É impossível falar dos destaques do jornalismo catarinense sem mencionar a repórter que saiu do interior do Estado e conquistou o mundo. Natural de Caçador, em 1984, aos 20 anos, Sônia Bridi já editava sozinha o RBS Notícias (atual NSC Notícias) e em pouco tempo se tornou coordenadora do interior, apurando notícias para transmitir a todo o Estado.
Continua depois da publicidade
> Receba as principais notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp
Logo em seguida, resolveu sair dos bastidores para encarar o vídeo como repórter e pegou gosto por contar histórias. Antes mesmo de se formar na faculdade, já fazia reportagens especiais para os principais telejornais do país. Em pouco tempo, a carreira da jornalista deslanchou.
Hoje, mais de 30 anos depois, Bridi traz na bagagem períodos como correspondente em quatro países, uma volta ao mundo cobrindo mudanças climáticas e entrevistas marcantes, feitas pelos quatro cantos do mundo. Na entrevista a seguir, a jornalista relembra o período do começo de carreira, fala sobre a relação com Santa Catarina e comenta sobre a trajetória:
Você cresceu em Santa Catarina, mas partiu para o mundo há muitos anos. Qual é a relação com o Estado hoje?
Tenho quatro irmãos que moram em Floripa. Estou em SC pelo menos duas vezes por ano. Sempre passo o Natal com a família. Mas raramente vou a Caçador, onde nasci e cresci. Meus pais se mudaram de lá para o Paraná quando eu ainda estava na faculdade, e com essa minha vida nômade tenho de dividir minhas viagens de férias entre a sogra em Brasília, a mãe no Paraná, os irmãos em Floripa, até pouco tempo também a nona em Salto Veloso. Caçador foi ficando de fora. Mas sinto muitas saudades do lugar e dos meus amigos de infância e adolescência.
Continua depois da publicidade
Tenho uma empresinha que tem sede em Caçador, o escritório de contabilidade que me atende é de lá, pago impostos lá. É uma forma de me manter conectada e poder retribuir um pouco do que a cidade me deu em termos de educação e oportunidades. Um dia volto a morar em Floripa.
A carreira começou em Santa Catarina. Lembra de alguma cobertura marcante do tempo que passou por aqui?
Duas foram especialmente fortes. Uma foi a da privatização da CSN na região de Criciúma e as greves que se seguiram. Entrei em mina inundada, com os grevistas, para mostrar equipamentos que estavam estragando. Vi vagões de trem descarrilados pelos grevistas. Foi um período muito intenso e definidor da história da região.
Outra foi a tragédia no bairro Garcia, em Blumenau, em 1990. Vi um desastre natural numa proporção que não tinha testemunhado antes. Muitas mortes. Muitos corpos sendo retirados. Foi muito triste.

Continua depois da publicidade
Quando você lembra dos seus primeiros anos de carreira como jornalista, quais são suas melhores lembranças?
A parceria com outros garotos e garotas que estávamos começando a carreira, sonhando com um Brasil melhor. As discussões intermináveis sobre filosofia, estilos literários, linguagem cinematográfica, ideologia nas redações. Acreditávamos que uma imprensa livre e forte faz um país melhor. E ainda acredito, muito, nisso. Onde não tem imprensa livre, tem povo oprimido e enganado.
Está trabalhando em algum projeto especial? Qual?
Estou terminando um projeto do qual me orgulho muito e que é bem diferente de tudo o que havia feito até agora. Uma série em podcast sobre a política armamentista do governo Bolsonaro. Tive de aprender a descrever cenas, a narrar situações que na TV a gente deixa por conta da imagem. Se chama “À Mão Armada” e está disponível no G1, Globoplay e na Deezer. Esse podcast me levou de volta a Criciúma depois de mais de 30 anos. Encontrei uma cidade diferente, próspera, cheia de energia. Nos anos 1980 a cidade vivia a decadência do fim do ciclo do carvão. Foi bom ver a virada.
Olhando para o futuro, tem alguma experiência profissional que gostaria de viver e que ainda não teve oportunidade?
Sou superinquieta e cheia de projetos. Quero fazer mais documentários. Mas tudo o que planejo parao futuro envolve continuar reportando. Não há nada mais fascinante no jornalismo do que ir aos lugares, conhecer pessoas, ver a história acontecendo, e reportar, contar isso ao público. Quero me dedicar mais ainda às questões ambientais, que cubro desde os tempos de foquinha em Floripa.
Leia também:
> Vocações: as potencialidades e os desafios das sete capitais de SC
Continua depois da publicidade