Em um cenário carente de ídolos e referências como a música catarinense, é natural que cada lançamento do Dazaranha venha cercado de enorme expectativa. Desta vez, porém, além da merecida projeção conquistada em quase 25 anos de carreira, havia um fato novo para aguçar a curiosidade quanto ao sexto disco de estúdio da banda: seria o primeiro depois da saída do vocalista e sócio-fundador Gazu. Afinar as Rezas encerra essa espera respondendo de forma animadora quaisquer dúvidas que poderiam pairar sobre o futuro. O agora sexteto está com sangue nos olhos como há muito não se (ou)via.

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A faixa-título abre o trabalho com a pegada Dazaranha intacta. Um pop coxudo, em que o casamento entre guitarras e violino compõe a base para o grupo reafirmar sua identidade ilhôa. Ninguém deve sentir a falta do ex-integrante quando escutar o guitarrista Chico Martins cantando. Ele já desempenhou a função em ocasiões anteriores, tem o mesmo sotaque e, em muitos momentos, seu timbre de voz soa mais agradável do que o do antigo titular. A letra faz rima com lugares de Florianópolis, inspiração que vai se repetir ao longo do álbum em diferentes abordagens.

Em Um Pedacinho do Céu, a cidade é uma paisagem idílica, condizente com a melodia da canção. Em A Noite Chegou, torna-se um local onde se viver é de arrepiar, devidamente acompanhado pela levada mais pesada. A faceta nativa também diz presente com a recuperação de Darci, amostra dos tempos em que a banda ainda ensaiava de favor no andar superior do sobrado em frente ao campo de futebol do Saco Grande, seu bairro de origem. Naquela época, a música referia-se a um personagem da vizinhança e priorizava o balanço. Na versão 2016, ganhou corpo e remete também ao manezinho típico protagonizado pelo guitarrista Moriel em esquetes de comédia.

As menções à terra natal só perdem para o coração entre as candidatas a hit. Construídas sobre uma mistura na qual o reggae se apresenta como ingrediente principal, as românticas Espero e Chega Mais Cedo oferecem refrãos dignos dos clássicos do grupo. Talvez Afinar as Rezas não represente o que se idealizava para o Dazaranha quando eles surgiram com uma proposta de fundir influências universais com estética local (e vice-versa). Mas é a maneira com a qual a banda se renova para continuar relevante – pelo menos nos limites do Estado – pelos próximos anos.

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