As chances de vitória de César Cielo, quando pela primeira vez ele se atirar na piscina do Centro Aquático de Londres, hoje à tarde, serão tão maiores quanto a sua capacidade de não se deixar impressionar pelo ambiente.

Continua depois da publicidade

Cielo trouxe o ouro olímpico do Cubo d’Água, de Pequim, um ginásio que parecia ter saído do desenho dos Jetsons, eleito por uma revista de ciência norte-americana como uma das 100 maiores obras de ciência e tecnologia do mundo. Mas, hoje, Cielo terá de nadar no acanhado Centro Aquático londrino, lugar em que a sobriedade britânica passou dos limites, transformou-se em sovinice e, de sovinice, em muquiranagem.

O prédio foi concebido pela bem conhecida e recomendada arquiteta iraquiana Zaha Hadid. Ao projetá-lo, ela anunciou que havia se inspirado “na geometria fluida das águas em movimento”. De fato, visto de cima o teto parece uma onda. Mas em geral as pessoas não olham os prédios de cima e, do lado de baixo e do lado de dentro, o prédio é muito feio. Não passa de um caixote improvisado, com andaimes e canos expostos, paredes de material pré-fabricado e acomodações provisórias. E o pior: é desconfortável.

A ideia da onda parecia muito revolucionária, mas o resultado prático foi tornar uma parte do teto mais baixa do que outras. Assim, as pessoas que estão sentadas nas arquibancadas altas do ginásio ficam com a visão obstruída pelo teto. Há pontos cegos em diversas partes das cadeiras.

O erro dos ingleses foi o exagero na economia, na sustentabilidade e no reaproveitamento do material empregado na construção. Eles querem que, depois da Olimpíada, o Centro Aquático se transforme em centro comunitário de Stratford. Então, fizeram o ginásio para abrigar 2.500 pessoas e aumentaram-no com “puxadinhos” para uma capacidade de 17.500 pessoas. Sete vezes mais! Não podia ficar bom. Não ficou.

Continua depois da publicidade

Os 324 milhões de euros gastos no edifício acabaram, de certa forma, desperdiçados, porque ninguém ficou satisfeito com o resultado. Nos primeiros dias de provas, as pessoas reclamavam da péssima visibilidade e, sobretudo, do esforço para subir as íngremes arquibancadas provisórias. No domingo, um senhor de cabelos brancos parava a cada degrau e, para prosseguir na escalada, tinha de ser empurrado nas costas pela filha. Diante das queixas, os voluntários pediam desculpas constrangidas. Fazer o quê?

Claro, César Cielo não estará vendo nada disso, quando estiver lá embaixo, na piscina. Lá, ele deverá estar focado no seu meio, a água. E, na água, quem pode fazer bonito é ele.