Historicamente, o Carnaval marca o fim de um ciclo e o começo de um outro. Não à toa, a máxima “o ano começa depois do Carnaval” é comumente usada para definir esta divisão. Nesta edição, o Caderno Nós mostra um resumo do que foi o verão nesta temporada que teve de tudo, desde a presença maciça de argentinos, marcante nos últimos anos, até as inesperadas tempestades que atingiram o Litoral em janeiro e políticos catarinenses que viraram assunto nacional por razões diferentes.
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Água-viva
As bandeiras lilases que sinalizam a incidência de águas-vivas voltaram a tremular no litoral catarinense. Somente em Florianópolis houve 14.991 ocorrências envolvendo banhistas feridos pela espécie até 12 de fevereiro, segundo o Corpo de Bombeiros. A queimadura causada pelo animal pode gerar dores intensas e espasmos musculares. Na temporada passada, foram registrados mais de 77 mil casos em todo o Estado.
Balneabilidade
Os relatórios de balneabilidade das praias de SC divulgados semanalmente pela Fatma desde o início de dezembro apontaram, em média, 39,2% de pontos impróprios para banho. Os bons resultados dos primeiros levantamentos, quando mais de 80% dos 215 trechos analisados apresentaram águas em condições adequadas, foram despencando no decorrer do verão. No boletim de 26 de janeiro, o número de pontos com concentração de bactérias acima do recomendável chegou a 121 – o pior desempenho dos últimos cinco anos. As chuvas, as redes de esgoto clandestinas e as correntezas marinhas foram apontadas como responsáveis.
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Carnaval
O futuro é incerto, mas uma coisa ninguém tira do brasileiro: a disposição para esquecer dos problemas e festejar por quatro dias – ou cinco, seis, sete, dependendo da disposição – como se não houvesse amanhã. Em blocos ou em escolas de samba, foliões de todas as idades, etnias, classes sociais, sexos, religiões e ideologias transformaram as ruas de Florianópolis, Laguna, Joaçaba, Navegantes e outras cidades catarinenses com tradição na folia em passarelas onde todas as bandeiras foram válidas. No Carnaval da “problematização”, com fiscais do que podia ou não podia se fantasiar, Santa Catarina tirou nota 10 em não levar nada a sério. Até a Quarta de Cinzas, bem-entendido.
Defesa Civil
As chuvas que sempre ocorrem depois de dias muito quentes desta vez vieram com mais força e constância, dando muito trabalho para a Defesa Civil. O aguaceiro afetou pelo menos 20 cidades, com o alagamento de vias, falta de energia elétrica e desabamentos. Florianópolis, Porto Belo e Itapema decretaram situação de emergência. Em apenas 48 horas, o volume de chuva na Capital chegou a 400mm, superior ao dobro do previsto para janeiro inteiro – até o final do mês, passaria dos 570mm. Pelo menos três pessoas morreram e mais de 500 ficaram desalojadas.
Estilo
No geral, as tendências de moda deste verão não mudaram em relação à temporada passada. Continuaram peças leves e soltas, como macacões, camisas com amarrações, decote ombro a ombro, calças pantacourt e bodies. As camisas de manga curta estampadas à la Agostinho Carrara (o inesquecível taxista interpretado por Pedro Cardoso em A Grande Família) e com cara de brechó conquistaram o guarda-roupa masculino e feminino. Já os homens saíram do básico sem graça e se renderam aos shorts de banho curtos e colorido como se estivessem em alguma praia europeia.
Falso anúncio de aluguel de imóveis
Começa em anúncios em sites de classificados na internet. O interessado gosta das fotos que vê da casa ou do apartamento oferecidos à locação e deposita parte do valor cobrado. Ao chegar no local, já sonhando com dias de ócio à beira-mar, descobre que alugou um imóvel que não existe ou não está sendo alugado. O golpe vitimou famílias em Santa Catarina, frustrou planos de férias e acabou denunciado no Fantástico.
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Geada na Serra
Em pleno verão, com termômetros marcando mais de 30ºC pelo Estado, ocorreram geadas na na Serra catarinense ao menos três vezes. O fenômeno fez com que as estações da Epagri/Ciram registrassem mínimas de 1,4ºC e 4,2ºC em Urupema e Urubici. De acordo com a técnica em meteorologia Bianca Souza, com o clima seco, céu limpo e temperaturas menores, o ar frio fica retido em áreas de baixadas como as encontradas na região, facilitando o congelamento do orvalho.
