A banda manezinha mais amada de Santa Catarina, Dazaranha, completa 30 anos em 2022 e celebra o momento com um show aberto no sábado (8) em um lugar que tudo tem a ver com essência do grupo. O Largo da Alfândega, em Florianópolis, é patrimônico histórico da cidade e, assim como o Daza, é da cultural local.
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Os músicos Adauto Charnesky (baixo), Chico Martins (guitarra e vocal), Fernando Sulzbacher (violino), Gerry Costa (percussão), JC Basañez (bateria) e Moriel Costa (vocal e guitarra) elevaram a música catarinense à nível nacional com canções como Vagabundo Confesso, do álbum Tribo da Lua (1998).
O Dazaranha iniciou oficialmente em 1992, mas a história é anterior. Os irmãos Gerry, Gazu e Moriel amavam música e capoeira. Assim, reuniram outros amigos que eram apaixonados pela cultura nativa de Florianópolis e queriam produzir música autoral.
Dazaranha celebra 30 anos com show gratuito em Florianópolis
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Através de letras que falam de natureza, amor e vida, o Dazaranha conquistou os corações dos catarinenses. Por onde passam, são recebidos com carinho. Muitas pessoas acompanham a banda desde o início e outras várias conheceram há pouco, mas já sabem ecoar Dia Lindo, Fé Menina e Ô Mané.
30 Anos do Dazaranha
Para celebrar o “trintou” do Daza, reunimos a banda no estúdio Caixa D’Água, em Florianópolis, que é conhecido como “o lar” deles. Com muito bom humor, eles relembrar memórias e escolhem as músicas que se destacam em cada década da trajetória deles.
E homenagem à escolha dos músicos, a reportagem será conduzida com as três músicas simbólicas para a banda. Cada uma marca uma década da carreira. Para contar sobre esse tempo, convidamos os músicos, um jornalista, produtores musicais e, é claro, um fã:
Vagabundo Confesso – Primeira década
“Eram as músicas mais maravilhosas que já tinha escutado aqui em Floripa, tem tudo a ver com a cidade”. Assim André Seban descreve o momento em que conheceu, desprentesiosamente, o Daza, em 1991. Ele trabalhava como recenseador do IBGE em Florianópolis e fazia as perguntas em casas onde atualmente é o bairro João Paulo. O local fica próximo ao conhecido estúdio do grupo, a Caixa D’água. Em um dia de trabalho, a música da banda lhe chamou atenção.
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— Estava passando na frente de onde era o galpão da [escola de samba] Protegidos da Princesa, aí escutei um som. Eu já tinha uma banda de rock chamada Udigrudis. Então pensei: “essa casa eu tenho que recensear, vou entrar”. Perdi um dia de recenseamento e passei a tarde toda lá. Lembro de algumas músicas que nunca chegaram nem a ser gravadas — revela Seban.
A banda do recenseador tocava rock inglês e fazia muitos covers, o que era muito forte na época, segundo Moriel Costa. O vocalista e guitarrista do Daza acredita que o diferencial foi justamente se propor a fazer músicas autorais – gerou “identidade e representatividade”. Para Moriel, o som que chamou a atenção do público foi o violino, que não era muito comum nas bandas.
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O jornalista cultural Emerson Gasperin conta que fez uma das primeiras entrevistas com a banda, em 1993, quando ainda era estudante da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). “Foi um choque”, lembra. Na avaliação de Gasperin, as músicas eram autorais e em português. Para ele, o contexto da época era de uma “troca de guardas” no rock pop nacional, e o Dazaranha representava esse movimento no Estado.
— Aquela geração dos anos 80 de Paralamas, Titãs, Barão Vermelho, ainda estava no cenário, mas estava chegando Skank, Raimundos, Nação Zumbi. O Dazaranha, de certa forma, era o nosso representante aqui (em SC). Eles exploravam muito as brasilidades, com influências gringas, mas deixando claro que eram brasileiros — afirma Gasperin.
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O especialista em cultura ainda comenta que a banda era “pop” a ponto de ser ouvida em outros Estados, mas sem perder a identidade catarinense.
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Um período mágico, é assim que o vocalista e guitarrista do Dazaranha, Chico Martins, relembra o início. Diz que rapidamente passaram a ser chamados para bares, festas, e os fãs começaram a surgir.
— Foi uma cachoeira de novidades incentivando esse sonho que a gente construiu ali na brincadeira — comenta Martins.
O primeiro disco Seja Bem Vindo (1996) falava de natureza, do mar, das cidades e praias catarinenses. Com o segundo álbum Tribo da Lua (1998), o grupo se consagrou nacionalmente com o hit Vagabundo Confesso. Sobre essa canção, o percussionista Gerry Costa lembra que ela já era usada em rodas de capoeiras, mas foi musicalizada por Moriel. Explica que a letra fala de um “bom vivant” que fica na praia, tomando água de côco e sem “fazer nada a não ser se dedicar a si mesmo”.
