A Daspu, grife de prostitutas criada e mantida pela ONG carioca Davida, fez um desfile cheio de looks modernos, muita sensualidade e também diversão nesta quinta-feira, em Florianópolis. A nova coleção foi para a passarela durante o 7º Congresso Brasileiro de Prevenção das DSTs e Aids, realizado no Centrosul.

Continua depois da publicidade

Na passarela, em vez de modelos magérrimas, mulheres encorpadas, que não escondem o excesso de gordurinha na barriga e assumem-se como profissionais do sexo.

Jane Eloy surge às 18h44min. Sorriso estampado, dona de si, à espera dos aplausos que vêm sem preguiça. Ela é a primeira prostituta a tomar o piso vermelho montado para o desfile da Daspu. Posa para os fotógrafos e, quando vira-se para retornar ao backstage, lê-se no seu microvestido na altura que cobre o bumbum a frase: Meu Botão é Mais Embaixo.A mensagem anuncia que o desfile tem boa dose de diversão.

Segue-se a Jane outras mulheres da vida, intercaladas com homens e com cinco simpatizantes da ONG Davida. Elas distribuem camisinhas femininas e masculinas, encenam pequenos jogos de sedução e carregam uma espada, que representa a batalha, o espírito guerreiro das prostitutas.

A coleção, As Cruzadas – Entre o Botão e a Espada, é a primeira criada em parceria com estudantes de design de moda. Por isso, é considerada mais estruturada com tabela de cores e conceito firmado.

Continua depois da publicidade

Os 31 modelos fizeram duas entradas na passarela, diante de um público que sempre pedia mais. O desfile terminou às 18h59min, com Jane, principal modelo da grife, puxando as meninas. Ao fundo, ouvia-se a música das donas da rua e nesta quinta-feira da passarela: “Daspu é uma puta parada. Daspu é uma parada de puta”.

Braço financeiro e de reconhecimento

A Daspu foi criada em 2005 a partir dos pensamentos de Gabriela Leite, diretora da ONG Davida (que mantém projetos para a prostitutas no Rio de Janeiro), profissional do sexo por 15 anos e hoje prostituta de coração (ela não gosta que a chamem de ex-prostituta).

A grife foi idealizada para ser o braço financeiro da ONG, mas por enquanto não a sustenta totalmente. Também é um manifesto:

– Quando se vê alguém vestido de uma maneira sensual, é comum dizer que a pessoa parece uma puta. Então quer dizer que a gente faz moda. A grife também é um jeito de quebrar esse preconceito – explica Gabriela.

Continua depois da publicidade

Por que Daspu?

O nome Daspu foi escolhido a partir da luxuosa boutique paulista Daslu, cuja a dona, em 2005, era processada por lavagem de dinheiro. A Daslu chegou a intimar a Daspu a não usar mais o nome, mas a briga só deu mais força à nova marca. Bety Lago, Supla e Marisa Orth já desfilaram para a Daspu, que organiza seus desfiles sempre no circuito paralelo às duas principais semanas de moda do Brasil: São Paulo Fashion Week e Fashion Rio.

As peças

Vestidos, camisetas com frase criativas e inteligentes, shortinhos e saias são as principais peças da grife. Elas podem ser compradas pelo site www.daspu.com.br ou em lojas de multimarcas no Rio de Janeiro e em São Paulo. As peças custam entre R$ 30 e R$ 50.