Hermanos
Apaixonados por Santa Catarina desde a década de 1970, os argentinos contam com a balança cambial pendendo para o seu lado para passar as férias aqui. Para felicidade do setor turístico, nesta temporada a relação entre o peso, o dólar e o real lhes favoreceu e eles invadiram o litoral do Estado. Pela projeção da Santur, os hispano-hablantes dominam o contingente de 1,5 milhão de visitantes estrangeiros esperados até a Páscoa. Nessa conta entra todo o tipo de latino-americano, mas basta uma rápida conferida em alguma praia catarinense para detectar de onde a maioria vêm. Camisetas de times como Boca Juniors e River Plate, tejo (espécie de bocha) rolando na areia e mate nas cuias não deixam dúvidas quanto à origem dos hermanos.
Intolerância
Na madrugada do primeiro dia de 2018, o índio Marcondes Namblá Xokleng, de 38 anos, foi agredido a pauladas até a morte em Penha. Professor formado pela UFSC, ele fazia parte de um grupo de 12 integrantes da aldeia da Terra Indígena Laklãno, em José Boiteux, que tinha descido até o litoral Norte do Estado para vender sorvetes durante a temporada. As imagens captadas por um câmera de monitoramento mostram o momento em que um homem carregando um pedaço de madeira o aborda. De repente, o índio leva um golpe na cabeça e continua sendo agredido. Levado ao hospital por pedestres que o encontraram cinco horas depois, Marcondes não resistiu aos ferimentos. Na avaliação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o crime teve relação com intolerância étnica.
Jacarés em Florianópolis
Eles eram bem menos que os mais de 50 chamados acusando sua presença recebidos pelos bombeiros. Mas em número suficiente para preocupar a população – o normal é uma ocorrência do tipo por mês – e colocar Florianópolis na mídia nacional como se tivesse sido invadida por turistas inconvenientes: os jacarés. Com as fortes chuvas que assolaram a Capital em janeiro, os rios e mangues transbordaram e os bichos deram o ar da graça via rede pluvial, aparecendo em ruas e quintais. A espécie predominante na cidade, de papo-amarelo, pode ser agressiva ao se sentir ameaçada. Então… calma, gente!
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Lua
Janeiro terminou de uma forma especial para curtidores de astronomia, místicos, lobisomens e curiosos em geral. Por uma coincidência que não ocorria há mais de um século, três eventos lunares levaram lentes e olhares a mirar o céu na última noite do mês. O professor de Física do IFSC Marcelo Giradi Schappo explica que a superlua ocorre quando uma lua cheia está no ponto mais próximo da Terra, o que deixa sua aparência 27% maior e 14% mais brilhantes. Lua azul é segunda vez em que ela está cheia no mesmo mês e herdou esse nome do tempo em que as luas nessa fase eram batizadas de acordo com a época do ano: nos anos com 13 delas, a terceira de uma estação com quatro cheias era chamada assim. E a lua de sangue ou vermelha é decorrência da tonalidade que o corpo celeste adquire em um eclipse lunar.
Mobilidade
Assim como cerveja quente, música ruim em volume alto e casa cheia de parentes, o congestionamento é componente obrigatório do verão. Com tanta gente indo para o mesmo lugar no mesmo momento, a fila é inevitável, não importam quantas pistas tenha a estrada ou quantos caminhos levem àquele destino. É assim em qualquer lugar do mundo com apelo turístico, não seria diferente em Santa Catarina. Na sexta-feira que antecedeu o Carnaval, por exemplo, os pontos de lentidão somavam 60 quilômetros pela rodovia do Estado. Isso não exime as autoridades de alternativas que estimulem o motorista a trocar o transporte individual pelo coletivo, mas a situação poderia ser bem menos pior com a adoção de noções básicas de civilidade. Por alguma razão, o cidadão, por mais “do bem” que seja, é capaz de se transformar em um bárbaro no trânsito. Aí, dá-lhe conversões proibidas, invasões a acostamentos, manobras arriscadas.
