O estudo Rolé Jovem, que acaba de ser divulgado pelas agências República e Lupa, reforçou muito do que se pensa sobre a Geração Y, com direito à rejeição de hierarquias e dispensa à vontade de trilhar carreira em um só emprego. A sacada nova seria a de que esse perfil extrapola o cerco da idade, e mesmo os nascidos na era “millennial” não formam um monobloco comportamental.

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– Ser jovem já não tem a ver com cronologia, mas com estilo de vida. Eles estão se conectando mais por interesses do que por bairros ou classes. Está havendo uma desterritorialização, um verdadeiro mashup. Não tem mais o cara do rock ou o nerd, e sim momentos disso tudo – afirma André Mota, sócio e head de estratégia da República.

A pesquisa com 140 pessoas de 14 a 35 anos concluiu que nascer por meados dos anos 1980 não é algo assim tão determinante.

– Tivemos contato com jovens “supercaretas”, que queriam casar virgens, que não bebiam, não eram empreendedores e buscam estabilidade na carreira. Não dá muito para enquadrar – observa André.

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Ainda assim, os “especialistas em jovens” conseguiram identificar quatro “traços comportamentais” ou “diretrizes geracionais”. São eles:

1. Egotruísmo

Não precisa se sacrificar para promover o bem geral. A gurizada está totalmente disposta a melhorar a sociedade, com a condição de que a empreitada seja prazerosa – algo como um hedonismo consciente.

Como os jovens acham “difícil encontrar propósito nas empresas”, em geral muito voltadas a resultados e fechadas para a inovação, o empreendedorismo acaba se tornando uma “válvula de escape”.

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2. Ressignificação

Abaixo os tabus. Na política, o negócio é tentar uma pequena revolução. Ao mesmo tempo em que o jovem critica o político com o refrão do “não me representa”, busca também “começar a mudança por si mesmo”. Como o alcance de ações individuais é limitado, a ideia é exercer influência em “questões micro”.

Uma das noções mais ressignificadas é a do sucesso. Em relação à educação, sucesso é encontrar e investir no que se gosta. O trabalho serve para monetizar o que se ama. Já o relacionamento afetivo ideal é com alguém que tenha os mesmos objetivos. A vontade de casar cede espaço para a busca de pessoas com quem se possa “dividir momentos”. Quanto ao dinheiro: apenas o bastante para viver sem preocupação.

3. Transitoriedade

Eterno insatisfeito, o jovem quer buscar algo que tenha algum propósito, sem se preocupar com rótulos ou com a opinião dos pais. Primam pela experimentação e por “um mundo de possibilidades“.

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4. Imediatismo

O retorno deve ser instantâneo, a mudança de postura é para já, os resultados são para ontem. Os intermináveis recursos ofertados pela internet dão a entender que nada está fora de alcance. O atual estagiário acredita estar apto para assumir um cargo de gerência. O lado negativo dessa inquietude é a porta aberta para a angústia e a frustração com os amargos da vida.

O Rolé Jovem, que entrevistou a juventude do Rio de Janeiro, corrobora os resultados de pesquisa da Fundação Instituto de Administração da USP em São Paulo. Na maior cidade do país, praticamente todos os entrevistados que nasceram entre 1980 e 1993 estavam interessados em fazer o que gostavam, entendendo que o trabalho deve servir para a realização pessoal.

Coerência na seleção

Levantamento da unidade de recrutamento Page Talent divulgado nesta semana indica que 43% dos jovens se consideram inexperientes ou despreparados em relação às vagas disponíveis no mercado. Foram entrevistadas mais de 460 pessoas com idades entre 18 e 24 anos.

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– Essa é a percepção que eles mesmos têm, não necessariamente a realidade do mercado. Eles estão saindo dos processos de seleção com a sensação de que não serão escolhidos. Mas o grande ponto é a coerência. Se é vaga de estágio ou trainee, não deve ser exigida muita experiência – sugere Manoela Costa, gerente executiva da Page Talent, apontando que o candidato “não está errado em estar no meio da faculdade e ainda não ter bagagem profissional”.

Se por um lado Manoela cobra coerência dos empregadores, por outro sublinha a importância de que o jovem aproveite os espaços acadêmicos:

– Às vezes, ele não tem experiência de estágio, mas é importante que tenha viajado, participado de projetos de iniciação científica. O legal é que ele tenha histórias para contar – completa.

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A pesquisa da Page Talent mostrou também que exigir candidatos com inglês fluente se baseia em uma falsa expectativa:

– Achávamos que seria normal, já se falava em ter terceiro idioma, mas ainda é difícil achar jovens com inglês fluente. Em contrapartida, todas as empresas o exigem. É muito raro que uma empresa não exija. Porque elas têm fornecedores de fora, chefes de fora, estão se internacionalizando e têm essa cultura – observa Manoela.

Por outro lado, ambientes de trabalho que consigam se adaptar às características desses jovens podem perceber benefícios:

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– O jovem dessa geração tem autonomia, quer uma empresa em que possa se destacar, onde as linhas entre chefes e subordinados sejam mais tênues, onde possa enxergar uma linha de crescimento. Esse jovem entra oxigenando as organizações. Ele tem vontade, pró-atividade, traz ideias e cria coisas. Só não é positivo quando atropela, não respeita o ritmo da organização – conclui.