Em 9 de março de 2015 entrou em vigor a Lei 13.104/15, conhecida popularmente como a Lei do Feminicídio. Desde então, o assassinato de mulheres tem uma legislação específica e estabelece o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio. No entanto, o rigor maior da lei, resultado de muita pressão e intensas lutas da sociedade civil, não impediu que crimes praticados pela mera condição de ser mulher deixasse de existir. Em 2017, o Diário Catarinense mostrou um fenômeno ainda invisível para a maioria, a violência contra a mulher que vive no campo.

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A reportagem multimídia “Sozinhas – História de mulheres que sofrem violência no campo” revelou o quanto o isolamento das propriedades, a falta de vizinhos por perto e as dificuldades de comunicação tornavam essa realidade ainda mais brutal. Nossa equipe foi ouvir trabalhadoras rurais que denunciaram a cultura de dominação masculina marcada por agressões físicas, psicológicas, torturas, abusos sexuais.

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(Foto: Felipe Carneiro, BD)

Ao dar voz para estas mulheres, o DC identificou que as agricultoras enfrentavam uma realidade marcada pela intolerância que muitas vezes resultava em feminicídios. Mas antes dos assassinatos que atingiam os campos produtivos de uma região reconhecida como um dos solos mais férteis do país, elas passam por diversas formas de violência que nem sempre eram percebidas:

– Entendo que “Sozinhas” despertou em muitas mulheres o sentido da violência, inclusive, entre as mais jovens que não viam que aquela situação era uma condição de violência – conta Joana Sebben, do Movimento das Mulheres Camponesas (MMC).

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Uma das entrevistadas na série de reportagens, Joana é uma das lideranças do MMC e participou de várias atividades onde a reportagem “Sozinhas” serviu como ferramenta para os debates em universidades e organizações. O material jornalístico também embasou as discussões em seminários regionais organizados pela Bancada Feminina da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), com o tema “Pelo fim da violência doméstica contra a mulher”.

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(Foto: Felipe Carneiro, BD)

A reportagem deu espaço não apenas para agricultoras e movimentos sociais de SC, mas que têm relevância nacional, como a Confederação Nacional das Trabalhadoras e Trabalhadores na Agricultura (Contag) e o Movimento de Mulheres Camponesas de outros estados, como Minas Gerais e Rio Grande do Norte, onde o problema também é presente.

Em 2017, a reportagem conquistou quatro premiações: Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos (produção multimídia), Prêmio Massey Ferguson (categoria multimídia) e dois reconhecimentos da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com os troféus Dom Helder Câmara (categoria jornal) e Irmã Dorothy Stang (aclamação popular). A reportagem também foi levada para várias universidades e fomentou a reflexão e o debate com alunos dos cursos de Jornalismo, Psicologia e Direito.

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