Dois décimos de segundo é menos tempo do que você leva para dizer “dois décimos de segundo”. Mas é o suficiente para fazer com que um nadador dos 50 metros livre deixe de ganhar a medalha de ouro para ficar com o nem sempre suficiente consolo da de bronze, como aconteceu com Cesar Cielo, ontem à noite (meio da tarde aí no Brasil), no Centro Aquático de Londres.
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Cielo fez os 50m em 21s59 (pior do que seu desempenho na semifinal, 21s54); o campeão, o francês Florent Manaudou, em 21s34; o medalha de prata, o americano Cullen Jones, em 21s54; e o outro brasileiro na piscina, Bruno Fratus, chegou em quarto, com 21s61.
Do primeiro para o terceiro, dois décimos e meio, mais precisamente. Uma piscadela. Um estalar de dedos. E uma grande decepção. Que Cielo não admitiu estar sentindo, logo que saiu da piscina, nas entrevistas da zona mista.
– Não estou decepcionado porque fiz o meu melhor – disse. – O francês fez a prova da vida dele, eu fiquei só dois décimos abaixo do meu melhor tempo (sem contar o recorde mundial, 20s91, estabelecido na época dos supermaiôs, hoje, proibidos). E ganhei uma medalha olímpica, poucos atletas podem dizer que têm três medalhas olímpicas na carreira.
Talvez Cielo estivesse tentando se convencer de que o resultado não foi ruim, mas sua expressão não dizia isso. Ao contrário dos 100m, na quarta-feira, em que chegou em sexto e saiu sorridente, ontem ele não conseguia disfarçar a tristeza.
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Um minuto depois de garantir que sentia orgulho da sua conquista, já começou a avaliar o que deu errado. Observou que suas pernas “não estão respondendo” da forma como está acostumado. Por quê?
– Por cansaço – respondeu. – Talvez seja um erro ter disputado os 100m. Talvez eu devesse ter me preservado para os 50m. Agora estou me sentindo meio gasto, meio limado.
Em seguida, Cielo voltou a ressaltar a importância da medalha de bronze, mas, em novo refluxo, admitiu que, em comparação com o ouro de Pequim, essa era uma medalha “sem sentimento”.
Havia sentimento. Cielo não queria demonstrar, mas havia. E o sentimento explodiu depois que ele subiu no degrau mais baixo do pódio, recebeu a medalha do presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, e ouviu a Marselhesa em homenagem ao seu rival francês.
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Cielo desceu do pódio, com a medalha pendurada no pescoço, e foi passando pelas arquibancadas, onde estava sua namorada Priscila Machado, miss Brasil e (ela também) terceira colocada no Miss Universo. Em seguida, encontrou-se com a mãe, estendeu-lhe um buquê de flores e caiu no pranto. Então, admitiu:
– Estou um pouco decepcionado, sim. Vou ter que voltar a treinar e pensar como vou ganhar desse francês no ano que vem.
Ou seja: Cielo já está tentando aprender com a derrota. Que, apesar de ter sido só por dois décimos e meio de segundo, foi, inequivocamente, uma derrota.