Quanto tempo dura o conteúdo de um jornal? Antes de cair na tentação de responder que as notícias perdem o frescor em menos de 24horas, caro leitor, ouso propor cinco minutos de leitura até o final deste texto.
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No final dos anos 1960, Lindolf Bell deixou Timbó para pregar a Catequese Poética, movimento que levaria a poesia às praças e parques de um Brasil amordaçado pela ditadura e ávido por expressar emoções. Encantou tanto que Carlos Drummond de Andrade o considerou a grande revelação da poesia lírica no país. Entre os versos de Bell, um em especial, pela verdade que diz, virou adágio popular:
– Menor que meu sonho não posso ser.
A lírica de Zilda Arns eram os atos. Quando morreu sob os escombros do Centro de Formação Religiosa de Porto Príncipe, no terremoto que devastou o Haiti em 12 de janeiro de 2010, a missionária de Forquilhinha encontrava-se no lugar certo, a julgar pela coerência de sua trajetória de vida. Levava ao país mais pobre das Américas as lições de justiça e solidariedade que a cotaram ao Nobel da Paz. A caudalosa obra social de Zilda Arns tinha como personagem principal a criança, base de um mundo que a catarinense acreditava possível erguer. Dizia:
– Não existe ser humano mais perfeito, mais justo e mais solidário do que a criança.
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Fritz Müller não nasceu em Santa Catarina, mas aqui encontrou o ambiente ideal para se dedicar ao que fazia de melhor: observar. No conflituoso cenário do século 19, em que religião e ciência davam explicações divergentes sobre a origem do homem, o alemão se dedicou a estudar detalhes da fauna e da flora catarinense.
Ao relatá-los a Charles Darwin, com quem se correspondia regularmente, Müller ajudou a defender uma teoria tão devastadora quanto um tremor de terra – a evolução das espécies. Sobre o conflito que o próprio cientista vivia com a religiosa família – tendo ajudado a ciência a vencer o round -, escreveu:
– Não posso viver com uma verdade nos lábios e outra no coração.
Pela beleza, profundidade, conflito ou até pela contestação que possam despertar, as frases em destaque carregam em si duas características: são universais e duram mais que as 24 horas da edição de um jornal. São perenes, pode-se afirmar, no complexo desafio de explicar a natureza humana.
Há 28 dias, o Diário Catarinense criou um pequeno espaço – de onde extraí os três pensamentos – disposto a ser eterno numa edição de jornal tida como perecível: a seção Para Sempre, publicada todos os dias na última página do jornal. Ali, bem no pé da página, são publicadas frases que lançam um olhar catarinense para o mundo.
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Selecionadas através de um paciente garimpo de coisas já ditas, seja por catarinenses ou pessoas de algum modo ligadas ao Estado, as frases são sintéticos pontos de vista – jamais verdades absolutas – no rico mosaico chamado Santa Catarina. Não é exclusivo para famosos – anônimos também têm espaço -, tampouco exclusivo a autores já falecidos. A meta é formar um acervo de frases pequenas na extensão em palavras, mas vastas no sentido e catarinenses na expressão.
A responsável pela pesquisa no Diário Catarinense é a incansável Lucila Azambuja, coordenadora do Centro de Documentação e Informação. Você também pode contribuir enviando sugestões de frases para dc.cdi@diario.com.br.