Dentro do futebol, são muitos os atletas que precisaram deixar o mundo da bola, por qualquer que seja o motivo. Allan Roden, goleiro que defende o Carlos Renaux, caminhava para ter uma história dessas, mas um convite mudou tudo. Em entrevista exclusiva ao NSC Total, ele conta o caminho de dificuldades que enfrentou até chegar à elite do Campeonato Catarinense.

Continua depois da publicidade

Veja os times na disputa do Campeonato Catarinense 2026

Influência do pai e início no futebol

Natural de Brusque, Allan virou goleiro por influência do pai, que atuava na posição no futebol amador. Fez as categorias de base no Athletico, permanecendo no clube de 2014 até 2019. Depois da passagem pelo Furacão, chegou em Florianópolis para defender a camisa do Figueirense, sendo integrado primeiramente ao elenco sub-23.

Atleta fez base no Athletico (Foto: Acervo Pessoal)

Naquela época, o Figueira atravessava o momento mais difícil de sua história. Jogadores, comissão técnica e funcionários estavam há meses sem receber salários. A ajuda de custo, que deveria ser paga aos atletas de base, chegou à marca de um ano sem ser depositada, antes do fechamento efetivo das categorias de juniores do clube. No alojamento do Estádio Orlando Scarpelli, relatos de garotos que não tinham dinheiro para comprar itens essenciais do dia a dia.

Foi nesse contexto turbulento que o goleiro de 19 anos viria a ser relacionado para uma partida pela primeira vez no elenco profissional, contra o Cuiabá, fora de casa, pela Série B de 2019.

Continua depois da publicidade

No entanto, Allan nem mesmo entrou em campo com a camisa alvinegra. Literalmente. Naquela ocasião, em um episódio que entrou pra história, o elenco do Figueirense se recusou a entrar em campo, levando a equipe a sofrer um W.O. na competição nacional, perdendo automaticamente por 3 a 0.

Figueirense foi derrotado por W.O. contra o Cuiabá, em 2019 (Foto: Premiere, Reprodução)

— Meu período no Figueira foi de muito aprendizado, mas também complicado pelo momento que o clube vivia. Acredito que muitos dos jogadores daquela época ficaram marcados por esse momento (do W.O.). Mas acho que isso foi bom para o Figueirense, porque culminou na saída da empresa que administrava o clube — opinou Allan.

Estreia pelo profissional, rodagem e 1º título

Depois disso, recebeu oportunidades para atuar na Copa Santa Catarina 2019, podendo finalmente estrear profissionalmente contra o Joinville, em 8 de setembro. Em 2020, deixou o clube catarinense e teve de dar um passo para trás. O goleiro acertou com o Verê, que disputava a terceira divisão do Campeonato Paranaense.

Allan Roden com a camisa do Figueirense (Foto: Acervo Pessoal)

Depois de apenas oito jogos na temporada, se transferiu para o São Carlos-SP, equipe que jogava o Campeonato Paulista Segunda Divisão, equivalente ao “A5”, ou seja, quinta divisão do futebol de São Paulo.

Continua depois da publicidade

Mesmo sem grande destaque no clube paulista, Allan foi contratado pelo Brusque, clube de sua cidade natal, para a disputa do Campeonato Catarinense de 2022. Embora reserva durante toda a campanha, foi no Quadricolor que o atleta conquistou seu primeiro título no futebol profissional, levantando a taça de campeão estadual naquele ano.

Allan jogou pelo Brusque em 2022 (Foto: Acervo Pessoal)

Ainda em 2022, recebeu uma proposta para defender o Marcílio Dias e também fez parte da campanha de campeão da Copa Santa Catarina, mas sem receber oportunidades como titular da equipe.

No ano seguinte, foi defender o Carlos Renaux, também de Brusque. O goleiro não jogou durante o Catarinense Série B daquele ano, e o time foi eliminado nas quartas de final, não conseguindo subir à elite do futebol de Santa Catarina.