Navios em Balneário Camboriú
A chegada do MSC Preziosa no atracadouro da Barra Sul no dia 21 de novembro marcou o início da temporada de transatlânticos em Balneário Camboriú. Do gigante com bandeira panamenha desembarcaram mais de 4 mil pessoas de 13 nacionalidades. Até abril deste ano, outras 19 desse porte devem aportar na cidade. A projeção da prefeitura é de que, ao longo das 10 horas em que permanecerão em terra firme, os mais de 90 mil passageiros esperados gastem entre R$ 450 e 600 cada. Enquanto isso, em uma certa Capital rodeada por mar, a ausência de infraestrutura adequada para receber cruzeiros deixa o turismo local a (não) ver navios.
Operação Veraneio
O aparato montado pela segurança pública do Estado – a Operação Veraneio – para garantir a lei e a ordem na temporada envolve 10.545 profissionais, entre policiais militares e civis, bombeiros e técnicos do Instituto Geral de Perícias (IGP). Até 15 de abril, esse exército estará atuando em 61 municípios, dos quais 29 balneários, ao custo estimado de R$ 33 milhões (destinados ao pagamento de diárias para os agentes transferidos de sua base para o litoral, alimentação e remuneração de guarda-vidas civis). A despeito de o número de ocorrências ainda estar sendo tabulado pela secretaria de Segurança, “a percepção é de que este verão está bem mais calmo”, afirma o coronel Cesar Nunes, comandante da 1ª Região do Corpo de Bombeiros Militar, que abrange todo o litoral catarinense.
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Pizollatti
Confrontado pela câmera, o homem mal consegue parar em pé. A voz sai pastosa: “Não sei, cara. Se eu tiver responsabilidade, eu assumo”. Alguém pergunta se ele reconhece estar bêbado. “Tô.” Quem responde é o ex-deputado federal João Pizzolatti (PP) após bater com o seu utilitário em um carro popular na SC-421, rodovia que liga Blumenau a Pomerode. O motorista do veículo menor, um rapaz de 23 anos, ficou preso às ferragens e foi levado em estado grave ao hospital. O causador do acidente, com suspeita de traumatismo craniano, também foi socorrido por uma ambulância, mas no meio do caminho recuperou a lucidez e não se apresentou à delegacia, como era esperado. O vídeo com um Pizzolatti cambaleante, ainda sem noção do crime que cometeu, abriu a edição do Jornal Nacional – com direito a William Bonner recomendando aos telespectadores que filmem com o celular na horizontal.
Que Tiro Foi Esse?
Revelada por Anitta no clipe de Vai, Malandra, a funkeira Jojo Toddynho nunca mais esquecerá do verão de 2018. De um dia para o outro, a carioca de 21 anos teve o cachê triplicado para R$ 30 mil, viu a audiência de seu canal no YouTube estourar e passou a ser convidada para festas. Tudo por causa do single Que Tiro Foi Esse?, onipresente nas baladas da estação. Apesar do título um tanto bélico, ela garante que a letra não tem nada a ver com incentivo à violência. A julgar pela comoção que o batidão causa nas candidatas a popozudas, é verdade.
Réveillon
Não teve Gisele Bünchen, Neymar ou a celebridade da hora. Nem a ostentação de um passado recente, quando tsunamis na economia mundial batiam como uma marolinha no bolso do brasileiro. As festas organizadas pelas prefeituras também foram mais comedidas em função do orçamento apertado. Nada disso impediu que moradores e turistas saudassem a virada do ano com todo o aparato que a data exige: contagem regressiva, roupa branca, champanha e pirotecnia. Em Florianópolis, os fogos de artifício lançados por três balsas na Baía Norte estouraram por 12 minutos. O motivo oficial era a chegada de 2018, mas para o setor turístico havia outra razão para comemorar: estava decretado o início da temporada.
Segunda instância
Nunca antes na história deste país o juridiquês esteve tão na boca do povo. A condenação de Lula pelo TRF4 em 24 de janeiro alimentou o debate sobre a prisão imediata ou não dele. A interpretação da lei varia conforme o jurista consultado: uns pregam que ele deveria ir imediatamente para a cadeia, outros defendem sua liberdade até se esgotarem todos os recursos cabíveis. Se o critério que valeu para o deputado federal João Rodrigues (PSD) – preso por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) após condenado em segunda instância, mesmo com apelação ainda a ser julgada pela mais alta corte do Judiciário – for aplicado no caso do petista, são grandes as probabilidades de o ex-presidente conhecer o sistema carcerário por dentro em breve. Data vênia, a lógica que rege a Justiça e o poder não são assim tão simples.
