Na parte de trás do ônibus verde, a propaganda: Prefeitura Municipal de Santo Amaro da Imperatriz – Onde a educação é a prioridade. Dentro do veículo, outra realidade. A caminho do colégio, mais de cem crianças e adolescentes espremidos em um espaço para 40 pessoas.

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– É uma lata de sardinha – descreveu Patrícia Albergoni, 31 anos, mãe de três alunos que embarcaram na manhã desta quarta-feira.

Ela está preocupada com a situação na pequena cidade da Grande Florianópolis. Mais do que o conforto dos filhos, Patrícia teme pelas consequências de um possível acidente:

– Moro aqui desde o ano passado e tinha o mesmo problema. Reclamei, mas não adiantou. Será que precisa acontecer uma tragédia para alguém tomar uma providência?

O Ministério Público da cidade acompanha o caso desde 2007, após a denúncia de três motoristas. Os trâmites da Justiça, aliados à promessa da prefeitura de resolver a situação, fez com que nenhuma decisão concreta fosse tomada. O prazo até a nova vistoria dos promotores é maio.

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Os estudantes são os que menos reclamam. Estão acostumados, como Gabriela Martins, 14 anos, aluna do segundo ano do ensino médio da Escola de Educação Básica Nereu Ramos.

– O problema é quando está quente. Aquilo fica um forno. Hoje (quarta-feira) até que estava vazio – disse.

Vazio? O Diário Catarinense acompanhou nesta quarta-feira um dos 11 ônibus escolares da cidade, que levava alunos da rede municipal e estadual. Dava até um sentimento de culpa colocar um repórter e um fotógrafo ocupando o lugar de dois alunos naquele aperto todo. Em uma das ruas, o veículo subia e, depois, descia pela mesma via. Quase todos passageiros embarcavam na subida.

– Acordo 20 minutos antes para garantir que não vou ficar sem lugar no ônibus – contou José Wellinton, 16 anos.

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Na descida, depois de o ônibus fazer o retorno e passar pelo mesmo lugar onde José embarcou, muitas pessoas já estavam em pé. E, no decorrer do percurso, a situação foi se agravando.

Em um dos pontos, um grupo de 10 estudantes saiu do ônibus. Mas eles ainda não haviam chegado à escola. Foram obrigados a descer para dar espaço para o desembarque de outro pessoal.

Não bastassem os problemas com o número de alunos, o ônibus escolar também tem seus caroneiros. Como não há transporte entre os bairros na cidade, muitos adultos aproveitam o veículo destinado aos estudantes.

– Esses dias eu contei 15 adultos dentro do ônibus – lembra a mesma mãe que chamou o ônibus de lata de sardinha.

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Mas logo ela pensou e refez a declaração:

– Lata de sardinha é um elogio.

O que diz o secretário de Educação de Santo Amaro da Imperatriz, Nelson Isidoro da Silva

Nelson admite que o problema existe. Ele prevê que, até o fim de maio, a superlotação do transporte escolar seja resolvida. Duas medidas que estão sendo tomadas.

Uma delas será a compra de dois ônibus novos. O convênio com a Secretaria de Educação de Santa Catarina foi assinado, e a previsão é de que a compra seja feita em março. A outra é a licitação para uma empresa de ônibus para o transporte entre os bairros, o que hoje não existe na cidade.

– Dessa forma, resolveremos dois problemas. Por onde esta linha passará, nós daremos passes para os estudantes. E, junto, não precisaremos dar carona para os adultos que pegam o transporte escolar – explicou o secretário.

Mesmo que seja proibido o transporte de quem não for estudante, Nelson considera a atitude humanista.

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– Uma mãe ou um pai que precisam vir para o Centro, como é que vamos dizer que não?

O secretário também alegou que houve problemas no passado. Segundo ele, em 2007, foi assinado um convênio para a compra de quatro ônibus. Mas dois já estariam fora de funcionamento porque eram velhos demais.

– Dentro do possível, fizemos tudo o que pudemos. Mas podemos garantir que não temos nenhuma criança sem transporte escolar na cidade.

Alunos ou sardinhas? DC flagra cem alunos sendo transportados em ônibus:

Você já teve algum problema com transporte escolar da sua cidade?