Se tem alguém que sabe guardar segredos da vida social de Joinville, é João Graudin. Fotógrafo desde 1969, ele aprendeu a, por trás das lentes, registrar os momentos importantes da cidade enquanto os pequenos detalhes secretos ficavam guardados na “sala escura” das revelações das fotos.

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Em 42 anos de profissão, João viu a cidade crescer enquanto ele também crescia, aumentava o estúdio fotográfico e criava os filhos. Há 12 anos, o filho mais novo, Fabiano, segue a mesma trajetória do pai, trilhando um caminho que começou com o pai de João, que aprendeu a arte de fotografar quando câmeras ainda nem eram vendidas no Brasil.

– Meu pai era da Letônia e aprendeu a fotografar com um conterrâneo dele, que também veio para o Brasil e foi morar em Guaramirim. Foi lá que ele começou a fotografar e foi lá que eu nasci – conta João.

Ele tinha 20 anos quando aprendeu o ofício do pai e começou a ajudar no estúdio da família, na rua Getúlio Vargas. Dois anos depois, abriu o próprio negócio na rua Princesa Isabel, no Centro, e tornou-se um dos cinco fotógrafos profissionais de Joinville na época.

Época em que, aliás, as fotos 3×4 eram três vezes mais importantes que hoje: eram obrigatórias não só na carteira de identidade e na carteira de motorista, mas também no título de eleitor, na carteira de reservista e na carteirinha de saúde. Era comum para João ir ao hospital fazer fotos nos anos 70.

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Quando o paciente não tinha a carteira de saúde obrigatória para ser atendido pelo Sistema Único de Saúde, o fotógrafo era chamado para fazer a foto lá mesmo e garantir a confecção do documento. E este nem era o lugar mais incomum em que ele fotografava.

– Muitas famílias chamavam para fazer fotos de velório. Mas depois de um tempo eu comecei a recusar esses trabalhos, porque eu não gostava – lembra.

As boas lembranças – e os segredos – ficavam por conta dos casamentos. O primeiro ritual secreto era na hora de marcar a data do casamento: o mês era agendado mas o dia só podia ser definido quando chegava perto da data da cerimônia. Tudo isso porque, para muitas famílias, a noiva não podia casar no período menstrual.

– Era assim: só a noiva, o noivo, a mãe da noiva e o fotógrafo sabiam quando a noiva ia menstruar – conta João.

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Nem sempre este era problema, porque também podia acontecer de a noiva estar escondendo uma gravidez. Nesse caso, o jeito era parar de clicar quando percebia que o calor e o vestido apertado estavam fazendo a noiva passar mal: elas geralmente desmaiavam no meio do cerimônia.

– Já fotografei até casamento em que a noiva saiu no meio da festa para ir à maternidade ter o filho e os convidados continuaram festejando sem ela – ri o fotógrafo.

Todas as histórias que João têm guardadas na memória fazem o filho Fabiano dar gargalhadas.

– Os casamentos mudaram muito, mas cheguei a pegar essa fase – afirma Fabiano.

Ele começou ajudando o pai aos 16 anos, fazendo a iluminação das fotos, e não pensava que seguiria a profissão.

– Eu não queria ter um emprego em que tivesse que trabalhar no fim de semana. Até porque não tive pai nos fins de semana, já que ele tinha que fotografar – conta.

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João concorda: no nascimento dos dois filhos ele estava trabalhando e não pôde ir à maternidade. Quando Fabiano nasceu, em abril de 82, ele estava fazendo uma “maratona” de fotos 3×4 para os vestibulandos, tirando e revelando até 80 fotos por dia. Hoje são essas fotos que ele continua fazendo, adiando a aposentadoria.