Num dos intervalos das quartas de final do basquete masculino, vencida pela Argentina por 82 a 77, ontem, na North Greenwich Arena, em Londres, o animador do público tomou do microfone e anunciou: quem aparecesse no telão teria de beijar a pessoa que estivesse sentada a seu lado. Os torcedores adoraram a ideia. Eram focados pela câmera e beijavam alegremente. Beijavam e beijavam e beijavam. E beijavam.
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Era esse o clima idealizado pelos britânicos para a decisão de ontem. Só que, frente a frente, estavam eles, os velhos inimigos: Brasil e Argentina. Como aplacar as tensões de uma partida entre vizinhos que são rivais eternos? Impossível. A partida foi, como se esperava, nervosa, trepidante, disputada até o fim. E decepcionante para o Brasil.
Os britânicos bem que tentaram. Entre um quarto e outro, as luzes do ginásio foram apagadas e um grupo de acrobatas entrou em quadra para fazer brincadeiras com camas elásticas e bolas de basquete. Mais uma pausa, e quatro garotos da torcida foram escolhidos para tentar acertar arremessos na quadra. Tudo muito divertido. E, de fato, quem não era brasileiro nem argentino parecia se divertir bastante. Alguns britânicos saíram em meio ao jogo para beber pints nos bares do lado de fora; três atletas da Croácia foram e voltaram três vezes para algum lugar, até finalmente irem para não voltar mais; toda uma ala do ginásio desviou os olhos da quadra para os jogadores de basquete da seleção norte-americana que entraram gingando no ginásio, todos com as orelhas tapadas por enormes fones. Os torcedores se ergueram de suas cadeiras, usaram seus celulares para tirar fotos dos gigantescos americanos e estenderam as mãos para que os jogadores os cumprimentassem com tapinhas.
Realmente, era divertido.
Mas não para brasileiros e argentinos. Espalhados em grupos amarelos e azuis pelas arquibancadas, os torcedores das duas seleções esforçaram-se para incentivar os jogadores. No começo, parecia haver mais brasileiros. Eles cantavam olê, olê, olá, Brasil, Brasil, e vaiavam sempre que os argentinos se manifestavam. Tudo bem até o primeiro quarto, quando o Brasil fez 26 a 23. Mas logo a seleção hermana reagiu, emparelhou o jogo. E virou. No momento em que o placar mostrou 32 a 30 para os argentinos, os conhecidos cânticos em espanhol ecoaram pelo ginásio:
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– Vamos, vamos, Argentina! Vamos, vamos, a ganhar!
Os brasileiros bem que tentaram responder, e até emocionaram um torcedor britânico, que, solitário e solidário, levantou-se e gritou:
– Lets go, Brasil! Lets go, Brasil!
O Brasil foi. E foi. E foi. Chegou a ficar a três pontos do empate. Mas no fim os argentinos venceram. Nas arquibancadas, os torcedores tiravam as camisas azuis (isso quando não estavam, um de Boca Juniors, o outro de River Plate, abraçados), cantavam, pulavam. Os brasileiros saíam cabisbaixos. Tinham de escoar de trem pelos subterrâneos de Londres de volta para seus hotéis, tristes, sentindo, realmente, como se estivessem sob a terra.