Pausa na carreira

Então, em janeiro de 2024, Allan recebeu uma notícia que mudaria o rumo da sua história. Seu pai foi diagnosticado com câncer no reto, e assim o goleiro teve de tomar a decisão mais difícil de sua trajetória no futebol: a pausa na carreira.

Continua depois da publicidade

Goleiro foi campeão da Copa SC 2022 pelo Marcílio Dias (Foto: FCF, Divulgação)

— Naquele momento foi muito difícil largar tudo, depois de ser campeão catarinense e da Copa SC. Mas eu queria estar perto da minha família porque eu precisava chegar rápido até o meu pai se acontecesse alguma coisa. Se acontecesse algo e eu não pudesse ir até ele, isso iria me marcar pelo resto da minha vida — explicou o atleta.

Durante o período afastado dos gramados, Allan mudou temporariamente de profissão. O atleta trabalhou como gerente em um supermercado da família, em Brusque, e conseguiu dar apoio ao seu pai não somente durante o tratamento da doença, mas também no emprego. Essa foi a rotina do goleiro durante um ano e meio.

Nova oportunidade e jogo do acesso

Foi então que Allan recebeu um convite que mudaria sua história no futebol. O Carlos Renaux fez uma proposta ao jogador para compor o elenco que disputaria a Série B do Campeonato Catarinense de 2025. Mesmo sabendo que não teria muitos minutos, ele aceitou o desafio.

— Agradeço demais a confiança do presidente, que conhece a minha família e apostou no meu trabalho, mesmo sabendo da minha situação. Foi muito gratificante esse reconhecimento — contou.

Continua depois da publicidade

Durante a competição, o inesperado aconteceu. O goleiro titular do Carlos Renaux, Airon, se lesionou na partida contra o Metropolitano, válida pela ida das semifinais da segunda divisão do Catarinense.

Goleiro chegou ao Vovô em 2025 (Foto: Juh Souza / @juhphoto)

Então, Allan recebeu sua primeira oportunidade como titular do clube, logo na partida que valia a promoção da equipe para a elite do futebol catarinense em 2026. Em 16 de agosto de 2025, o Carlos Renaux venceu o Metropolitano por 2 a 1 e conseguiu o acesso para a Série A do Campeonato Catarinense depois de 42 anos.

Confira: Vovô de SC vence o Metropolitano e volta à elite do Campeonato Catarinense

— A gente que é da cidade sabe o que isso significa para o clube. Depois de tanto tempo fora, com toda a história do porquê deixou de disputar o campeonato naquela época (1984), voltar a disputar o Catarinense significa muito pra todo mundo — celebrou o atleta.

O episódio da história do Carlos Renaux que Allan Roden faz referência é a enchente de 1984, que afetou a cidade de Brusque e causou danos graves ao Estádio Augusto Bauer, casa do Vovô do futebol catarinense. Com isso, a equipe precisou se licenciar na Federação Catarinense de Futebol (FCF) e, como resultado, perdeu os últimos seis jogos por W.O..

Continua depois da publicidade

Além do triunfo dentro de campo na Série B do Catarinense, Allan também comemorou uma grande vitória fora dele.

— Meu pai já encerrou o tratamento de câncer e está muito bem, graças a Deus — contou.

Agora, o Carlos Renaux está na final do Catarinense contra o Camboriú. Na partida de ida, as equipes empataram em 1 a 1, em Imbituba, no sul do estado. As equipes jogam novamente no domingo (31), às 15h, no Augusto Bauer, em Brusque.

No primeiro jogo da final, Allan continuou sendo titular da equipe brusquense. Perguntado sobre uma possível renovação, o goleiro contou que só vai pensar nisso depois da decisão.

— Vamos conversar depois do fim da Série B. Agora estou pensando só na final contra o Camboriú, a gente sabe que eles são uma equipe muito qualificada e vai ser um jogo super difícil, mas estou pronto pra agarrar a oportunidade de novo — concluiu.

Continua depois da publicidade

Leia também

Jogador perde chuteira no gramado e protagoniza lance inusitado na Série D

Seleção Brasileira define adversários para amistosos em outubro

*Matheus Welter é estagiário sob a supervisão de Marcos Jordão