Era um desses botecos bem cariocas, um lugar em que se come relativamente barato e se bebe chope de pé, com o cotovelo fincado no balcão. Havia uma TV pendurada no teto. Na tela, imagens dos protestos pelo país.
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– Contra o que eles protestam mesmo? – perguntou uma mulher com o cabelo preso em rabo de cavalo, sentada a uma mesinha com um casal.
– Contra o preço da passagem de ônibus – esclareceu um homem muito magro na mesa ao lado.
– Não é mais isso – retrucou um sujeito de uns 60 anos que bebia com o magro. – Começou com isso, mas agora é contra o custo de vida e o salário. E contra a Copa. E contra a Fifa. E contra os políticos também. Todos os políticos.
– Mas isso só pode ser coisa de político – deduziu o homem que estava com a amiga da mulher com rabo de cavalo. – Só pode ser algo planejado pela oposição. É contra o PT. Contra a Dilma.
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– Se fosse o Lula eles não faziam essas coisas – supôs a mulher que o acompanhava.
– Claro que faziam – rebateu o homem de 60 anos.
– Eles antes só queriam saber de balada e de gastar o dinheiro do papai, agora eles querem protestar, estão gostando de protestar. Nós, na idade dele, fazíamos protesto contra a ditadura.
– Mas eles protestam contra o que mesmo? – voltou a perguntar a mulher de rabo de cavalo.
– Eles protestam porque é bom reclamar – gritou um que estava encostado no balcão.
E todos balançaram as cabeças concordando: é bom reclamar.
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