Tudo começou em 1970. Não foi nesse ano que Bolsonaro nasceu, é verdade, mas foi ali que se começou a desenrolar a personalidade daquele que ontem foi eleito presidente do Brasil. Pelo menos é o que narram as vozes de conhecidos e do próprio Jair em referência à época de caça ao guerrilheiro Carlos Lamarca, pela região do Vale do Ribeira, no interior de São Paulo. Mas o que isso tem a ver com o candidato do PSL que conquistou a cadeira mais importante da República? Tudo. Foi nesse tempo, no longínquo ano do tricampeonato mundial da Seleção, que o então adolescente de 15 anos decidiu escolher como uniforme de trabalho uma farda camuflada.
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Diz Bolsonaro, inclusive em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, que nesse período foi o dedo-duro de Lamarca, ícone do socialismo e líder da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Nascido em Glicério, uma minúscula cidade no Oeste de São Paulo, Jair se mudou meses depois para Campinas, onde foi registrado. De lá, a família partiu para Jundiaí, depois Sete Barras, e em 1966 parou em Eldorado, onde viria a ser construída a personalidade e o desejo militar.
Ao supostamente ajudar policiais a encontrar esconderijos onde estavam guerrilheiros durante a ditadura, Bolsonaro criou a cobiça por se tornar soldado. E conseguiu. Em 1973, ao entrar para a Escola Preparatória de Cadetes do Exército, fortaleceu o caminho que anos depois o consolidaria como ícone da direita. Nesse mesmo ano, Bolsonaro decidiu prestar concurso para a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). Passou, e quatro anos depois recebeu o espadim, o que o permitiu se especializar em paraquedismo e a trabalhar no Grupo de Artilharia de Campanha (GAC), no Mato Grosso do Sul – cujo objetivo é atuar na faixa da fronteira do Brasil. Tudo isso durante a ditadura militar.
Bolsonaro chegou a ser preso. Inconformado com o salário e a saída de dezenas de cadetes da Aman, escreveu um artigo que foi publicado pela revista Veja.
O título é sugestivo: “O salário está baixo”. Por conta disso, passou 15 dias na prisão, mas dois anos depois acabou absolvido pelo Superior Tribunal Militar. Essa “greve” o levou a pleitear a carreira política que começaria a ser edificada dois anos depois e que agora o levou à Presidência da República.
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Na carreira pública desde 1988
Em 1988 mergulhou na carreira pública: eleito vereador no Rio de Janeiro, mas teve uma atuação discreta – chegou a apresentar, por exemplo, uma proposta de gratuidade no transporte público para militares, que não passou – e logo na eleição seguinte tentou uma vaga na Câmara dos Deputados. Conseguiu e de lá não saiu mais. Está (ou estava) no sétimo mandato como deputado federal, passando por partidos como o PDC, PP, PPR, PPB, PTB, PFL, PSC, até chegar ao PSL.
O período em que mais ficou em uma sigla foi como Progressista, de 2005 a 2016. Nessa etapa, solidificou a candidatura à Presidência, mesmo em um partido de centro-direita.
Entre frases polêmicas quanto a quilombolas, homossexuais, estupro, tortura e direitos da mulher, Bolsonaro criou uma rejeição muito grande, principalmente entre minorias – embora as mulheres representem a maioria do eleitorado brasileiro. Mesmo assim adotou um discurso que fidelizou um percentual do eleitorado que foi muito mais do que suficiente para colocar a faixa presidencial no peito.
O próprio Bolsonaro já comentou que a maior parte dessas falas polêmicas acabou sendo ditas por ele com um objetivo: conseguir espaço. Suas frases foram debatidas em rodas de família, programas de TV e no próprio Congresso. Dessa forma, Bolsonaro fez com que seu nome colasse mais no público do que suas ideias.
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