de Dina, como era carinhosamente chamada Edineia, revelou que ainda não há previsão de velório por conta do estado em que os corpos foram encontrados. É preciso fazer testes de DNA para confirmar as identidades.
Edineia sonhava ser mãe e não escondeu a alegria ao saber das duas gestações, lembrou a amiga Alessandra Cipriani. Sempre simpática e brincalhona, trabalhava muito pelo futuro dos meninos e pelos próprios sonhos. O mais recente, o de viver livre de ameaças e agressões, não chegou a ser realizado. No mês dedicado à conscientização para o fim da violência contra a mulher, Dina se tornou mais uma vítima de feminicídio em Santa Catarina.
Continua depois da publicidade
Veja fotos
Pai e ex-marido confessou o crime
O autor, que confessou o crime, foi preso no Paraná enquanto tentava sair do país. Ele disse no primeiro interrogatório que a motivação teria sido as dívidas acumuladas pelo casal e a intenção de Edineia de se separar oficialmente.
Com um revólver e uma espingarda, atirou contra ela e os dois filhos. Depois, enterrou as armas, escondendo uma delas na horta que fica aos fundos da própria casa e a outra levando para o terreno do irmão, na mesma cidade.
Ele ainda teria relatado aos policiais que decidiu ir para o Paraguai por ser um país “com justiça”.
Leia mais
Assassino de quatro crianças em creche de Blumenau é condenado a 220 anos de prisão