A prisão arbitrária de Luis Carlos Cancellier, o Cau das lutas estudantis dos anos 1980, jornalista de O Estado, da assessoria parlamentar na Constituinte de 1988, advogado, atual reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, mas também o Cau filho do lavador de carvão de Capivari, da costureira e camponesa da Palmeira Alta, que nasceu e cresceu no meio rural e operário, foi o grande espetáculo do momento no circo das tragédias pessoais a serem expostas ao prazer alheio dos que se alimentam de restos, como hienas, como nas arenas da Velha Roma.
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O processo é por obstrução de Justiça – de quem quer ver cumprida a Justiça – mas que passa pelo leitor menos atento como desvio de dinheiro, para o júbilo de seus algozes que ainda aguardam o grande momento de atacar a carniça. Esperam os leões partirem ao ataque para, com muito menos trabalho e esforço, roerem o resto de carne colada aos ossos da presa.
Ao cidadão que ainda tem a esperança de viver uma grande virada, de ver os verdadeiros bandidos pagando por seus crimes e desmandos, resta o olhar atônito e espantado. Não haverá aplausos, só vergonha. Vergonha de ver quem sempre esteve à frente das mais marcantes lutas populares em favor da Justiça e da liberdade, privado de Justiça e de liberdade. Alguém que jamais fugiu a seus deveres ou precisou esconder-se de quem quer que seja. O jornalista que retornou aos bancos da universidade com mais de 40 anos de idade, para concluir o curso de Direito e transformar-se, em menos de 15 anos, no atual reitor da UFSC, paga o preço da paralisia de uma sociedade que não consegue mais reagir. Ouve-se que isto é absurdo, injustiça, perseguição. Mas nem mesmo a decisão da Justiça que o mandou soltar corrige a decisão da “justiça” que o mandou prender.
Um único alento, talvez: acreditar que os fatos serão esclarecidos, acreditar na força da verdadeira Justiça.
*Cristiana Vieira é professora na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
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