A busca por tratamentos personalizados e mais eficazes para os pacientes de psiquiatria foram o ponto de partida para a criação da startup GnTech, empresa que realiza testes farmacogenéticos, que analisam o DNA dos pacientes para indicar quais medicamentos serão mais indicados em um tratamento. A mente por trás da iniciativa é a do médico psiquiatra Guido Boabaid May, fundador e CEO da empresa, com sede em Florianópolis.
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Com um avô médico como inspiração desde pequeno, Guido é natural de Tubarão, no Sul do Estado, e conta que a psiquiatria surgiu como uma paixão já no início do curso de medicina na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
— Foi uma espécie de ‘amor à primeira vista’, na primeira aula da terceira fase — relembra Guido.
Depois de formado, ele se especializou na UFRGS e retornou a Florianópolis, onde iniciou a carreira como psiquiatra e psicoterapeuta. Na época, com o tema da depressão ainda pouco falado, Guido publicou o livro chamado “Ana Maria está feliz”, com uma história fictícia sobre perder o medo de procurar ajuda psiquiátrica.
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Mas se toda história tem um “ponto de virada”, a de Guido foi em 2011, em um congresso de psiquiatria no Havaí, nos Estados Unidos. Foi lá que pela primeira vez teve contato com os testes farmacogenéticos, que ainda estavam em fase inicial no país.
Desde que teve contato com essa tecnologia, ele sabia que gostaria de utilizar com seus pacientes. Assim, no ano seguinte teve início a GnTech, que através de parcerias com empresas americanas começou a oferecer os testes farmacogenéticos para o mercado brasileiro.
Foi nesse momento, em idas e vindas aos Estados Unidos, que o médico, ao lado da esposa Paula Pedrassani Boabaid May, e da equipe, foram aprendendo a como desenvolver um teste próprio, adaptado para a população mais miscigenada do mundo: a brasileira.
Foram anos de investimento em tecnologia própria, até que em 2017 a empresa lançasse um teste 100% produzido pela GnTech. De lá para cá, além de aprimorar o produto, a startup conseguiu conquistar o mercado.
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— A GnTech é líder e também pioneira no mercado, e representa atualmente 80% de market share da indústria no país. O nosso teste está na sexta versão, que todo ano é atualizada — destaca o fundador e CEO.
A empresa detém ainda o maior banco de dados farmacogenéticos do Brasil, tendo realizado cerca de 16 mil testes, que são utilizados também para produção científica de artigos e estudos.
Mas afinal, o que é um teste farmacogenético?
O teste farmacogenético examina o perfil genético de uma pessoa para prever como o seu metabolismo irá reagir a determinados medicamentos. São avaliadas variações genéticas que podem comprometer a eficácia do tratamento ou ainda intensificar efeitos colaterais de medicações.
— Um bom teste farmacogenético precisa analisar um número de genes robusto, escolhidos a partir de curadoria rigorosa, que irá indicar quais remédios terão tais comportamentos — detalha o médico.
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O uso do teste substitui o método de tentativa e erro, geralmente utilizado por médicos na hora de escolher um tratamento. Com isso, os profissionais conseguem chegar a um procedimento personalizado para o paciente, conforme as características genéticas, de forma mais rápida.
Além de uma maior eficácia e da economia financeira ao paciente, tornando o processo de encontrar o medicamento adequado muito mais assertivo, o uso do teste também prevê uma melhor adesão, já que reduz os efeitos colaterais.
— A cada tentativa falha de um tratamento, como a depressão, a doença se agrava. O teste aumenta a chance de acerto — afirma.
Foco na saúde mental
Atualmente, os testes oferecidos pela heathtech tem foco em tratamentos de saúde mental, como depressão, ansiedade, TDAH, bipolaridade, TEA e síndrome do pânico. O foco se dá pela especialidade de Guido e também por uma decisão estratégica da empresa.
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Contudo, conforme um maior número de estudos científicos de outras especialidades, dentro da farmacogenética, foram publicados, a empresa ampliou o serviço, e atualmente também oferta um teste completo, que inclui tratamentos de cardiologia, oncologia, infectologia, gastroenterologia e outros medicamentos.
— Cerca de 50% dos nossos clientes optam por fazer um upgrade para o teste completo — explica o psiquiatra.
Os resultados no tratamento da depressão têm se mostrado promissores. De acordo com o médico, o uso do teste já demonstrou um aumento de 50% na taxa de remissão da depressão em oito semanas, e 30% da taxa de resposta. Em 24 semanas, esses índices dobram.
Entre os desafios para o crescimento da startup, Guido destaca a curva de assimilação dos médicos, que demoram em aceitar uma nova tecnologia. Atualmente, há mais de 4 mil médicos parceiros, que contam com uma equipe da GnTech para auxiliar na análise dos resultados dos testes. A healthtech também possui parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, para as análises dos resultados.
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A empresa ainda atua com educação médica e oferece cursos de formação em farmacogenética. Com sede em Florianópolis, há equipes que atuam nas diferentes frentes da tecnologia, em setores como bioinformática, desenvolvimento de algoritmo, laboratório de genética, entre outros.
Médico reforça importância da medicina personalizada
O profissional ainda afirma que os planos de saúde têm buscado a empresa cada vez mais, e realizado reembolso de pacientes mais frequentemente. Não é obrigação dos planos incluir ou ressarcir as despesas dos testes, de acordo com o Rol de Procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar(ANS). Contudo, os resultados positivos já têm chamado atenção segundo o psiquiatra.
Guido defende a proposta da medicina personalizada. Ele explica que é necessário avaliar o contexto psicossocial do paciente junto ao DNA e compreender fatores que desencadeiam a doença, como rotina, hábitos, saúde, consumo de álcool ou drogas e também a genética.
Já na parte do tratamento, a abordagem precisa ser feita a partir do DNA, com cuidados na parte psicossocial, mudanças de hábitos e também remédios.
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— É aí que a gente entra. Personalizar o tratamento deve ser rotina. Um estudo feito com 490 mil pessoas já mostrou que 99,5% tem pelo menos uma variante que gera resposta farmacológica atípica — afirma o médico.
Healthtech de Florianópolis é pioneira em testes farmacogenéticos
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