Em novembro de 2012, o governo de Santa Catarina assumiu o compromisso de ser o primeiro Estado do país a erradicar a miséria do território. Na época, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as pessoas que viviam com até R$ 70 por mês se encontravam na faixa da extrema pobreza. Mas quem eram estes catarinenses? Onde moravam? Como era este contraste de vida num estado tão rico, com os melhores índices de desenvolvimento humano?
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Quem nos respondeu todas as perguntas anteriores foi o casal Iracema e Dirceu Canofre de Campos, dedicados à agricultura familiar em Timbó Grande, no Planalto Norte do Estado. Os Canofre eram assentados pelo Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e junto com os 14 filhos faziam parte de uma estatística nem sempre associada a Santa Catarina.
Por isso, foram convidados a mostrar esta realidade. Ao longo de dois anos e sete meses, o Diário Catarinense acompanhou essa família. O nome da reportagem foi inspirado nos ciclos da natureza, já que a marcação da passagem do tempo tem vital importância para quem sobrevive da agricultura.

“As Quatro Estações de Iracema e Dirceu” narrou o desafio de enfrentar o mês com R$ 54 por pessoa. Para mostrar esta saga, nossa equipe viajou 33 mil quilômetros, passou por 12 cidades, desde o interior de Santa Catarina até a Alemanha, de onde veio o primeiro Canofre, no século 19, em busca de melhores condições de vida.
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A dureza da vida desta família, onde uma chifrada da vaca havia matado o 14º filho que Iracema carregava na barriga e as crianças carregavam os livros e cadernos em sacolas de plástico que chegavam molhados na escola, contrastava com narrativas desconcertantes para os dias de hoje.
Dirceu havia feito o parto de todos os filhos, e enterrado os umbigos próximo de raízes de árvores. Respondeu quando lhe foi perguntado o motivo:
– Para que cresçam e deem frutos.

Ao término da reportagem, a família Canofre havia saído da condição de miséria. Mas não por ações do governo estadual, conforme prometido no Pacto pela Proteção Social, o qual atuaria em dois eixos, Proteção Social e Garantia de Direitos e Trabalho, Qualificação e Geração de Renda. Mas pelo salário de um filho mais velho que começou a trabalhar, pelo benefício do Bolsa Família e compra da produção agrícola através do programa do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Dentro de sua miséria, os Canofre levaram o DC a uma grande das conquista nos 35 anos de história: o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos (2015).
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