Isinbayeva chorou. Não conseguiu saltar 4m80cm, muito menos do que o seu recorde de 5m5cm, estabelecido em Pequim. Não conquistou o tricampeonato olímpico, seu sonho de fim de carreira. Ficou apenas com o consolo do bronze. E chorou.
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Ao errar o último salto, em Londres, ela ergueu os braços para as arquibancadas, acenou, sorriu e, sorrindo, pulou para a pista. Mas o sorriso foi aos poucos se desfazendo e, quando Yelena Isinbayeva se encontrou com o técnico, cinco metros adiante, seus olhos verdes já estavam marejados, e as lágrimas rolaram-lhe pelo rosto dourado abaixo.
A vencedora foi a americana Jennifer Suhr, mas isso também foi uma decepção. Os ingleses no Estádio Olímpico estavam torcendo por outra atleta, a cubana Yarisley Silva, uma negra retaca que começou saltando com energia febril, e assim conquistou o público. Quando ela ia saltar, as arquibancadas fremiam. Yarisley comandava a torcida levantando os braços e batendo palmas. A maioria dos 80 mil torcedores do Estádio Olímpico queria que ela ganhasse o ouro. Não ganhou. Levou a prata.
Por que tanta desilusão?
Teria sido o vento, que dias atrás atrapalhou Fabiana Murer? Teria sido o frio de 17ºC e a chuva rala do verão inglês, que molhava as varas das saltadoras? Teria sido alguma influência transcendental, como a presença de Mick Jagger no estádio? Ou tudo junto? Ou nada disso?
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O fato é que a noite foi estranha na arena do atletismo de Londres. Até porque a maior emoção do público foi movida por um personagem inusitado. Félix Sanchez, da República Dominicana, superou os favoritos norte-americanos e conquistou o ouro nos 400 metros com barreira. Quando ele fez a volta olímpica, ninguém prestou muita atenção. Félix corria sozinho, feliz, feliz, e abanava para as arquibancadas, enquanto todos olhavam para Isinbayeva, que ia saltar novamente.
Alguns minutos depois, porém, foi realizada a cerimônia de premiação. Antes de subir no degrau mais alto do pódio, Félix já chorava. Seu pranto emocionou os torcedores. Olharam para ele, enfim. Começaram a aplaudi-lo. Félix então subiu no pódio, fungando. A medalha foi-lhe pendurada no pescoço. Seu peito arfava. O hino da República Dominicana ecoou. E aí ele se desmanchou. Soluçava sem conseguir se conter. Foi uma ovação ainda maior do que a que saudou a medalha de ouro recebida por Usain Bolt, meia hora antes. Os flashes espocavam no Estádio Olímpico, as pessoas aplaudiam, gritavam, assobiavam, elevavam um desconhecido atleta de uma república do Terceiro Mundo a herói olímpico.
O choro de Félix Sanchez salvou a noite. Compensou o choro triste de Isinbayeva. E mostrou que a beleza e a grandeza, às vezes, podem vir de onde menos se espera.