O caso do menino de dois anos que iniciou com um desaparecimento em São José culminou em uma investigação sobre tráfico de pessoas. Em três dias de apuração, a criança foi encontrada, e um homem e uma mulher foram presos pelo crime. A Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP) e demais órgãos de segurança concederam uma coletiva na tarde desta terça-feira (9) para esclarecer o caso que continua sob investigação e pode prender mais pessoas.
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O menino foi localizado na segunda-feira (8) na zona leste de São Paulo, após quase 10 dias de desaparecimento. Ele estava com Marcelo Valverde Valezi, que é apontado como intermediador do tráfico, e Roberta Porfírio, que teria a intenção de adotar a criança ilegalmente. Os dois foram presos em flagrante por tráfico de pessoas enquanto estavam se deslocando de carro, segundo Ulisses Gabriel, delegado geral da Polícia Civil de SC.
Desaparecimento de menino em SC pode revelar “ponta de iceberg” de esquema de tráfico de pessoas
A criança está fisicamente bem e em local seguro, de acordo com o secretário de Estado de Segurança Pública (SSP), Paulo Cezar Ramos de Oliveira. No momento, o menino está sob cuidados do Conselho Tutelar de São Paulo por ter sido encontrado na cidade sem responsáveis legais. A criança está abalada e deve receber apoio psicológico durante o período de tutela do Estado.
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O que se sabe e o que falta esclarecer sobre desaparecimento de menino em SC
— A criança está totalmente fragilizada, como todo mundo aqui deve imaginar, né? Se isso já é difícil para um adulto, imagina para uma criança. Estando há mais de uma semana convivendo com desconhecidos, tendo que ouvir vozes, tendo que abalar sua rotina de sono, sua rotina alimentar. É uma situação muito lamentável — afirmou o secretário da SSP.
Ainda não há prazo para o menino retornar a Santa Catarina, mas Oliveira confirmou que todos os trâmites legais estão sendo realizados para a volta mais breve possível. A decisão depende do Poder Judiciário de São Paulo.
Investigação de desaparecimento de menino tem quebra de sigilo de celulares e aplicativos em SC
Ao longo da coletiva, os representantes das forças de segurança concederam detalhes sobre os métodos de investigação e também sobre os fatos que levaram à prisão de dois suspeitos em São Paulo. Veja abaixo algumas questões abordadas pelas autoridades.
Contexto de entrega da criança
O menino de 2 anos foi entregue pela mãe, uma jovem de 22 anos, a um homem e uma mulher em São José no dia 30 de abril, conforme a delegada Sandra Mara Pereira, titular da DPCAMI de São José. Porém, ela afirma que ainda não é possível afirmar o contexto em que a mãe teria cedido a criança à dupla.
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— A mãe tem uma fragilidade emocional, psicológica muito grande. Ela foi convencida por conta da fragilidade dela. Ela nega ter recebido vantagem, mas nós só teremos essa certeza com a quebra de sigilo bancário de todos os envolvidos — afirmou a delegada.
Ainda segundo a apuração da Polícia Civil, a mãe foi coagida durante os dois anos do bebê a entregar o menino para adoção ilegal. Ela conheceu os suspeitos em um grupo de aplicativo de mensagem para mães de primeira viagem e teria sido convencida a ceder a criança.
Quem fazia as tratativas era Marcelo Valverde Valezi, que agiu como intermediário entre a jovem. Já Roberta Porfírio pretendia manter a criança, conforme a polícia civil. Os dois vieram até São José para buscar o bebê e retornaram de carro até São Paulo.
Celular apreendido e investigações da polícia
No dia 5 de maio, a Polícia Civil instaurou um inquérito civil sobre o desaparecimento de um bebê, a partir de um boletim de ocorrência registrado pela família da criança. Então, a DPCAMI iniciou ações investigativas, incluindo medidas cautelares.
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O celular da mãe da criança foi apreendido e estava bloqueado. A polícia científica foi acionada para fazer o desbloqueio do aparelho, operação que levou uma hora e meia, segundo Andressa Boer Fronza, perita-geral da Polícia Científica de Santa Catarina.
Com o equipamento liberado para a investigação, os policiais tiveram acesso a todas as conversas e fotos que indicam que a mãe era persuadida a entregar a criança. Aplicativos de transporte, como 99 e Uber, também auxiliaram a localizar os locais onde o grupo teria ido.
Perseguição de carro até São Paulo
A partir do material colhido, os policiais identificaram a placa de um carro que estava em um restaurante de São José e pertenceria aos dois suspeitos. O carro estava com uma placa adulterada.
A Polícia Rodoviária Federal e Militar Rodoviária foram comunicadas e localizaram o veículo na estrada. Ele foi acompanhado por guarnições em uma perseguição discreta, que levou a prisão do homem e da mulher em São Paulo, segundo relato do delegado-geral na coletiva.
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Prisão em flagrante a caminho de Fórum
Marcelo Valverde Valezi e Roberta Porfírio foram presos em flagrante na segunda-feira (8) enquanto estavam a caminho do Fórum de São Paulo. Eles levavam a criança até as autoridades após a mulher ficar insegura por conta da repercussão do caso, segundo o secretário. Ela contatou o Fórum e foi orientada a apresentar a criança, porém no caminho o carro foi abordado pela Polícia Militar.
O que diz a defesa dos suspeitos
Conforme a defesa de Roberta Porfírio, não houve tráfico de pessoas pois não houve exploração do trabalho. A advogada afirma que o bebê não estava desaparecido, mas que a mãe da criança teria entregado o menino para Roberta cuidar dele temporariamente pois estaria em situação de vulnerabilidade. Ela desconhece que o carro usado na viagem estava com placas adulteradas e afirma que a ida ao Fórum foi uma decisão para entregar a criança.
Já a defesa de Marcelo Valverde Valezi afirma que a prisão aconteceu enquanto ele acompanhava Roberta para devolver a criança à Justiça. Ainda confirmou que quem estava interessado em adotar o bebê era a mulher e outro homem, e ainda afirmou que eles se conheceram em um grupo de mulheres mães e aspirantes a adotantes. Além disso, a advogada afirmou que pelo cliente a situação estava regular por conta do acordo feito em conversas de aplicativos e não imaginava a repercussão que o caso teve.