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Salão de Festa A Vapor – Segunda década
“Expressão da conexão com a cultura raiz litorânea”. É assim que Evelin Orth, uma das principais produtoras culturais em SC, sintetiza o que muitos catarinenses sentem pela banda. Ela diz que se trata de uma “fórmula” especial:
— Eles representam através do ritmo, das letras e do seu jeito de ser aquilo que expressa o catarinense, a cultura açoirana da Ilha. Isso faz o público se identificar […] e ser verdadeiro em seu conceito, faz o artista ter uma trajetória longa.
Eveline relembra que trabalhou na produção do primeiro DVD da banda, gravado em dezembro de 2008, no Centro Integrado de Cultura (CIC), e lançado em 2010 pela Universal Music. Um marco dessa gravação foi a participação especial de Armandinho, na música Salão de Festa a Vapor. O grupo e o cantor, inclusive, voltaram ao palco juntos em julho deste ano no Hard Rock Live Florianópolis.
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Com muito bom humor, o baixista Adauto Charnesky comenta sobre a continuidade do grupo, que, segundo ele, se dá pelo “incômodo”. Ele explica que para o trabalho andar, um incentiva o outro a fazer diferente:
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— A gente depende muito um do outro. Se pensarmos em ficar acomodados, acaba tudo.
Além do registro audiovisual, na segunda década do Daza, os discos Nossa Barulheira (2004) e Paralisa (2007) também foram gravados, com sucessos como Ô Mané e Com ou Sem.
Confira abaixo galeria de fotos com a história do Dazaranha.
Afinar As Rezas – Terceira década
“Ser a voz da música catarinense é suficiente para acordar todo dia com muita vontade”. Essas é a frase que resume o sentimento de “trintar” com o Dazaranha neste ano, segundo Moriel Costa.
Em uma fase madura e consolidada, a banda lançou três grandes discos, Daza (2014), Afinar as Rezas (2016), Catarina (2019), e neste ano, o especial Trinta Anos. Para Moriel, o “afago e carinho” dos fãs da banda são a motivação para estarem vivendo esse momento juntos, que é comemorado com novas músicas, entre elas, Saiu da Vida Torta, que já é tocada em alguns shows.
Chico Martins revela que pensa sobre a banda Rolling Stones, que tem 60 anos de carreira, e “não precisaria mais fazer shows”. Para ele, a banda britânica e o Dazaranha têm a mesma vontade em comum: de continuar com a música. Ele diz que não imagina ficar sem a experiência, desde subir no ônibus para ir a shows até conversar com os fãs. Além disso, Chico revela que a música que ele mais se impressiona de como atinge o público que acompanha eles é Afinar As Rezas.
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Integrante que ainda debuta na banda, o baterista JC Basañez, afirma que aprende todos os dias com os colegas e amigos. Para ele, o Dazaranha é uma grande prova de amor pela música, pela arte, principalmente em Santa Catarina.
— Esses dias estava conversando com eles sobre as limitações que o nosso Estado tem para fazer uma banda crescer, né? As limitações das casas que a gente toca, das empresas. Às vezes a gente vai em cidades que não tem nem hotel para receber toda equipe, a gente acaba dando um jeito. Então, assim, uma das coisas que aprendo todo dia aqui é a resistir — afirma Basañez.
A produtora cultural Ivanna Tolotti, que trabalha em SC desde 2000 e é dona da Tum Cult, afirma que o Dazaranha é “um case de sucesso” da música autoral, e deve ser seguido. Isso porque tudo que envolve a produção musical e a cultura gera renda e resultados, inclusive no turismo.
— Eles geram empregos, renda, eleva no nome da cidade no estado e no país, movimentam a economia, setor de alimentos, bebidas, técnicos, produtores, o turismo e a cultura da nossa terra — comenta Tolotti.
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O jornalista Emerson Gasperin reitera a importância do Dazaranha em Santa Catarina. Ele conta que quem é de fora pode não entender, pode achar uma banda como todas outras, mas para o Estado foi algo nunca visto. “Eles mostraram que sim dá para viver, fazer carreira, fazer sucesso com musica autoral em SC”, reitera Gasperin.
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Mesmo com tanto tempo de estrada, o Dazaranha parece continuar no mesmo ritmo que sempre esteve: alegre, alto astral e fazendo muitos shows. Eles chegam a fazer três apresentações por dia, durante o verão, e rodam pelas mais diversas cidades do interior de Santa Catarina, até festivais em outros estados.
Como um marco para mostrar que continuam se renovando, eles lançam, neste mês, o álbum Trinta Anos com dez novas músicas inéditas nas plataformas de streaming. O show comemorativo da banda, neste sábado, vai unir o que é a essência e tradição do grupo com a vontade de se reinventar e continuar produzindo por muito mais tempo.
Confira playlist com as músicas mais tocadas do Dazaranha
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