O presidente do Great Place to Work (GPTW), Ruy Shiozawa, fez palestra na reunião do conselho consultivo do WTC em Curitiba. Diz que as empresas cometem grave erro ao relegar a área de RH a plano secundário nas suas decisões. Informa que um quarto da totalidade dos funcionários muda de empregador a cada ano. E destaca: presidentes de companhias brasileiras ficam, em média, só dois anos e meio no cargo. Parece rotatividade inerente à função de técnico de futebol. Não deu resultado, é dispensado. No mundo, a média de permanência nos postos de comando é de cinco anos.

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PERFIL

Ruy Shiozawa é CEO do Great Place to Work Institute Brasil. É diretor de relações empresariais da ABRH nacional. Palestrante e colunista em publicações de negócios, gestão, recursos humanos e tecnologia. Engenheiro de produção e mestre pela Escola Politécnica da USP. Fez especializações nos Estados Unidos, Japão e Espanha. Autor do livro Qualidade no Atendimento e Tecnologia de Informação pela Editora Atlas.

CONTRADIÇÃO

– Normalmente, os CEOs e executivos das empresas olham muito para as áreas financeira, comercial e de processos das organizações. O setor de recursos humanos é menos valorizado. Há mais de 20 anos, percebemos que o pilar das pessoas está pelo menos um degrau abaixo na escala de prioridades corporativas. O discurso das empresas, em geral, é o da importância das pessoas. Mas, na prática, é diferente.

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PESSOAS

As pesquisas conduzidas há 14 anos pelo Great Place to Work demonstram, a partir de dados coletados em 45 países, que as melhores empresas para se trabalhar têm produtos e serviços com qualidade superior à dos concorrentes. Esta excelência está estreitamente ligada ao fato de os gestores colocarem as pessoas no centro da missão e da estratégia de negócios da companhia.

EM SC

– Em cem empresas pesquisadas, nas melhores, em Santa Catarina, a média de permanência de seus principais executivos é de oito anos. Isso permite mais tempo para a conclusão de trabalhos e estimula a equipe.

EXECUTIVOS

– Estudo da consultoria Booz Allen revela que o tempo médio de presidentes nas companhias, no mundo, é de cinco anos. No Brasil, é de dois anos e meio. Aqui, é como nos clubes de futebol: os técnicos duram pouco. Isso se relaciona ao desempenho alcançado pelos dirigentes nos negócios. Predomina o imediatismo por resultados.

FERRAMENTAS

– Nas outras áreas, há ferramentas mais claras para medir dados e mensurar situações. No RH é difícil demonstrar, em números, a sua importância e, por isso, nas reuniões de comando, o setor perde espaço.

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BONS EXEMPLOS

– Uma empresa catarinense, a Chaordic, é exemplar. Manda carta, assinada pela equipe toda, para a casa do trabalhador que foi escolhido para atuar lá. Imagina a satisfação dele e da família com a surpresa!

HOSPEDAGEM

– A rede hoteleira Accor, por exemplo, divide grupo de novos contratados em dois. Um fica no hotel e recebe o atendimento da outra parte de pessoas recém-contratados. Depois, eles trocam de papel.

RETENÇÃO

– O principal fator de retenção dos funcionários, independentemente do nível profissional, em geral, nas 20 empresas premiadas pela Great Work, não é o pacote de benefícios e de remuneração. O item aparece com 17% das menções. Oportunidades de crescimento profissional estão em primeiro, com 44%. O salário não é o aspecto essencial. O trabalhador está dizendo que quer aprender mais, saber coisas novas, evoluir em conhecimento, estar engajado. Ele fica em empresas que lhe oferecem isto. Inclusive treinamento e companheirismo.

ERROS

– O principal erro dos executivos é não dar importância ao RH. As pessoas querem proximidade e dedicação de tempo por parte dos líderes. Uma das características de empresas vencedoras é o presidente estar andando pelas unidades, ir ao chão de fábrica, à linha de produção, ver o que acontece na ponta, falar com as pessoas de diferentes setores.

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UNIVERSIDADES

– Uma das explicações para que as empresas não adotem práticas de RH adequadas está na grade curricular de universidades. Lá, se dá, ainda, menos importância ao setor. O profissional chega à vida prática sem ter forte embasamento da área de recursos humanos.

CASAMENTOS

– A empresa Rota do Mar adota outra ideia. Como há muita gente jovem, muitos querem casar. Então, a direção promove e banca os custos de um casamento coletivo, realizado a cada dois anos, para os noivos que trabalham lá. Eles jamais vão esquecer.

ROTATIVIDADE

– Uma informação é incrível: 25% dos trabalhadores mudam de emprego a cada ano. Quer dizer: de cada quatro pessoas, uma vai embora da empresa para a qual trabalhava. O percentual é ainda mais elevado nas áreas de serviços e comércio e call center. Há situações que atingem uma rotatividade de 50% em um só ano. Perder as pessoas nesta proporção significa custos altos para as companhias.