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Taxa de Proteção Ambiental
Pelo quarto verão consecutivo, Bombinhas está cobrando a Taxa de Proteção Ambiental (TPA) dos veículos de fora que entrarem na cidade de 15 de novembro até 15 de abril. A alegação da prefeitura para manter o pedágio é promover “o crescimento local sustentável focado na preservação da natureza e na qualidade de vida dos habitantes e da população flutuante”. O dinheiro recolhido serve, portanto, para bancar obras e serviços que reduzam os impactos no meio ambiente. Os valores variam de R$ 3 (motos) a R$ 133 (ônibus). Automóveis pagam a partir de R$ 26,50. Embora sempre desperte polêmica, outras cidades, como São Francisco do Sul e Itapoá, estudam a possibilidade de instituir a taxa. Em Governador Celso Ramos, a cobrança chegou a ser aprovada pela Câmara, mas foi derrubada pelo Ministério Público. Florianópolis também não descarta a hipótese de estabelecer algum tributo que incida sobre a frota que todos os anos invade a ilha.
Uber
Novidade no verão passado, a Uber se preparou para entrar 2018 com tudo em Florianópolis. Dados da prefeitura, com base em informações da própria plataforma, indicam a existência de 6 mil motoristas trabalhando com o aplicativo nesta temporada. O número representa o dobro de parceiros da empresa em relação ao restante do ano e 12 vezes a quantidade de taxistas na Capital. Junte a essa gente toda o fato de que muitos vieram de fora e não sabem como chegar a pontos turísticos consagrados, como Lagoa da Conceição, e o resultado é mais do que previsível: as avaliações da qualidade do transporte alternativo despencaram. Os preços, o maior diferencial competitivo, dispararam com as cada vez mais frequentes taxas especiais. Balinha e água gelada na faixa, então, nem pensar.
Vacina contra febre amarela
A repercussão de casos e mortes por febre amarela no país provocou um salto na procura pela vacina contra a doença em Santa Catarina. Em Blumenau, a busca pela imunização pulou de 330 doses em janeiro de 2017 para 4.109 no mesmo mês deste ano, um aumento de 1.145%. Em Florianópolis, a alta foi de 1091%, com 11.226 doses ante 942 no referido período. Até o momento, a única morte confirmada pela Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive) foi de uma moradora de 57 anos de Gaspar que contraiu a doença em São Paulo. Vale lembrar que quem já foi vacinado na última década não precisa de reforço: a orientação é de que apenas aqueles que forem viajar para áreas de recomendação de vacina, como Lages e Chapecó, dirijam-se aos postos de saúde.
XV fechada
Um dos maiores símbolos de Florianópolis, a Praça XV de Novembro, ficou fechada no Carnaval. A prefeitura de Florianópolis tomou a decisão – inédita – com a justificativa de preservar o patrimônio público e histórico. O cerco ao local com tapumes levou em conta alguns fatores ocorridos em anos anteriores: depredação das flores, das ferragens que delimitam os jardins e dos suportes da figueira centenária, além de casos de pessoas que transformaram a área em banheiro. Segundo a secretaria de turismo, a Guarda Municipal não teria como impedir ações de vandalismo entre milhares de foliões.
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Zurich
A empresa suíça que assumiu controle do aeroporto Hercílio Luz, em Florianópolis, passou a gerir o negócio oficialmente em 3 de janeiro. Os europeus terão muito trabalho pela frente: o terminal da Capital recebeu a pior nota – 3,51 – em relação à satisfação dos passageiros, apontou pesquisa realizada com os 20 maiores aeroportos do Brasil (o mais bem-avaliado, Afonso Pena, de Curitiba, alcançou 4,77 pontos). A estrutura atual, que será desativada na metade de 2019, ganhou pequenas melhorias, como o aumento de dois para cinco guichês de atendimento na área de inspeção de segurança. As obras do novo terminal, do outro lado da pista de pouso e decolagem, começaram em 16 de janeiro. A conclusão está prevista para maio do próximo ano.